Em Vila do Conde, um mergulho com Händel para carimbar o selo europeu
O cronómetro assinalava 55 minutos e o Rio Ave – Vitória desta solarenga, mas ventosa tarde de domingo prosseguia numa toada de equilíbrio, amarrada, de combate, sem ascendente definido em campo. E o canto a favor do Vitória teve de ser repetido, após desaguisado entre Tounkara e Paulo Vítor. Mas, na hora em que Tiago Silva voltou a bater da esquerda, Mikel Villanueva, autor de uma exibição irrepreensível até à lesão, tocou de cabeça ao primeiro poste e ela ficou solta ao segundo: perante tamanha oportunidade, Tomás Händel mergulhou com toda a convicção e cabeceou para o fundo das redes, colocando a bola junto ao poste direito, fora do alcance de Magrão.
Este golo deu ao Vitória o impulso para subir o último degrau na caminhada para a Europa: com o Desportivo de Chaves no sétimo lugar, a quatro pontos, mas sem inscrição nas provas europeias, o conjunto de Moreno dispõe agora de uma vantagem de sete pontos sobre o Famalicão, oitavo, e já assegurou pelo menos a última vaga de acesso à Liga Conferência Europa. Pela primeira vez desde o tetra europeu, entre 1994/95 e 1997/98, o emblema preto e branco alcança dois apuramentos europeus consecutivos.
Se o golo de Tomás Händel encerrou uma das sagas que marca a temporada vitoriana, elevou a tensão em redor de outra: ao atingir a fasquia dos 50 pontos, o Vitória assumiu o quinto lugar à condição, com mais dois pontos do que o Arouca, equipa que só entra em ação na segunda-feira, quando visitar o ainda aflito Estoril Praia. A luta pela posição espera-se acesa para as jornadas que restam.
O controlo exibido na última meia hora, praticamente não consentindo qualquer ocasião de golo aos homens de Vila do Conde, justificou o triunfo de um Vitória que sentiu mais dificuldades na primeira parte.
No primeiro minuto, André Silva protagonizou um lance aparentemente promissor, fletindo da direita para o meio, mas os ventos da primeira parte estiveram longe de correr de feição à equipa de Moreno; a brisa até soprava no sentido da baliza rioavista, mas a formação vestida de preto e cinza sentiu dificuldades para montar um jogo atacante organizado face à acérrima pressão dos jogadores adversários, sobretudo no miolo.
Sólidos na hora de recuar para a área e de suster os cruzamentos vila-condenses, sobretudo da esquerda, onde deambulava o endiabrado Paulo Vítor, os homens de Guimarães perderam várias oportunidades de construir ainda no seu meio-campo, e o Rio Ave aproveitou para jogar largos períodos nas imediações da área contrária, sobretudo entre os minutos cinco e 30.
Nesse período, os verdes e brancos ameaçaram o golo num remate e num cabeceamento de Costinha e num cabeceamento de Leonardo Ruiz, o mais perigoso dos anfitriões, com Mikey Johnston a encarregar-se de responder pelos vitorianos nessa fase: o escocês aproveitou um ataque rápido para derivar da esquerda para o meio e rematar para defesa apertada de Magrão.
No derradeiro quarto de hora, sim, a construção vitoriana fluiu mais límpida e precisa, mas a equipa pouco arriscou no último passe, limitando-se a circular a bola no meio-campo contrário e a tentar ameaçar as redes contrárias em cruzamentos ou bolas paradas, sem grandes sobressaltos: o canto comprido de Johnston, com mudança de trajetória, aos 45+1 minutos, foi o momento que mais à prova colocou o guarda-redes vila-condense.
O Vitória regressou dos balneários com Bruno Gaspar em vez de Miguel Maga na ala direita e ganhou estabilidade. Mesmo sem domínio claro, a circulação saiu mais precisa e a chegada à área foi mais clarividente. O canto que deu o golo surgiu com naturalidade, e a eficácia desse lance catapultou definitivamente os conquistadores para o desejado apuramento europeu, coroando uma temporada vários altos entre dois ciclos negativos e uma onda de lesões.