“Pensar o passado, o presente e o futuro”: cultura perspetivada a dez anos
O Teatro Jordão foi esta terça-feira um palco simbólico para a apresentação do Plano Estratégico Municipal Cultura 2032, desenvolvido pela Câmara Municipal de Guimarães em articulação com o Observatório de Políticas de Ciência, Comunicação e Cultura da Universidade do Minho.
Tendo como mote ‘Dinâmicas Culturais de Guimarães dez anos depois da CEC’12, “este é o momento de pensar o passado, o presente e o futuro”, segundo Paulo Lopes Silva, vereador com o pelouro da cultura, que projeta um “pensamento prospetivo para os próximos dez anos”, sendo que com “a abertura do Teatro Jordão abre-se uma nova página para se pensar a cidade em diferentes dimensões”.
Este pensamento do que se espera que seja o panorama cultural e Guimarães na próxima década quer “envolver a comunidade”, sendo essa, de resto, a base do estudo que está a ser desenvolvido pelo investigador Manuel Gama. “A palavra crucial é ecossistema, a possibilidade criarmos pensamentos a partir de diversos pontos do território. Este é um projeto que não só ocupa o espaço, mas que se relaciona com o espaço publico, com as pessoas e instituições: com a comunidade”, disse Paulo Lopes Silva.
“Diagnóstico” e “fase aberta à população”, as etapas do projeto
A liderar a investigação que criará um documento para balizar o Plano Estratégico Municipal Cultura Guimarães 2032, Manuel Gama frisou que “temos de olhar para o que se pensava que íamos ser em 2022 e pensar onde queremos estar em 2032”, apresentando depois as linhas mestras do estudo que está a ser desenvolvido.
A primeira fase do projeto é de diagnóstico, desenvolvida por uma equipa de dez investigadores em que será avaliado o “impacto do investimento na cultura, não o impacto financeiro, mas outros impactos, como a relação com os públicos”. Serão avaliados parâmetro como “os públicos da cultura em Guimarães”, “estudar o grau de satisfação dos públicos” e “olhar para públicos potenciais”.
Numa segunda fase será criado “um laboratório” aberto à população, com um grupo base de dez pessoas. “Este documento, a que chamamos versão zero, não é desenhado pelo observatório, é um documento que será feito por Guimarães e pelas pessoas de Guimarães”, pontuou.
“O resgate do futuro”, “ecossistema contemporâneo” e aproximar equipamentos: a voz d’A Oficina
Tendo, obviamente, A Oficina como grande player deste plano estratégico, os principais espaços da cooperativa municipal – Centro Cultural Vila Flor, Centro Internacional das Artes José de Guimarães e Casa da Memória - estão no epicentro do plano, sendo por isso parte a ter em conta.
Rui Torrinha, programador do Centro CCVF, considera este plano um “resgate do futuro”: “Ter um plano de dez anos é qualquer coisa de fantástico num mundo de vertigem”. A ambição passa por ter “formação permanente da comunidade artística e expandir esse olhar a nível nacional e internacional”.
Já Marta Mestre, curadora do CIAJG, sustentou que “é importante caminhar nos próximos dez anos respaldados naquilo que é um plano”, considerando que “estamos no menos zero, a continuar o que está para trás”. A curadora diz que o pensamento deve ser a criação de um “ecossistema contemporâneo” em Guimarães, adiantando que o CIAJG integrará o Rede Nacional de Museus Contemporâneos.
Em representação da Casa da Memória, a diretora Catarina Pereira defende que “este plano é fundamental, até porque nos falta ouvir e dar voz a toda uma comunidade, às pessoas que vão usufruir daquilo que estamos a planear”.
Financiamento também previsto no plano
As formas de financiamento da criação cultural em Guimarães é um dos pontos desenvolvidos no plano, sendo que na sua apresentação Manuel Gama frisou que o mesmo pretende estudar formas de “criar estratégias de financiamento e implementação” das suas diretrizes. “Não adianta termos este investimento num plano, se depois não se pensar nos investimentos futuros. O pensamento estratégico tem de pensar-se como será o financiamento”, disse.
Depois de o tema ter sido debatido em reunião de câmara, Paulo Lopes Silva voltou a abordar o tema, questionado pelo Jornal de Guimarães, sustentando que “para além do investimento direto do município a diferentes instituições, A Oficina tem sido capaz de ir buscar receitas a outras instituições”.
Ainda assim, o vereador aponta outras fontes de financiamento para sustentar o projeto cultural do concelho para a próxima década. “Tal como disse, temos um diálogo em curso com o Ministério da Cultura para encontrar soluções de forma sustentada. Mas quando encontrarmos as linhas estratégicas de atividade teremos capacidade de irmos alé. Estamos muitas vezes centrados neste financiamento nacional, podemos pensar noutras ações do ponto de vista europeu e até do mecenato cultural, queremos introduzir isso na nossa dinâmica”, acrescentou.
Rui Torrinha complementou que A Oficina está “continuamente a trabalhar nos multifinanciamentos”, frisando que recentemente a cooperativa submeteu três candidaturas europeias e vai continuar a fazê-lo. “Inclusive estamos a desenhar uma candidatura em que A Oficina seja Project Leader”, concluiu.