Remates em estilo e público em festa no duelo humano-robô a fechar RoboCup
“O intuito acaba por ser a dinâmica do evento, a de promoção dos robôs. Acabámos por facilitar o jogo, para que pudessem exemplificar e demonstrar o que eram capazes de fazer”, descreveu Ronalda, a única atleta sénior da seleção feminina do Vitória que participou num inédito jogo entre uma equipa oficial de futebol e um grupo de robôs, no fecho da Euro RoboCup, decorrida no Multiusos.
Cumpridos apenas cinco segundos do apito inicial, as jogadoras vestidas de negro, com o símbolo do Vitória SC ao peito, marcaram. Mal roubaram a bola a um dos robôs da Tech United, equipa construída e programada por engenheiros da Universidade Técnica de Eindhoven (Países Baixos), contra-atacaram rumo ao golo num movimento muito simples.
Demolidores na final de robôs médios, de 40 quilos – venceram os conterrâneos da VDL por 14-1 -, aqueles engenhos moviam-se em linhas retas imaculadas, mas a reação aos movimentos humanos estava bem longe da rapidez necessária para ganhar de novo a bola. Se a equipa orientada por Joana Costa, treinador das sub-19 do Vitória, tivesse optado sempre por contra-ataques diretos, o duelo de 15 minutos, cinco contra cinco, terminaria com uma goleada de dois dígitos.
Mas não foi isso que se passou: a vencerem por 3-0, o conjunto vitoriano, com atletas do escalão sub-13 às seniores, começou a trocar a bola mais pausadamente. E quando a perdia, dava tempo e espaço aos robôs para mostrarem o que sabiam; quando se enquadravam com a baliza, eram difíceis de travar. Programados para remates ao ângulo mais distante do guarda-redes, robôs de não mais de 30 centímetros da altura conseguiam elevar a bola entre 1,50 a dois metros.
“São finalizadores. Têm força e nota-se que estão preparados para o remate e para a colocação da bola. É o seu ponto forte”, disse a goleadora da equipa da II Divisão nacional, após um jogo que terminou 4-4 para ir a penáltis. Chamados a mostrarem o que eram capazes nesse momento do jogo, os engenhos da Tech United saíram-se com remates velozes, quase sempre ao ângulo superior, dificultando a reação do guarda-redes humano que tinha pela frente. A equipa de Eindhoven apenas falhou um pontapé. Já o Vitória falhou dois; coube a Ronalda falhar o último, com um toque de letra para testar a reação da máquina.
A bola embateu em cheio no guarda-redes robótico, no desenlace de um evento em que os golos de um lado e de outro se gritavam nas bancadas, repletas de jovens aficionados da eletrónica e da programação em vários recantos da Europa. O principal rosto da organização, Fernando Ribeiro, mostrou-se satisfeito com o evento em geral e com o facto de Guimarães ter acolhido este primeiro duelo humanos-robôs num retângulo verde.
“Não foi a primeira vez que robôs defrontaram seres humanos. Já joguei contra robôs várias vezes. Mas um jogo entre robôs e uma equipa oficial de futebol foi a primeira vez. Nunca ninguém fizera isto”, especifica o professor da Escola de Engenharia da Universidade do Minho e membro da comissão do centenário do Vitória.
A meta de ombrear com o campeão mundial de futebol humano até 2050
Docente da Universidade Técnica de Eindhoven há 35 anos e fundador da Tech United em 2005, René van de Molengraft, disse ao Jornal de Guimarães que a mais-valia dos robôs é a de saberem “sempre onde estão”. Esse atributo é, contudo, insuficiente para ‘ombrear’ com a capacidade de “antecipação” dos humanos.
“Os robôs distinguem-se pela perspetiva muito precisa do campo. Sabem sempre onde estão. Sabem onde estão os colegas de equipa, os adversários e a bola. Isso ajuda-os a tomarem as melhores decisões (…). Mas os humanos são muito bons a antecipar todas as coisas. As pessoas sabem o que fazer com escassos movimentos”, esclarece o docente da Universidade Técnica de Eindhoven, fundador da equipa em 2005.
Como “só agem com base no que está a acontecer”, os engenhos criados nos Países Baixos estiveram “constantemente em movimento” frente às jogadoras do Vitória, algo que dá “conhecimento muito valioso” para o futuro, em que o objetivo do universo da robótica é o de criar uma equipa capaz de bater a campeã mundial de futebol humana em 2050.
“Para 2050, existe a meta de batermos o campeão do mundo de futebol masculino. Não tenho a certeza se será possível, mas os progressos que fazemos todos os anos vão nessa direção”, adianta René van de Molengraft, especificando que, daqui a 10 anos, haverá provavelmente “robôs humanoides” a jogar futebol e a “utilizar estratégias como seres humanos”.
Fernando Ribeiro crê igualmente que “a tecnologia está a evoluir de uma maneira que vai surpreender daqui a duas ou três décadas”, ainda que o futebol robótico seja muito dispendioso, com a liga mais complexa da Euro RoboCup a receber apenas as duas equipas neerlandesas e a diminuição recente do número de equipas lusas.
“Já tivemos as equipas da Universidade do Minho, do Instituto Superior de Engenharia do Porto, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, da Universidade de Aveiro e do Instituto Superior Técnico. Ainda existem duas equipas, mas não jogam. É muito caro manter uma equipa. Um robô de uma equipa portuguesa custa seis mil euros. Mas o guarda-redes da Tech United custa 200 mil”, realça.