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Parceria entre Setúbal e Guimarães abre portas a “polo operático” no berço

Tiago Mendes Dias
Cultura \ quinta-feira, maio 02, 2024
© Direitos reservados
Associação Setúbal Voz e ASMAV frisaram que uma parceria mais aprofundada após a tetralogia operática em curso pode cimentar relação entre ópera e comunidade. Vereador lembra papel do Teatro Jordão.

As apresentações dos dois primeiros capítulos da tetralogia operática que compõe a quinta edição do Festival de Canto Lírico de Guimarães – “Mautempo em Portugal”, em 22 de julho de 2023, e “A conspiração da igualdade”, em 22 de dezembro de 2023 – atraíram um público que ocupou cerca de 80% da lotação do Grande Auditório Francisca Abreu, no Centro Cultural Vila Flor (796 lugares).

O presidente da Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense (ASMAV), Francisco Teixeira, lança estimativa semelhante para “A evolução dos cravos”, ópera a propósito da Constituição de 1976, marcada para 18 de maio, mas lembra que os espetáculos em curso ainda não têm muitos contributos vimaranenses, nem a cidade tem programação regular nesse âmbito. “Queremos começar a ter regularmente uma programação operática. Ainda não envolvemos muitas pessoas de Guimarães neste processo”, frisou o dirigente associativo, durante a conferência de imprensa de apresentação de “A evolução dos cravos”, na segunda‐feira.

Ao seu lado, o diretor artístico da Associação Setúbal Voz, Jorge Salgueiro, realçou que a parceria em curso é vantajosa para a cidade do Sado e para a cidade‐berço. A associação recebeu um apoio de 7.500 euros da Câmara Municipal de Guimarães, mas esse valor financia 95% da estadia e da alimentação dos artistas da Companhia de Ópera de Setúbal quando viajam para norte. “São 10.200 euros que ficam em Guimarães diretamente. Depois, há as despesas que esses elementos fazem. E fica em Guimarães o retorno do público com os espetáculos”, detalhou, acerca de espetáculos que têm sido estreados em Setúbal, antes da exibição no CCVF.

Setúbal também ganha, porque pode assim “fundamentar uma candidatura mais robusta à Direção‐Geral das Artes” para um novo programa bienal na área da ópera. Em caso de nova parceria, Jorge Salgueiro crê estarem abertas as portas para uma participação mais aprofundada da comunidade vimaranense. “Podemos apelar à comunidade académica e musical vimaranense para participar. A próxima parceria pode ser muito mais aprofundada na participação da comunidade. Podemos até vir a ter um polo operático em Guimarães”, referiu.

Apesar dos espetáculos pontuais de ópera em Guimarães ao longo da história, o vereador municipal para a cultura realçou que o Festival de Canto Lírico colocou de nova essa expressão artística na agenda de um território com “um projeto muito sólido” na área da música clássica, com uma mão cheia de festivais ao longo do ano, a Orquestra de Guimarães e o Quarteto de Cordas de Guimarães. Disponível para “acompanhar uma eventual candidatura à DG Artes”, Paulo Lopes Silva frisou que a comunidade académica instalada no Teatro Jordão – Conservatório de Guimarães, licenciaturas em Teatro e Artes Visuais da Universidade do Minho – dá azo a uma aposta sustentável na ópera.

 

“Mais importante do que encher salas, é criar uma comunidade”

A propósito da quantidade de público que se espera em “A evolução dos cravos”, Francisco Teixeira espera que o CCVF acolha o maior número de pessoas possível em 18 de maio, mas a prioridade é “a consolidação e a habituação” à ópera, por forma a que os espetadores apareçam de forma mais sistemática no futuro, como uma “pequena comunidade”. “Na Gulbenkian, em Lisboa, há espetadores que já têm assinaturas para todo o ano. Se outras pessoas não comprarem bilhetes na primeira hora, já não têm. Mas esses hábitos levam tempo. Não queremos que o nosso público seja mero consumidor externo. Queremos que a nossa comunidade se habitue a estes espetáculos”, salienta.

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