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O Urgezes Circular "repara e valoriza". Pelo meio, conserta guarda-chuvas

Pedro C. Esteves
Sociedade \ terça-feira, novembro 23, 2021
© Direitos reservados
Projeto da Junta local e do Laboratório da Paisagem dinamizou sessão de reparação de guarda-chuvas. Noções de economia circular que prolongam a vida de produtos são transmitidas de perto à comunidade.

José Manuel Araújo espalhou pela mesa pardacenta e com marcas de uso da antiga escola primária de Urgezes uma série de ferramentas. São 19h00 e um aquecedor reconforta quem se escapou à noite fria outonal para testemunhar um mestre do ofício mostrar, de forma prática, como um conceito – o de economia circular – também pode aproximar pessoas. É que os alicates, martelo, faca, arame e chave de fendas que José trouxe para a sala da Associação Vaca Negra serão protagonistas de uma sessão de reparação de guarda-chuvas.

O que aconteceu na noite de segunda-feira em Urgezes é apenas uma das ações que têm tido epicentro na freguesia vimaranense sob a égide do Urgezes Circular, um projeto desenvolvido pela Junta de Freguesia local e pelo Laboratório da Paisagem, financiado pelo Fundo Ambiental. Qual o objetivo? Nuno Silva explica: “Tentar sensibilizar as pessoas e chamar a atenção para práticas que podem não ser as mais corretas. Com uma abordagem centrada na reparação, reciclagem e valorização queremos dar nova vida a produtos que estavam no final do ciclo de vida”.

O investigador do Laboratório da Paisagem responsável pela área da Economia Circular recorda que já passaram pelas salas da Vaca Negra outras oficinas com vista a “prolongar ao máximo o tempo de vida útil de determinados produtos” – incursões pelas impressões 3D, montagens de embalagens naturais e reutilizáveis para alimentos são alguns exemplos.

 

Dar um novo final a uma história

E há sempre a preocupação de atrair públicos distintos. Na semana em que Guimarães assinala a Semana Europeia da Prevenção de Resíduos 2021 (20 a 28 de novembro), o Urgezes Circular também chega às escolas – juntamente com projetos como o Restore (CERCIGUI), Consigo ou Bekoffee – e “idealmente” até pode estender-se a outras freguesias do concelho.

Em Urgezes, a comunidade tem aprendido que “é possível reutilizar coisas que às vezes parecem insignificantes”, salienta o presidente da Junta de Freguesia, Luís Abreu. O autarca também marcou presença na sessão e pode ver bem de perto um homem “da casa” a trabalhar para reutilizar. O José Manuel é de Urgezes, o avô dele era guarda-soleiro. Trouxe um guarda-chuva que já foi reparado três vezes”, explica.

Dentro da sala ampla da Associação Vaca Negra os olhos estavam postos na mãos calejadas de José que, com desenvoltura, metiam-se de permeio nas varas de um guarda-chuva vermelho. “Com um simples arame podemos recuperar um guarda-chuva que está em fim de linha. Com pouco dinheiro, com o que temos em casa, podemos recuperar um objeto e dar-lhe nova finalidade”, frisava Luís Abreu.

 

 

O guarda-chuva trabalhado por José Manuel é exemplo de um final diferente, um exemplo que contraria um desfecho recalcado: se uma vareta partiu, não foi para o entulho; foi reparado. No decorrer da “aula”, o mestre do ofício explicava: “É muito fácil reparar um guarda-chuva, mas os mais modernos já não são tão fáceis para consertar”.

E agora partem-se mais facilmente. “De algodão passou para nylon, antes, como demorava a secar, os guarda-chuvas eram pesados, as varas eram mais fortes, eram feitos de ferro redondo, mais grosso, para aguentar o peso do pano encharcado”, indicou.

 

Um armazém, uma loja social e uma rotunda (para circular)

 

A poucos metros de onde aprendizes na arte do conserto estão reunidos também há marca do Urgezes Circular. Até porque a ideia é que, como explica Nuno Silva, “o projeto não termine no final da candidatura” – a 30 novembro – e que as “ações se prolonguem no tempo e a atividade possa prolongar”. O investigador referia-se a pelo menos três intervenções: um armazém perto do complexo desportivo onde se possam deixar objetos para conserto – promove-se assim uma circularidade e não uma linearidade de consumo; uma “revitalização” da loja social – que “entrega produtos em segunda mão a pessoas carenciadas e é também um bom exemplo de economia circular”, pontua –; e uma instalação artística com produtos “resultantes de empresas têxtil, mobiliário e serralharia”.

A reutilização e valorização vão continuar a ser foco no decorrer desta semana. No âmbito da Semana a 26 novembro, pelas 14h00, a Junta de Freguesia de Urgezes acolhe uma oficina de Impressão 3D. Antes, no dia 24, André Silva, Margarida Soares e Nádia Valério, do CVR – Centro para a Valorização de Resíduos explicam como “Ser mais sustentável em 30 minutos” num workshop online; dia 26, a palestra “Comunidades Circulares” passa pelo Laboratório da Paisagem.

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