Os mais novos Pergunta(m) ao Tempo: comunidade pode ver na Casa da Memória
“Em Creixomil há uma grande festa e para a procissão fazem-se tapetes de flores”, explica Pedro, apontando para as criações artísticas realizadas pelos alunos da Escola do Alto da Bandeira. Pelo meio, fala da lenda de Nossa Senhora da Luz, transmitindo-a aos meninos do Motelo (Fermentões) e de São Cristóvão de Selho. “Não foi preciso vir o ChatGPT”, atira Adelina Pinto. A vereadora da educação acompanha a sessão de apresentação da 7.ª edição do Pergunta ao Tempo. “Nós há muito pomos o aluno no centro da pergunta e a fazer as perguntas”, destaca.
Pedro faz parte das dezenas de crianças do 4.º ano que participaram nesta iniciativa que mistura arte, conhecimento, proximidade e território. Cada uma das 14 turmas é desafiada a criar objetos artísticos para traçar a identidade da sua freguesia. “O Pergunta ao Tempo tem já uma história de sete anos, é um projeto que cada vez mais faz um caminho na construção de objetos artísticos sobre o património de Guimarães, com especial atenção a cada uma das freguesias onde estas escolas estão circunscritas”, introduz Marta Silva, a coordenadora do projeto.
É a cicerone da visita à Casa da Memória de Guimarães, a meias com os mais novos: indica a rota a seguir, dá uma ou outra explicação, mas pede aos alunos para serem eles próprios a explicarem os seus trabalhos. Num equipamento de referência, entre o percurso museológico sobressai a histórica contada através da arte juvenil. “Os trabalhos ficam cá durante todo o verão em exposição, até ao início do próximo ano letivo”, altura em que tudo começa de novo. Para Marta Silva, esta sétima edição é “muito especial”. “Temos cada vez mais o pendor artístico, mas está também patente a investigação, o conhecimento histórico que leva à criação”, sustenta.
“É basilar que percebam desde cedo que estes equipamentos são deles”
Pelo serpentear nos corredores da Casa da Memória, a vereadora da educação vê neste projeto três pilares de “grande importância” para a formação dos jovens alunos vimaranenses. O primeiro é o “conhecimento do território”, diz ao Jornal de Guimarães. “É importante que as crianças conheçam o território; está aqui a memória da cidade e queremos que a consigam aprender de forma lúdica”, atesta. Noutro dos alicerces do Pergunta ao Tempo, Adelina Pinto olha para a componente da “investigação” como crucial. “O facto de eles questionarem nas suas freguesias, com os pais, com os avós, aprender as tradições, formas de estar, construir a memória a partir disso é também muito importante. E o Pergunta ao Tempo é isso, fazer com que questionem as memórias”, refere a vereadora.
Por último, o terceiro fator de valorização deste projeto é o transportar dos meninos e meninas até a um equipamento cultural de referência, neste caso a Casa da Memória, expondo os seus trabalhos e habituando-os a frequentar estes espaços. “É basilar que comecem a frequentar os nossos equipamentos culturais”, atira Adelina Pinto. “Por muitos turistas que cá venham, e vêm, o primeiro objetivo são os vimaranenses, a começar pelas crianças, porque depois trazem os pais, os avós, cheios de orgulho”, complementa.
Um trabalho cujos frutos são já visíveis, conclui Marta Silva com regozijo. “Já fomos tendo sessões de trabalho com os pais a virem montar eles próprios a exposição com todo o fulgor, de máquina de furar e tudo”, reporta. “Tentamos chegar à comunidade através das crianças”, assume, numa repetição do que vai dizendo aos mais novos ao longo das visitas: “Isto só faz sentido se for visto pela comunidade: tragam a vossa família”.