skipToMain
ASSINAR
LOJA ONLINE
SIGA-NOS
Guimarães
12 março 2025
tempo
18˚C
Nuvens dispersas
Min: 17
Max: 19
20,376 km/h

“Parceiro estratégico deve permitir disputar quarto lugar na próxima época”

Redação
Desporto \ sábado, fevereiro 15, 2025
© Direitos reservados
Preocupado com o que crê ser o "mau rumo” do Vitória SC, Luís Cirilo aposta na estabilidade técnica e diretiva, para devolver no imediato o emblema preto e branco à luta pelo topo do futebol nacional.

Sócio número 586, com mais de 50 anos de filiação, Luís Cirilo Carvalho candidata-se pela primeira vez à presidência numas eleições, encabeçando a Lista A. Nome falado em sufrágios anteriores, o antigo dirigente considera “um absurdo” o número de treinadores da equipa principal de futebol desde 2022 e crê que o atual presidente e concorrente às eleições, António Miguel Cardoso, está a conduzir o Vitória SC por “um mau caminho”. Diz ter condições para devolver o Vitória à luta pelo quarto lugar a partir da próxima época e defende a contratação de um treinador que seja “autêntico manager”.



O seu nome já veio várias vezes à baila como possível candidato à presidência? Este é um objetivo antigo, mas o momento ideal para avançar surgiu agora?

Reuniram-se algumas circunstâncias que nunca se tinham reunido. Por um lado, haver disponibilidade pessoal. Por outro lado, havia a consciência de que o Vitória vai por um mau rumo, por um mau caminho. Se esse caminho não for travado o mais depressa possível, o Vitória corre sérios riscos de ter problemas muito graves num curto prazo de tempo. Juntando a disponibilidade pessoal das pessoas que estão comigo a essa consciência do estado difícil do Vitória, surgiu a candidatura. Já poderia ter surgido no passado. Em 2012, estive também muito perto. Numa assembleia geral, já muito perto do final do mandato de Emílio Macedo, antes de ele se demitir, anunciei que iria apresentar uma candidatura. Depois surgiu a possibilidade de fazer uma lista conjunta entre a minha candidatura e a do engenheiro Júlio Mendes para uma lista mais forte, e acabei por abdicar. De cada vez que há eleições no Vitória, fala-se da possibilidade de eu ser candidato. Chegou o dia. Chegou a hora.

 

Equacionou a candidatura ao longo do mandato ou a decisão de encabeçar uma lista foi tomada na reta final? Disse, na apresentação, que nunca uma lista foi constituída em tão pouco tempo.

O atual presidente ganhou as eleições em 2022 de forma clara, perante outras duas listas, a do presidente cessante e a do Alex Costa. Quando há uma vitória clara numa eleição, há duas coisas que são boas: uma é haver alternativa, a outra é haver uma vitória clara, para que não haja dúvidas e o clube não fique extremamente dividido, embora uma eleição provoque sempre divisão. Ao longo destes três anos, fui-me apercebendo de que havia um conjunto de situações em que o Vitória marcava passo ou estava a andar para trás. Conjugados esses três fatores, entendi que havia condições para apresentar uma candidatura alternativa. Não me lembro de haver eleições no primeiro dia do mês. Em 2012, na lista em que fui com Júlio Mendes, as eleições foram em 30 de março. Desta vez, as eleições foram marcadas a correr, queimando todos os prazos, dentro da mais estrita legalidade. Não ponho nenhuma suspeita sobre isso, mas não percebo a pressa de marcar as coisas tão a correr. Talvez fosse evitar candidaturas alternativas, mas, no nosso caso, não tiveram sorte. Se o objetivo era esse, falharam. Estamos aqui e vamos até ao fim.

 

“A instabilidade no futebol é a imagem de marca de António Miguel Cardoso. Se falo mais do António Miguel Cardoso, é porque concentra nele próprio todas as decisões e passa pouca bola aos colegas de direção. Por isso, também eles saem”

 

Certamente não está agradado com o mandato de António Miguel Cardoso. Quais as maiores falhas que aponta à atual gestão? Que preocupações lhe desperta?

Basta ver o que jogava a equipa com o Rui Borges e o que joga a equipa agora. A instabilidade no futebol é a imagem de marca de António Miguel Cardoso. Se falo mais do António Miguel Cardoso, é porque concentra nele próprio todas as decisões e passa pouca bola aos colegas de direção. Por isso, também eles saem. Dos quatro vice-presidentes, só um se mantém. O presidente do conselho fiscal sai. O presidente da assembleia geral sai. Saiu o vice-presidente da área financeira, saiu o diretor financeiro, que preferiu ir trabalhar para o Rio Ave. É uma debandada. No futebol, a verdade é que, em três anos, António Miguel Cardoso teve nove treinadores no Vitória. Considerando que Rui Cunha e João Aroso foram treinadores interinos em dois jogos, sobram sete. Sete treinadores em três anos é um absurdo, seja no Vitória, seja em que clube for.

 

Uma das suas maiores críticas é a quantidade de saídas verificadas neste mandato. Falou de dirigentes, de funcionários e de treinadores. Em que medida vê as inúmeras trocas de treinador como prejudicial?

Essa instabilidade está-se a pagar bem cara. Nesta época, que é a que está mais na memória dos adeptos - estamos a vivê-la -, o que acontece? O Vitória começa a época bem, é indiscutível. Faz uma carreira impoluta na Liga Conferência; em 12 jogos, 10 vitórias e dois empates. Há que reconhecer friamente que os adversários também não são do gabarito dos adversários da Liga Europa, mas faz uma carreira excelente. Começa muito bem o campeonato. Na primeira volta, fomos ganhar a Braga com clareza, com uma bela exibição, mas foi também a última vitória fora até à data. Há a rábula Rui Borges, porque há uma frase do presidente a dizer que quem quer sair sai cinco minutos antes e há a declaração do Rui Borges a dizer que nunca pediu para sair do Vitória. Há duas versões absolutamente contraditórias. Rui Borges sai, e é contratado Daniel Sousa. Embora o presidente, mais tarde, ao despedir Daniel Sousa e ao contratar Luís Freire, tenha dito que tinha Luís Freire no radar há muito tempo, eu não percebo porque não o contratou quando contratou Daniel Sousa. Despede Daniel Sousa com uma indemnização choruda. Não sei exatamente valores, mas seguramente mais de meio milhão de euros que o Daniel Sousa vai receber em indemnização. E contrata o atual treinador. Depois há a tão temida época de janeiro, em que o Vitória tem arruinado aspirações. Infelizmente, a regra tem sido descer a qualidade da equipa em vez de a subir. Assistimos à saída de sete jogadores, dos quais quatro titulares e dois ou três opções frequentes ao longo da primeira metade da época. Sete jogadores em janeiro é desfazer uma equipa. Se se juntar a isso o Jota Silva e o Ricardo Mangas, noutro negócio ruinoso, a verdade é que, desde o início da época até ao fim de janeiro, já saíram nove jogadores. A juntar a isso, há o caso do Nélson da Luz, um jogador entrosado, que conhece o nosso campeonato, um bom jogador. O empréstimo cessou em dezembro. Poderia ter regressado ao plantel sem nenhum custo, e o Vitória vendeu o seu passe por 200 mil euros, uma verba absolutamente ridícula, e foi buscar uma série de jogadores que chegaram agora e dificilmente conseguirão um rendimento imediato. Isto não é chegar, ver e vencer. Raros são os casos em que os jogadores vêm de fora e triunfam de imediato. Em suma, 10 jogadores desperdiçados, cinco contratações, um plantel em turbulência absoluta. Essa instabilidade toda deu nisso. Se se juntar as saídas dos órgãos sociais, de diretores da academia, de quadros técnicos intermédios, sem contar com jogadores, saíram mais de 100 pessoas desde o início do mandato.

 

"Encontrando o perfil certo, podemos aspirar a um treinador que superintenda todo o futebol do Vitória”

 

Admitiu que é fã de um modelo de treinadores como o de Alex Ferguson no Manchester United. Considera-o exequível para o Vitória? A presença prolongada de treinadores tem sido rara no clube. As exceções à regra são Mário Wilson e Rui Vitória. As sucessivas mudanças de treinador eram também comuns com Pimenta Machado, um ex-presidente que o apoia…

Não venho para fazer igual. Para fazer igual ou pior, basta quem está. O Vitória, nesse aspeto, tem de inovar. O Vitória deve mudar o seu paradigma em relação a essa matéria. Mário Wilson e Rui Vitória foram os treinadores que, nos últimos 60 anos, mais tempo estiveram no Vitória. Importa é que o trabalho em continuidade do Mário Wilson e o trabalho em continuidade do Rui Vitória deram frutos. Com o Mário Wilson, o Vitória não ganhou nada, mas podia ter ganhado, nomeadamente naquela época famigerada em que António Garrido nos roubou um apuramento europeu, com uma das melhores equipas de sempre do Vitória [1974/75]. O trabalho do Rui Vitória também é conhecido. É um trabalho de excelência. Um sir Alex Ferguson não anda por aí num supermercado. Só houve um. Encontrando o perfil certo, podemos aspirar a um treinador que superintenda todo o futebol do Vitória. Que seja um autêntico manager, em conjugação com um diretor desportivo e uma administração da SAD que saiba explicar aos associados que é preciso esperar para o trabalho dar resultados. Não é fazer como o atual presidente, que contratou o Daniel Sousa e, ao fim de três jogos, o despediu. O que vai pagar ao Daniel Sousa e o que ainda hoje anda a pagar ao Paulo Turra, despedido há mais de um ano, já daria para um dos pavilhões de treino que as modalidades tanto precisam. Comigo não será assim. Claro que se pode perguntar: se um treinador vem para o Vitória e tem um ano ou dois de sucesso, quem os segura? Aí, terá de haver o engenho e a arte para encontrar alguém que, acima dos valores do dinheiro, saiba pôr os valores do compromisso e do projeto acima. Em teoria, até pode ser o atual treinador se ele quiser um projeto desse género.

 

Disse que é de um tempo em que era mau ficar abaixo do quarto lugar. Se for eleito, acredita que consegue elevar o Vitória a esse patamar num mandato? O que falta ao Vitória para lá chegar?

Gostaria de, no final do mandato, ser campeão nacional, mas isso muito dificilmente seremos. Há um longo caminho a percorrer. Sou daqueles que um dia acredita que o Vitória será campeão nacional. Costumo dizer que o VSC corresponde a “vamos ser campeões”. Há outros clubes de média dimensão, nomeadamente o Sporting de Braga, que, nessa matéria, vai claramente à nossa frente. Se há 25 anos, dissessem a um miúdo de Fafe, de Ribeira de Pena, de Santo Tirso sobre se preferiam ir para o Vitória ou para o Braga, em 100, 95 quereriam ir para o Vitória. Hoje tenho dúvidas. O Braga tornou-se mais atrativo. Que o Vitória não seja apenas o quarto clube em médias de assistências e em participações na Primeira Divisão. Quero é que o Vitória seja o quarto clube em conquistas e troféus. No futebol, a formação tem de ser o principal fornecedor da equipa principal. É preciso restruturar o futebol profissional, consistência e estabilidade. Escolher bem o treinador, jogadores com o perfil certo. A minha aposta é acabar com os anos zero. Os anos zero andam a assombrar os dias e as noites desde 2015. Todos os anos são anos zero. Temos de ter um parceiro estratégico que nos permita já desde o início da próxima época subir substancialmente o nível qualitativo da equipa para disputarmos pelo menos o quarto lugar, aquele que o Vitória deve ter sempre como objetivo.

Podcast Jornal de Guimarães
Episódio mais recente: O Que Faltava #89