Regresso do Jordão: O espaço que foi inovação há 80 anos está de volta
“Fui de fraque e houve um grande banquete nos corredores do teatro”, recorda. “A minha preocupação era ir à mesa do banquete e retirar chocolates para meter nos bolsos do colete. Esborrachei aquilo tudo e fiquei com a roupa toda chocolatada”.
Palco de inúmeras peças de teatro, sessões de cinema e iniciativas do tecido associativo vimaranense até 1993, aquele icónico edifício está prestes a ser devolvido à cidade. E não será mais o mesmo. Após a inauguração, prevista para agosto, a sala do Jordão vai passar a ter 400 em vez dos originais 1200 lugares. E os corredores darão acesso às salas de aula da escola de música da Sociedade Musical de Guimarães, bem como às dos cursos de Artes Performativas e Artes Visuais da Universidade do Minho. É esse o fim a que se propõe a obra de 11,5 milhões de euros.
Responsável pela Empresa Jordão entre as décadas de 60 e de 90, Belmiro gostaria que a traça original fosse mantida, pela referência que constituiu ao longo do século XX, já que permitiu a Guimarães ser uma das únicas quatro cidades que, a certa altura, pôde acolher espetáculos de revista ou de ópera; as outras eram Lisboa, Coimbra e Porto.
Para o antigo responsável pelo Teatro Jordão, faria mais sentido a Câmara ter adquirido o Jordão para instalar o teatro municipal do que construir os novos auditórios junto ao Vila Flor para esse fim – esses espaços também foram vendidos à autarquia pela família. Ainda assim, foi possível evitar que o antigo teatro caísse nas mãos de privados, com a eventual transformação em empreendimento habitacional.
Quando olha para o lugar daquele equipamento no século XX vimaranense, Belmiro Jordão descreve-o como uma “inovação” à época em que foi inaugurado. Guimarães sofrera com a ausência de espetáculos nos anos 30, após o encerramento dos teatros D. Afonso Henriques e Gil Vicente. Com aquela obra do avô Bernardino, convencido a avançar por “amigos íntimos”, mudou também o acesso à informação da população vimaranense. Um dos exemplos foi a Segunda Guerra Mundial. “Às quintas-feiras, passava-se sempre um documentário editado pela BBC, que era as atualidades da Segunda Guerra Mundial. Viam-se cenas de afundamento de barcos, por exemplo. É muito diferente fazer um relato de um navio torpedeado de ver a imagem de um navio a afundar”, recorda.