skipToMain
ASSINAR
LOJA ONLINE
SIGA-NOS
Guimarães
26 abril 2024
tempo
18˚C
Nuvens dispersas
Min: 17
Max: 19
20,376 km/h

Penedo dos Aviadores.A obra de alguém “empenhadíssimo na Penha” faz 95 anos

Pedro C. Esteves
Cultura \ sexta-feira, junho 17, 2022
© Direitos reservados
“Marco associado a outro marco”, a inauguração da escultura em homenagem a Gago Coutinho e Sacadura Cabral da autoria de José Luís de Pina está indiretamente ligada à construção do Santuário.

“A Penha como a conhecemos hoje é fruto de momentos que se interligam”. Roriz Mendes fala a propósito da escultura que homenageia o engenho dos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, localizada nas imediações do Santuário e inaugurada há 95 anos. A obra continua a ser um dos principais atrativos do Monte de Santa Catarina. Tanto assim é que atira, num gracejo, o juiz da Irmandade, que a Kodak “deve imensamente royalties à Penha” de tantos rolos fotográficos que acabaram por ser gastos a tentar capturar a escultura imponente, obra do vimaranense José Luís de Pina.

A história deste monumento inaugurado em pleno 2.º Congresso Eucarístico Nacional – realizado em Guimarães em 1927 – é indissociável do santuário tal como o conhecemos, explica o juiz da Irmandade de Nossa Senhora do Carmo da Penha. Como? Vamos por partes. Cinco anos depois da primeira travessia entre a Europa (Lisboa) e a América do Sul (Rio de Janeiro), um marco importante na aviação mundial, os homens “mais importantes de Guimarães” – entre eles José Luís de Pina – decidiram fazer um monumento, “uma escultura naquele penedo”. Ora, a inauguração acabaria por ser “um marco associado a outro marco”: o congresso. E dele saíram boas notícias para Guimarães.

“O saldo final da 2.ª Congresso Eucarístico, cujo monumento é o marco, levou os homens da época a decidir que a Penha tinha de fazer um santuário. Que é o que temos e que faz 75 anos em setembro. No fundo, sobrou dinheiro”, refere Roriz Mendes. Depois de duas tentativas frustradas – um dos projetos foi demolido e outro não chegou a sair do papel – “aquele pequeno saldo serviu para encomendar o projeto da construção do atual Santuário da Penha”. Inaugurado em 1947, o edificado é um exemplar da arquitetura religiosa do portuense Marques da Silva, obreiro de locais emblemáticos da cidade como a sede da Sociedade Martins Sarmento ou o Mercado Municipal.

Já o Penedo dos Aviadores seria inaugurado em 12 de Junho de 1927, 20 anos antes de Guimarães ver edificada o seu maior símbolo de fé. “Na circunstância”, recorda o professor Álvaro Manuel Nunes, “A.L. Carvalho explicaria o monumento, a Banda de Música dos Bombeiros Voluntários de Guimarães tocaria sons festivos, sendo ainda assinado um “auto de inauguração”.

José Luís de Pina, da centralidade urbana ao labirinto

A escultura na qual sobressai uma águia com o bico apontado para Brasil é obra de um homem “importantíssimo”. José Luís de Pina viveu entre 1874 e 1960, tendo contribuído para a “centralidade urbana de Guimarães”, seria diretor da Sociedade Martins Sarmento, esteve ligado às Nicolinas e Gualterianas.

Roriz Mendes, que tem levado a cabo um trabalho de reconstrução e organização do acervo histórico da Irmandade, lembra um “homem empenhadíssimo na Penha” e nos seus caminhos labirínticos.

Aquando da inauguração da escultura, “as árvores eram muito tenras”, quase que não havia vegetação – a plantação começa em 1909. O juiz da Irmandade da Penha lembra este pormenor para reforçar o caráter fulcral do vimaranense nascido na Rua Paio Galvão: “José Luís de Pina é mestre e, tal como muitos homens da altura, plantou as árvores e não se deitou à sombra”. Roriz Mendes compara mesmo o trabalho desempenhado pelo vimaranense na Penha com o de Parque Güell, gizado pelo arquiteto Antoni Gaudí

100: uma data redonda

No tramo entre o santuário e o hotel, no Penedo dos Aviadores lê-se: “Guimarães, aos Aviadores! A Gago Coutinho e Sacadura Cabral.1922.” Fica para a posteridade a homenagem a uma viagem atribulada, onde foram utilizadas três aeronaves. Depois de percorridas 4527 milhas em 62 horas e 26 minutos, os heroicos oficiais foram recebidos em festa pela população do Rio de Janeiro, a 17 de junho de 1922.

Podcast Jornal de Guimarães
Episódio mais recente: