Parecia um sonho, mas num repente tudo virou pesadelo. Depois a saída digna
Dos cerca de quatro mil vitorianos no Estádio do Dragão, alguns certamente falharam o primeiro grande momento de festa. Ainda as vozes estavam a aquecer, quando Afonso Freitas aparece no lugar certo para encostar para o fundo das redes; eliminatória igualada, mais um golo e o Vitória SC estaria virtualmente na final da Taça de Portugal. A adrenalina e o ânimo daqueles que se propuseram a acompanhar a equipa subia aos píncaros; perante um FC Porto num momento difícil, parecia o primeiro passo para a reviravolta. De repente, todavia, jogadores e adeptos vitorianos tiveram de despertar para uma realidade bem distinta.
Seja pela reação portista, seja pelo recuo no terreno, os pupilos de Álvaro Pacheco sofreram constantemente com as investidas de Francisco Conceição e pagaram caro a incapacidade em anular o extremo: chegaram ao intervalo a perder por 2‐1 e nada puderam fazer para inverter o rumo dos acontecimentos, pese a subida de rendimento. No final, o 3‐1 somava‐se ao 1‐0 da primeira mão, em Guimarães, e atirava o FC Porto para a terceira final seguida no Jamor. Para o Vitória ainda não é desta que se quebra o jejum em vigor desde 2016/17.
Obrigado a correr atrás do prejuízo desde o primeiro apito, o conjunto de preto e branco anulou‐o em menos de um minuto. Lance de laboratório ou não, o Vitória protagonizou uma sequência de movimentos irrepreensível, a desarmar por completo as marcações azuis e brancas: Jota Silva arremessou a bola para o primeiro poste, Jorge Fernandes antecipou‐se a Wendell e cabeceou para trás, Nélson Oliveira, oportuno, desviou a bola para o outro poste e Afonso Freitas, sozinho, empurrou para o fundo das redes.
O Vitória igualava a eliminatória no primeiro acontecimento do jogo, cumprindo com sucesso a primeira tarefa planeada para esta noite. Faltava mais um degrau para virar a meia‐final a seu favor, mas pareceu sempre longe do horizonte numa primeira parte que virou pesadelo. Álvaro Pacheco viu os seus jogadores recuarem no terreno, mas sem engenho para surpreender o Vitória em contra‐ataque. Pior ainda, os ataques organizados dos anfitriões furavam o setor intermediário vitoriano com facilidade, o que permitia aos atacantes portistas aparecerem várias vezes de frente para o trio defensivo composto por Jorge Fernandes, Borevkovic e Manu Silva.
Se Jorge Fernandes à direita controlou com serenidade e mestria as investidas de Galeno e de Wendell, na esquerda Afonso Freitas e Manu Silva sentiram recorrentes calafrios perante Francisco Conceição: nem particularmente velozes, nem particularmente experientes a nível posicional para travarem o repentismo e o drible do internacional português, os lances de perigo sucederam‐se por aquele lado. A equipa sofria com as investidas contrárias, e uma saída precipitada de Charles abriu as portas para a reviravolta portista: o guardião vitoriano derrubou o extremo quando ele já tinha libertado a bola, e Artur Soares Dias assinalou grande penalidade após consultar o videoárbitro.
Charles adivinhou o lado, mas sem projeção suficiente para travar a grande penalidade de Taremi. O Vitória regressava à casa de partida, mas dessa feita sem soluções para inverter o cenário. Também castigados pelos amarelos de Artur Soares Dias, os jogadores de rei ao peito continuaram a sofrer com os ataques azuis e brancos. Nuno Santos ainda ameaçou em mais uma tentativa de lançamento lateral, mas novo castigo viria praticamente a seguir: Francisco Conceição enquadrou‐se a partir da direita e rematou cruzado para o fundo das redes. No último minuto da primeira parte, o cabeceamento falhado de Nelson Oliveira prenunciava a incapacidade vitoriana para se reaproximar no marcador, pese o melhor futebol da segunda parte.
Saída digna após 45 minutos a tentar
Com as entradas de Miguel Maga e Kaio César, o futebol ofensivo do Vitória melhorou. A ligação entre os jogadores melhorou, a fluidez com bola subiu, e as aproximações à área portista sucederam‐se. Faltava, porém, o último passe ou o último toque, pese as arrancadas de Kaio, a luta de Jota e as melhorias de Tomás Händel e de Tiago Silva no transporte.
Essa projeção no terreno teve um senão: expôs os elementos mais recuados às transições rápidas portistas. Os vitorianos ainda sobreviveram às ocasiões protagonizadas por Galeno, quase sempre anuladas por erros do brasileiro na decisão, mas nada Charles pôde fazer para travar o remate de Pepê, num lance que começou com um corte defeituoso de Borevkovic.
Com o Jamor feito miragem, o esforço atacante do Vitória não se extinguiu. Durou até ao último apito para uma saída digna.