António Lourenço rejeita medalha municipal enquanto PJ investiga hospital
A atribuição da medalha municipal de mérito a António Lourenço, médico que dirige o Serviço de Cardiologia do Hospital Senhora da Oliveira (HSO), em Guimarães, não foi votada esta quinta-feira, na reunião do executivo municipal, à semelhança do que aconteceu com os restantes cinco nomes propostos para as medalhas de mérito entregues em mais uma Sessão Solene de 24 de Junho, o designado Dia Um de Portugal.
O cardiologista pediu para não ser condecorado enquanto perdura a investigação da Polícia Judicial face a suspeitas de crimes de corrupção, participação económica em negócio e abuso de poder no Hospital Senhora da Oliveira, que envolve a Unidade de Diagnóstico e Intervenção Cardiovascular (UDIC) e a Liga de Amigos do Serviço de Cardiologia do Hospital da Senhora da Oliveira, associação à qual preside.
“Com enorme constrangimento e tristeza, dirijo-lhe estas palavras. Um dos dias mais felizes da minha vida, ao ser reconhecido pela cidade que me deu o ser, com uma atribuição de uma medalha de mérito pelo trajeto de vida na nossa cidade. Face aos acontecimentos públicos de hoje, não me sinto confortável para receber a enorme distinção da cidade de Guimarães num clima de suspeição que, infelizmente, também envolve a Liga de Amigos do Serviço de Cardiologia, da qual sou presidente por inerência do cargo, declinando nesta altura a honra desta distinção”, escreveu o médico, numa mensagem lida pelo presidente da Câmara, Domingos Bragança, durante a reunião de Câmara.
No final da reunião, Paulo Lopes Silva disse que a atribuição da medalha “não foi votada por vontade” do cardiologista, alguém que, no seu entender, continua a merecer todo “o reconhecimento de alguém que teve uma importância fundamental num investimento importante para a região e um serviço público de qualidade que se abriu para dar resposta aos vimaranenses, no caso o laboratório de hemodinâmica”.
“Muito mais do que nós, António Lourenço teve uma importância fundamental na matéria. É uma pessoa que merece todo o reconhecimento pelo que tem feito, quer no Serviço de Cardiologia do hospital quer na ligação ao Centro Médico-Desportivo”, realçou o vereador
O número três da maioria socialista vincou ainda que a Câmara vai propor de novo “a atribuição dessa medalha a António Lourenço, que “acreditamos completamente merecedor, pelo passado, pelo histórico, pelo trabalho de todos os dias”, logo que haja um “momento oportuno”.
Um dos vereadores da coligação Juntos por Guimarães (JpG), Ricardo Araújo, também disse “respeitar” a decisão de António Lourenço, considerando que, independentemente das investigações, “merece o reconhecimento” da Câmara. “Esperemos que, numa próxima oportunidade, seja possível fazê-lo”, frisou. Quanto aos restantes nomes escolhidos – António Monteiro de Castro (Mérito Social), Maria de Jesus Carvalho (Mérito Educativo), José Neves (Mérito Empresarial), António Amaro das Neves e Manuela Alcântara (Mérito Cultural), o social-democrata saudou-os enquanto “pessoas de elevada distinção”, com “trabalho que eleve o nome de Guimarães” e merece “reconhecimento”.
Investigação PJ: “Esperar que todas as dúvidas sejam esclarecidas”
O vereador do PSD comentou ainda a investigação em curso ao HSOG. No seu entender, é algo que “preocupa”, mas que também exige um desfecho para se pronunciar. Pelo meio, defendeu a criação da unidade de hemodinâmica, em funcionamento desde 29 de março de 2023. “Todos batalhamos para a sua abertura, num processo que demorou muitos mais anos do que os expectáveis. Fomos surpreendidos com a investigação e com a sua publicação. Cumpre esperar que todas as dúvidas sejam esclarecidas e que a investigação decorra normalmente”, disse.
Já o vereador socialista Paulo Lopes Silva realçou que a Câmara não tem “envolvimento direto” com a investigação e espera que “a justiça decorra de forma natural”, enaltecendo a abertura da unidade de hemodinâmica. “Há satisfação por ela estar em funcionamento. Que possa ser reforçada. É um serviço público para todos os vimaranenses”, realça.
A investigação a "suspeitas de que a instalação da UDIC, ao contrário do que foi veiculado publicamente, não tenha sido financiada por donativos da sociedade civil, mas sim por sociedades comerciais com interesses na área da saúde, as quais vieram posteriormente a celebrar contratos com a Unidade Hospitalar, no valor de aproximadamente 21.000.000 de euros, em condições bastante desfavoráveis para o erário público", informou a PJ na terça-feira.