Ópera: Vila Flor acolhe segundo de quatro capítulos sobre as Constituições
Depois da estreia em Setúbal, a ópera “A conspiração da igualdade” sobe ao palco do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) na próxima sexta-feira, a partir das 21h30. Segundo capítulo de uma tetralogia financiada pela Direção-Geral das Artes, que perfaz a quinta edição do Festival de Canto Lírico de Guimarães, o espetáculo com música de António Vitorino d’Almeida, encenação de Jorge Salgueiro e libretto de Francisco Teixeira gravita em torno da Constituição de 1911, elaborada e aprovada na sequência da Implantação da República.
A abordagem a esse período da história de Portugal centra-se em Carolina Beatriz Ângelo, primeira mulher portuguesa a votar, em 1911, e referência na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas. Essa luta pelo direito das mulheres ao voto traduz-se num romance ficcionado, que não existiu historicamente, com Luz de Almeida, republicano e fundador da Carbonária, organização secreta e armada ligada à Implantação da República.
“Luz de Almeida fica dividido entre o amor por Carolina e o compromisso com a loja maçónica, com os republicanos machistas. Carolina, entretanto, também se apaixona por ele. Há um conflito amoroso e político”, adiantou ao Jornal de Guimarães o autor do libretto.
Depois da promessa de voto à Liga Portuguesa das Mulheres Republicanas pelo diretório do Partido Republicano Português, a Constituição viria a ser aprovada sem esse direito especificamente inscrito para as mulheres. Face à morte do marido, Januário Gonçalves Barreto, Carolina Beatriz Ângelo foi votar nas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, em 28 de maio de 1911, sob a condição de ser maior de idade, saber ler e escrever e ser chefe de família.
A comissão recenseadora rejeitou-lhe o direito a votar e o ministro interino da Administração Interna, António de Almeida, indeferiu-lhe o voto, mas o juiz de instrução para quem recorreu posteriormente, João Baptista de Castro, deu-lhe razão. Médica obstetra, Carolina Beatriz Ângelo foi então votar “sob o apupo das pessoas presentes, particularmente dos homens”, e o direito ao voto seria interdito às mulheres na lei eleitoral de 1913.
O custo unitário dos bilhetes é de 7,50 euros. Segundo a Bilheteira Online, há 403 ingressos vendidos e 323 lugares disponíveis no Grande Auditório Francisca Abreu.
O projeto da Associação Setúbal Voz, da Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense e da Companhia de Ópera de Setúbal começou com “Mautempo em Portugal”, ópera relativa à Constituição de 1822, na alvorada do liberalismo em Portugal, estreada em Setúbal em 07 de julho e com passagem por Guimarães em 22 de julho. A tetralogia operática prossegue em 2024, com “A evolução dos cravos”, a propósito da Constituição democrática de 1976, e “2030 – a nova ordem”, referente a uma constituição racista e xenófoba, à qual os criadores se opõem. Em Guimarães, esses espetáculos estão agendados para 18 de maio e 14 de dezembro.