José Arantes: "Temos de participar nas associações civis”
Cidadão ativo, solidário e empenhado em várias causas, José Arantes, engenheiro civil, defende que as áreas classificadas de Guimarães devem ser exclusivamente pedonais e aponta vários caminhos para a cidade e o concelho. Foi dirigente e candidato à Presidência do Vitória numa altura em que, garante, “as pessoas que tinham mostrado interesse na candidatura, não quiseram enfrentar o poder instituído”. Discreto, José Arantes nasceu na freguesia de São Paio – Guimarães e, aos 68 anos de idade, não descarta em absoluto uma candidatura à autarquia vimaranense, apesar de achar difícil conciliar a gestão de empresas com a política ativa.
ENTREVISTA e FOTOS: Esser Jorge Silva e José Luís Ribeiro
Esteve envolvido na criação do Complexo Desportivo, na reformulação do Estádio D. Afonso Henriques e foi candidato à Direção do Vitória. Como descreve a sua relação com o clube?
PAIXÃO. Ter colaborado no planeamento e execução do Complexo Desportivo do Vitória e do Estádio D. Afonso Henriques foi uma honra, tendo sido um trabalho enquanto profissional de engenharia encarado com um espírito de missão. Sendo sócio há mais de 50 anos, a minha relação com o Vitória vem desde os anos 50, quando acompanhava o meu avô e o meu pai aos jogos no campo da Amorosa.
É muitas vezes apontado, e pelos vistos desejado, como candidato ao Vitória. Por que razão nunca mais repetiu uma candidatura?
Ser presidente do Vitória nunca foi o meu objetivo; colaborar com o Vitória sempre. A bem da verdade, a candidatura em 2000, resultou dum movimento que aceitei integrar para modernizar o Vitória, que tinha cada vez mais uma gestão autocrática. Nas semanas próximas das eleições, quando era necessário tomar opções, as pessoas que tinham mostrado interesse na candidatura, não quiseram enfrentar o poder instituído. A minha candidatura resultou duma escolha dos sócios que continuavam no movimento e acreditavam que era possível fazer melhor. No decorrer da campanha, as eleições foram politizadas, começaram a ser vistas também como disputa política, o que fragilizou a candidatura.
Gosta mais de futebol ou da construção civil?
São questões diferentes, são mesmo complementares.
O futebol, para além do espetáculo, é emoção, a construção civil é gestão, tem que ser administrada com razão… Mas quando construímos aquilo que projetamos e conseguimos os objetivos definidos também há emoção, sentimos que acrescentamos algo que vai perdurar no tempo. Quando projetamos e criamos novas áreas urbanas, sente-se um prazer enorme, porque se acrescenta mais cidade à cidade, sentimos que participamos no seu crescimento.
A sua atividade empresarial obriga à relação com políticos e com a política. Como gere essa relação?
Com respeito e absoluta transparência, não abdicando nunca do meu ponto de vista. É importante saber ouvir e perceber o ponto de vista de quem tem o dever de gerir o bem público, porque são eles os eleitos. Se queremos ser úteis e ajudar nas decisões temos de participar nas associações civis, sugerindo soluções, nunca abdicando da nossa opinião.
Aventou-se, por vezes, o seu nome para candidato à Câmara. Quais as razões por que tal não se consumou?
Sou gestor de empresas, com muitos trabalhadores e sinto essa responsabilidade. A política ativa exige dedicação absoluta e, no meu ponto de vista, não é possível conciliar.
É visto como um grande interventor e investidor no Centro Histórico. Foi uma opção estratégica ou o resultado de um acaso?
Foi uma estratégia investir nos centros urbanos, tê-lo feito em Guimarães foi uma opção por ser a minha cidade.
O Centro Histórico vai perdendo moradores enquanto se transforma num Centro Comercial. É essa uma boa estratégia para o concelho?
Não concordo que o Centro Histórico continue a perder moradores. Nos últimos anos tem ganho unidades de habitação. Nas intervenções que participei no Centro Histórico foram acrescentados mais de vinte apartamentos, sem interferir nos habitantes que quiseram continuar a residir no mesmo local. A atividade comercial é que tem diminuído. É importante que se criem as condições para o Centro Histórico continuar a ser um polo de atração, porque é fundamental para a cidade e para o concelho.
É manifesta uma segregação entre habitantes do centro e habitantes da periferia através dos custos de habitação. Cidade rica em concelho pobre é uma boa política?
Guimarães cidade não é uma cidade rica, nem o concelho é pobre, a atratividade de Guimarães gera riqueza para o seu comércio. É um concelho industrial e nesta área tem perdido influência, é necessário investir em planos que captem mais investimento industrial.
Guimarães deve apostar na captação de mais turismo, mais serviços ou mais indústria? Que caminho considera mais sustentável para o concelho?
Guimarães deve criar condições para que o aumento do turismo, de serviços e de indústrias sejam possíveis, sem constrangimentos para os seus habitantes e isto significa: Melhorar os fluxos do trânsito criando alternativas de acesso às vias de saída e entrada, pelo lado nascente da cidade; construir mais parques de estacionamento na periferia do Centro Histórico, de forma a ser possível que as áreas classificadas sejam exclusivamente pedonais; criar áreas industriais, de forma a ser célere a instalação de novas indústrias, porque criam emprego, fixam habitantes e melhoram a economia global do concelho. É a indústria que aumenta duma forma sustentável a economia duma região.
Concorda que concelhos limítrofes como Braga e Famalicão se têm tornado mais atraentes do que Guimarães na captação de investimentos?
São mais atraentes porque tem criado melhores condições para a instalação de novas indústrias, facilitando o investimento e tendo no P.D.M. grandes áreas para instalações industriais.
Existem, além do mais, desigualdades na população e pessoas a necessitar de apoio …
Num Estado com preocupações sociais, ninguém deve ficar para trás, essas são as pessoas que devem ser ajudadas, sendo uma responsabilidade do Estado e das Autarquias, apoios que no nosso concelho têm sido bem conseguidos.
Faz parte dos Órgãos Sociais do Teleférico assim como é membro da Irmandade da Penha. Sente que, tal como um teleférico, pode unir o que está separado?
Os Órgãos Sociais do Teleférico e a Irmandade da Nossa Senhora do Carmo da Penha têm os mesmos interesses e objetivos, servir os cidadãos especialmente os Vimaranenses.
Não existem divergências nos objetivos, mas há diferenças no tempo da sua concretização e a Irmandade da Nossa Senhora do Carmo da Penha não entende o tempo que demora a sua aprovação. Nenhuma legislação deve ser interpretada duma forma tão restritiva, que torne impossível aprovar situações, que toda a gente está de acordo e que só beneficiam a comunidade.
Além disso, faz também parte da Irmandade de São Pedro. O que o alimenta espiritualmente ?
Aceitei um convite para pertencer aos órgãos sociais da Irmandade do Príncipe dos Apóstolos de São Pedro, formalizado pelo Padre Silvino. A Basílica de São Pedro precisa de alguns melhoramentos e ajudar nisso é o objetivo. Resolver a torre do relógio, criar uma iluminação apropriada na fachada é urgente, porque a Basílica situa-se na praça do Toural que é a sala de visitas da cidade. O que me alimenta espiritualmente, é procurar ter sempre uma profunda paz de espírito.
5 PERGUNTAS RÁPIDAS |
Um bom peixe, finalizado com tortas de Guimarães.
“A Mais Breve História da Rússia” de José Milhazes e “Último Olhar” de Miguel Sousa Tavares.
“Let It Be” - Beatles, claro.
“O Leopardo” de Luciano Visconti.
Fotografia. |
[Conteúdo produzido pelo Jornal O Conquistador, publicado em parceria com o Jornal de Guimarães. Entrevista da edição de outubro de 2022 do Jornal O Conquistador.]