Rui Bragança: “Foram muitas as coisas em que o taekwondo me fez crescer”
A vida do mais decorado lutador português em taekwondo mudou há pouco mais de mês: desde que, a 16 de abril, anunciou o final de uma carreira com dois títulos europeus, um vice‐campeonato mundial e duas participações nos Jogos Olímpicos (Rio de Janeiro 2016 e Tóquio 2020), Rui Bragança está a usufruir da reforma, dedicando‐se à medicina e a outras atividades. “Neste momento, não estou a sentir falta”, adianta ao Jornal de Guimarães.
Reconhece, contudo, que as duas décadas sobre o tatame, convertidas em milhares de horas de treino e de sacrifício, em viagens por outros países, a absorver “outras culturas”, “outras formas de lidar com a vida”, o transformaram. “Sou uma pessoa mais organizada e mais dedicada. O facto de conciliar o desporto e um curso fez com que tivesse de otimizar o meu tempo. Foram muitas as coisas em que o taekwondo me fez crescer”, descreve o ex‐atleta de 32 anos.
Essa forma de luta não o contagiou de imediato; Rui Bragança nem sequer gostou da primeira sessão, nas instalações do então ginásio Koryo, em Guimarães. Mas continuou; a primeira mensalidade estava paga. O interesse foi “evoluindo de forma muito natural”, assim como a duração e a dificuldade dos treinos. A estreia em competição dá‐se no Seixal, no Torneio da Amizade, em meados da primeira década do século XXI. “Foi muito gira a experiência. Ganhei um combate e depois perdi o segundo, com um atleta que treinava connosco em Braga, mas há muito mais tempo”, detalha.
“Percebi que até tinha jeito”
À entrada para a idade adulta, o vimaranense compreendeu que o taekwondo era algo para levar a sério. Inscreveu‐se curso de medicina da Universidade do Minho em 2009, mas a prioridade era mesmo a de frequentar a instituição minhota, a única em que poderia continuar a lutar, ao abrigo do protocolo com o ABC. “A partir daí, sempre treinei e trabalhei como um profissional”, realça. A medalha de bronze no campeonato europeu de juniores, dois anos antes, em Baku, ajudou‐o a discernir o caminho. “Percebi que até tinha jeito”, recorda.
A capital do Azerbaijão foi, aliás, talismã na sua vida de atleta: aí se sagrou pela primeira vez campeão europeu absoluto, em 2014, na categoria de ‐58 kg, e conquistou a medalha de ouro dos Jogos Europeus, em 2015. Ambas as experiências prevalecem na memória de Rui Bragança. “Na primeira vez que fui campeão da Europa, tinha estado lesionado nas duas semanas anteriores. Sair de lá campeão foi algo inexplicável. Nos Jogos Europeus, tivemos toda a comitiva portuguesa, vivendo quase um ambiente de Jogos Olímpicos”, descreve. A estreia como atleta olímpico, no Brasil, foi outro “momento incrível” de uma carreira que o deixa feliz, à qual “não falta nada”. “Gostava de ter uma medalha olímpica, mas fomos muito além dos recursos que tínhamos”, descreve.
Com um passado onde sobressai a destreza dos golpes e o brilho das medalhas, o vimaranense encara o futuro com serenidade, sem fechar a porta ao taekwondo, mas também sem a escancarar. “Imagino‐me sem o taekwondo. Tenho outros desafios para encarar. Para já, estou bem assim. Vamos ver o que a vida reserva”, assume.