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Quando outrora o futebol era “loucura” em campos agora abandonados

Bruno José Ferreira
Desporto \ domingo, junho 02, 2024
© Direitos reservados
Onde outrora o futebol foi desporto-rei, envolvendo comunidades, agora vislumbram-se tronos despidos. Há em Guimarães campos, que noutros tempos foram de futebol, ao abandono já vão vários anos.

São Romão, em mesão Frio, terá sido um dos pioneiros para a realização ed torneios populares. Em Sande São Lourenço e Briteiros São Salvador há dois recintos com bancadas e balneários de raiz, mas há quase duas décadas ao abandono e ao vandalismo sem qualquer utilização.  

 

Das janelas do número 134 da rua de São Romão, em Mesão Frio, já se viu azáfama, movimento, muita gente. Durante anos essa foi a realidade, que se transformou e nos últimos “talvez quinze anos” deixou fugir a vivacidade, ficando um descampado tomado pelo silvado. As torres de iluminação ainda lá estão, assim como o megafone antigo, em chapa, da instalação sonora. Um pilar segura no topo a águia, confirmando que estamos naquele que foi o Campo de Jogos do Águias de São Romão.

Numa época em que o futebol se afirmava escasseavam recintos condignos, São Romão teve um dos primeiros junto à cidade. José Martins mora precisamente em frente ao portão do campo, hoje arrombado. “Fui eu que o fiz”, atira com um acenar óbvio quando questionado sobras as recordações daquele local. “Na altura trabalhava com uma máquina e num fim-de-semana pôs-se isto pronto para se jogar. Foi uma sexta-feira, um sábado e um domingo. Era um campo de agricultura, com a máquina pus para se jogar”, diz. Em pouco tempo fizeram-se muros, “o povo da freguesia ajudou, uns com material outros com trabalho e depressa também se fizeram balneários”.

Conhecido pelos torneios aqui organizados nas décadas de setenta e oitenta, o Campo de São Romão provocava “o fim do mundo aqui”. “A rua ainda era mais estreita e com os carros por aqui fora era uma loucura. Juntava aqui muitas equipas a jogar futebol, vinha muito malta quando se organizavam os torneios”, recorda José Martins, atirando que até os juniores do Vitória SC chegaram a lá jogar. O fim do clube, “após vários anos no regional”, levou a que o campo ficasse sem uso. Entre assaltos que danificaram por completo os balneários, a vegetação apoderou-se do espaço e as balizas também deixaram de ser vistas. Um projeto imobiliário parece estar a ganha espaço neste local.

Sande São Lourenço e Briteiros, dois campos em busca de rumo

Mas, é a norte que está o exemplar maior de um campo de futebol abandonado em Guimarães. Por trás de um Monumento Nacional, o Castro Sabroso, esconde-se um campo que, construído de raiz com uma bancada coberta, pretendia ser um apoio ao Euro 2004 e casa do CCD São Lourenço nos campeonatos regionais. A seleção italiana ainda equacionou a possibilidade de lá montar o seu quartel-general para o Campeonato da Europa, mas tal acabou por não se verificar. O emblema de Sande São Lourenço ficou sem atividade ao fim de quatro anos.

“Era um dos melhores do concelho, sem dúvida alguma. Estava apetrechado com tudo acima da média”, disse António Gonçalves, vice-presidente do clube na altura, em declarações ao Jornal de Guimarães, há dois anos. O São Lourenço foi extinto e desde 2008 o campo ficou sem uso. Antes disso, a 24 de janeiro de 2004 era inaugurado o relvado natural de última geração, um investimento de 150 mil euros num tapete verde diferenciado no concelho: estava preparado com sistema de drenagem, rega e caixa própria para a instalação. Continua a impactar pela sua imponência, no interior da bancada tem diversas salas e há espaço para um campo secundário, que chegou a estar funcional com um piso pelado. As balizas desapareceram recentemente de um local que também há muito foi tomado pelo vandalismo. Pertence, atualmente, ao Berço SC num contrato de comodato.

Balizas é algo que ainda se vislumbra em São Salvador de Briteiros, em que o Campo do CRC Briteiros permanece intacto, tal como quando estava quando deixou de ser utilizado. O pelado não se vê, a vegetação ganhou terreno, mas as balizas, ainda com rede, continuam lá, assim como a vedação para o campo em pedra e ferro. Há sensivelmente 15 anos deixou de ser utilizado, apesar de ter balneários, túnel de acesso ao campo e instalações com várias valências, hoje ao serviço da petanca.

Exemplos, que não são casos únicos, de locais no concelho em que outrora o futebol fluiu, mas hoje estão abandonados.

 

Campo de São Romão, Mesão Frio

Em três dias terraplanou-se o espaço e arranjou-se um local em Mesão Frio, São Romão, para se jogar futebol. Os torneios lá organizados nas décadas de 70 e 80 foram um marco para uma geração, mas o espaço exíguo, encostado à Escola Básica, deixou de ter usufruto. As máquinas em movimento fazem antever uma nova vida para este espaço.

 

Campo de São Lourenço

Infraestrutura de proa, que se perspetivava pudesse ser usada como suporte para o Euro 2004, apenas foi usada entre esse ano e 2008. De lá para cá está ao sabor do vandalismo e da vegetação, que vai escondendo ao de leve a bancada imponente que albergava, debaixo, várias valências.

 

Campo do CRC Briteiros

Vigas de pedra sustentam os ferros que, a toda à volta do outrora terreno de jogo, servem de vedação. O túnel de acesso aos balneários continua lá, com o espaço de pista a fazer a separação para a bancada. O Campo co CRC Briteiros continua com a mesma configuração. A estrutura de balneários está ao serviço da petanca, preservando-se o local.

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