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Rui Armindo Freitas: “Sem emprego de qualidade, perdemos população”

Redação
Sociedade \ terça-feira, março 26, 2024
© Direitos reservados
Há quem lhe reconheça potencial para a governação. Rui Armindo Freitas, empresário vimaranense de 40 anos, é coordenador da área de Investimentos e Fundos estruturais do Conselho Estratégico do PSD.

É administrador do Grupo Media Capital (detentor da TVI e da CNN Portugal) e foi Presidente do Conselho de Administração da Swipe News, detentora, entre outras, do Eco Economia Online. Cidadão atento e interessado, oferece parte do seu tempo ao associativismo vimaranense dedicando-se, por exemplo, à Irmandades da Penha. Em entrevista exclusiva a O Conquistador analisa a situação atual de Guimarães, critica quem não quer uma “sociedade dinâmica” e defende a reconfiguração da indústria têxtil. E diz não ter dúvidas:  a eleição de Ricardo Araújo, “candidato à Câmara Municipal”, para a Assembleia da República “é a pensar em Guimarães”.

ENTREVISTA E FOTOS: José Luís Ribeiro e Esser Jorge Silva

 

Além de empresário em vários sectores de atividade, mantêm uma participação cívica ativa, nomeadamente, nas Irmandades da Penha e de São Pedro. Como surgiu a predisposição para essas atividades? 

Desde muito novo que tenho participação cívica. Estive sempre envolvido no movimento associativo, fosse estudantil ou de outro cariz. Aliás, é na sequência dessa participação que me envolvi na política por convite de um grande amigo com quem continuo a partilhar caminho, o César Teixeira.

 

Surgiu naturalmente?

Foi natural, contudo o envolvimento maior que tenho é com a Irmandade da Penha, onde faço parte dos órgãos de gestão ao lado do juiz Roriz Mendes. Mas faço parte de outras instituições do concelho, a Assembleia de Guimarães, o Guimagym, o Rotary Club de Guimarães, CSP de Santa Marinha da Costa, estas como parte de órgãos sociais, mas muitas outras como associado. Julgo que a participação cívica é um impulso que tenho, por vezes difícil de dosear.

 

Guimarães ombreava com o concelho de Braga. Agora, pelos vistos, nivela-se por outros. O que aconteceu?

É uma consequência prática das políticas públicas seguidas. Em Guimarães não se soube aproveitar a dianteira que o músculo económico e industrial garantiu durante muitas décadas. Numa espécie de “dormir à sombra da bananeira”, neste caso a bananeira foram os nossos empresários e trabalhadores que fizeram esta região forte, e quem dormiu foram os executivos camarários dos últimos mais de 30 anos.

 

Como foi possível?

Entenderam que a economia não era prioritária. Que adotar uma estratégia para captar investimento não dizia respeito ao município e que não era importante dotar o município de parques industriais para quem cá está pudesse expandir e para que quem cá quisesse investir tivesse onde se instalar.

 

E isso teve consequências …

Claro ! Além disso, sem emprego de qualidade, começamos a perder população, aliado a uma falta de estratégia urbanística que levou à redução da área urbanizável que limitou a oferta de habitação, já para não falar do desespero burocrático que é o nosso município. No fundo a aposta do município foi a cristalização do concelho, mas essa cristalização só tem o caminho da perda de competitividade, porque a sociedade está em evolução constante, não cristaliza nunca.

 

Que análise faz o economista e empresário sobre as dinâmicas do concelho de Guimarães na atualidade?

Mantenho o otimismo no futuro se conseguirmos promover mudança de políticas públicas, no entanto, sou forçado a diagnosticar que, no presente, a perda de dinâmica que é sentida por todos, será difícil de inverter.

 

E vai levar tempo …

Vai levar tempo e cada dia que passa sem inversão de rumo, é um dia perdido na luta por um concelho com a liderança regional - que já teve - e pela qual deve lutar! Nas sociedades, quando este tipo de dinâmicas de perda é percecionado de forma empírica por cada um de nós, resulta óbvio que é mais difícil a sua inversão. Contudo acredito de forma fervorosa nas nossas gentes.

 

Acredita nos vimaranenses …

Há algo de mágico em ser-se vimaranense, que nos dá aquela motivação extra para nos superarmos. Assim, tal como saímos reforçados da exposição industrial de 1884, urge um novo impulso que aproveite a fibra das nossas gentes e nos volte a colocar na rota do crescimento.

 

Será possível ?

Não acredito nisso com as atuais lideranças políticas socialistas, que legitimamente, parecem querer uma terra mais pequenina, mais pacata, mais sossegada e sem esse bulício das sociedades mais dinâmicas. Se houve tempo em que muito teria de mudar para que tudo ficasse na mesma…agora já estamos na fase em que muito tem que mudar para que o futuro seja melhor.

 

O AvePark tem mesmo um problema de “geografia” que justifique 10 milhões numa estrada ou trata-se antes de um problema de incapacitação humana?

Segundo sei não falamos de 10 milhões, mas de um montante que deverá rondar quatro vezes esse valor. Ou seja, sobre geografia, julgo que essa é a resposta. Mas esse problema existe porque há décadas que se ignora a requalificação da EN101. Para além disso, ter afunilado durante anos a estratégia no Ave Park foi um erro, o simples facto de cerca de 30 anos depois ainda o estarmos a discutir é o maior certificado da incapacitação, não humana, mas técnica dos nossos políticos locais.

 

Existem garantias de sucesso do AvePark ?

Quanto a garantias de sucesso, é coisa que nunca existe, mas compete a quem gere os poderes públicos criar as condições de contexto favoráveis a esse sucesso. A atividade económica comporta por si só riscos, uns antecipáveis e outros que nem imaginamos serem possíveis. Seria bom que quem tem o poder de eliminar os riscos de contexto antecipáveis, cuja solução depende das funções públicas, ajudasse de vez em quando.

 

A indústria têxtil tende a desaparecer das sociedades avançadas. Perceciona-se, contudo, que na malha mental persiste como solução futura. É possível uma têxtil 5.0?

A indústria têxtil não tem de desaparecer das sociedades avançadas. Convém frisar que a indústria têxtil não é só a indústria têxtil tradicional, há na fileira muitas possibilidades de crescimento e muitos exemplos daquilo que é a importância desta indústria para o futuro das nossas sociedades, desde a mobilidade, à saúde, à arquitectura/construção etc…  Também a sustentabilidade abre enormes possibilidades de crescimento ao sector. Estas podem ser uma evolução natural do muito conhecimento que as nossas indústrias tradicionais encerram.

 

Mais é preciso mais ?

Uma reconfiguração do tipo de indústria têxtil que teremos no futuro é inevitável. Desejavelmente, a nossa região, no futuro, deverá depender menos de um único sector, mas aproveitar aquilo que esta indústria nos trouxe de capacitação. É inevitável, para que uma sociedade seja mais produtiva, que o capital que lhe é aplicado, favoreça também ele a produtividade. É bom que se acabe com a ideia de que o problema da produtividade é do trabalhador, porque na grande maioria dos casos é do capital.

 

Que soluções preconiza para restituir dinâmica ao tecido económico do concelho?

A criação de condições. À velocidade que vivemos hoje, as ligações são fundamentais, a economia tem de estar ligada. Temos de pensar como ultrapassaremos o risco da alta velocidade ficar longe de Guimarães. Temos de ser capazes de captar indústrias com o maior número de “tarefas” comuns às que temos hoje instaladas, para que a transição económica do concelho se faça com o menor custo social possível. Temos de ser capazes de planear o que queremos atrair, para onde, e qual queremos que seja a composição social de Guimarães do futuro. Temos de traçar como objetivo prioritário a subida do rendimento médio mensal dos vimaranenses. A criação de uma Agência de Desenvolvimento Económico de Guimarães é prioritária, para perseguir estes desígnios, mas numa lógica ágil, com objetivos bem definidos. Aliás estranha-se que em 2024 Guimarães ainda não a tenha.

Integra a Direção da concelhia do PSD. Ricardo Araújo está confirmado como candidato à Câmara de Guimarães ou são de admitir outros cenários ?

O nome de Ricardo Araújo foi já ratificado em plenário. O trabalho já foi iniciado e falta pouco mais de um ano para a disputa autárquica. O Ricardo Araújo, vereador há vários mandatos, que trabalhou com empenho e lealdade com os líderes anteriores, André Coelho Lima e Bruno Fernandes, é hoje o homem que está na linha da frente para esse combate. É o melhor preparado e com projeto alternativo ao poder socialista, não vejo outros cenários surgirem, o PSD tem-se pautado em Guimarães por um referencial de estabilidade e será assim que se apresentará aos vimaranenses.  

 

A eleição de Ricardo Araújo como deputado à Assembleia da República é uma estratégia do partido concentrar-se numa pessoa?

A estratégia de um partido como o PSD de Guimarães não é nunca a de se concentrar numa pessoa, aliás a quantidade de quadros de valor nacional que Guimarães lançou nos últimos 20 anos é assinalável. A eleição de Ricardo Araújo para a Assembleia da República, é a pensar em Guimarães. É podermos ter aquele que queremos que seja o próximo presidente da Câmara Municipal de Guimarães focado exclusivamente no futuro da nossa terra. O Ricardo Araújo, tem demonstrado ser um condutor de homens, nessa perspetiva veremos no curto prazo muita gente assumir protagonismo ao seu lado.

 

É expectável que o Rui Armindo Freitas, ou outro vimaranense, venha a integrar o próximo Governo ?

(risos) como é sabido sou coordenador de uma área do Conselho Estratégico Nacional do PSD e servir a causa pública será sempre algo que entusiasma todos os que andam envolvidos na política. Contudo, o facto de nunca ter sido profissional da política levou-me por caminhos de responsabilidade profissional que, ainda que alguém entendesse que eu poderia ter a capacidade de servir o meu país, poderia inviabilizar essa participação. Mas estou seguro de que Guimarães tem quadros bastantes que poderão vir a dar esse contributo.

 

É uma pessoa de fé?

Sim, sou uma pessoa de fé.

 

Existe alguma figura da Igreja Católica que mais o tenha marcado e tenha influenciado o seu quotidiano?

Várias que, de uma ou outra forma, são inspiradoras. Santo Agostinho, São Tomás de Aquino ou Padre António Vieira … são exemplos que em determinadas matérias influenciam.

"5 respostas rápidas"

Sugestão gastronómica?

Um costoletão de boi da Quinta do Souto em Ronfe

 

Que livro está a ler?

M-Mussolini O filho do século – Antonio Sicurati

 

A música que não lhe sai da cabeça?

Space Oddity – David Bowie

 

Um filme de referência?

Il Sorpaso – Dino Risi

 

Passatempo preferido?

Caminhada

[Conteúdo produzido pelo Jornal O Conquistador, publicado em parceria com o Jornal de Guimarães. Entrevista da edição de março de 2024 do Jornal O Conquistador.]

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