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Guimarães sinaliza 86 pessoas sem-abrigo. De vários níveis de escolaridade

Tiago Mendes Dias
Desporto \ quarta-feira, julho 12, 2023
© Direitos reservados
Dependências, saúde mental e falta de rendimento sobressaem entre as pessoas referidas. Atividades como o desporto têm contribuído para a reabilitação no programa Portas Abertas.

As 86 pessoas em condição de sem-abrigo sinalizadas pelo projeto Portas Abertas apresentam vários níveis de escolaridade: desses cidadãos identificados em Guimarães, há 25 com o 2.º ou o 3.º ciclo completo, outros 25 que finalizaram o ensino secundário e 11 que têm, como habilitações literárias, algum grau do ensino superior. Há ainda 19 com o 1.º ciclo, cinco sem qualquer grau de escolaridade completa e um para o qual não existem dados, indicam os resultados apresentados esta quarta-feira, no Pequeno Auditório do Centro Cultural Vila Flor.

Para a coordenadora técnica do Portas Abertas, Elisabete Mendes, os dados mostram que qualquer pessoa se pode ver em situação de sem-abrigo em determinadas circunstâncias económicas e sociais – remuneração, relacionamentos e o quão isoladas ou não estão as pessoas. A apresentação exibida mostra, aliás, que as principais circunstâncias associadas à condição em Guimarães são as dependências – verificam-se em metade das pessoas -, os contextos familiares e a saúde mental.

Os resultados do projeto desenvolvido entre novembro de 2021 e junho de 2023, com um orçamento de 350 mil euros, mostram também que 41 das pessoas identificadas não têm qualquer rendimento e que 24 auferem o Rendimento Social de Inserção. Há ainda perto de 60 cidadãos solteiros e pouco mais de 20 divorciados entre as pessoas que o Portas Abertas sinalizou. E embora os homens estejam em maioria (73 cidadãos), também se encontram mulheres na condição de sem-abrigo. “Não podemos colocar tudo no mesmo bolo. Temos mulheres com características específicas. É preciso intervir para elas e criar respostas para todos”, frisou a coordenadora da iniciativa promovida pela Câmara Municipal de Guimarães, em parceria com a Delegação de Guimarães da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), a Sol do Ave e o Lar de Santo António.

Quanto às idades, há 35 cidadãos entre os 45 e os 64 anos e 31 cidadãos entre os 31 e os 44, mas a população nessa condição já inclui jovens, dos 18 aos 30 anos: são 14 pessoas. Ver esta situação acontecer em pessoas na “transição para a vida ativa” motiva reflexão.

Contam-se ainda seis migrantes num conjunto que inclui também 53 pessoas sem teto e 27 sem casa.  Ao enunciar as perspetivas que o projeto abre, Elisabete Mendes realça que é preciso ter em conta o presumível aumento da população migrante, o aumento do valor do arrendamento e as ações de despejo que podem resultar desse contexto. A coordenadora também defende um maior envolvimento da comunidade escolar neste assunto, algo que já se verificou com a Cisave no Portas Abertas. “Algumas destas pessoas partilharam experiências na escola, para mostrarem que qualquer um de nós pode cair nesta condição”, frisou.

 

Um “aumento da esperança” através do desporto

Financiado sobretudo pela Câmara Municipal de Guimarães – 190.887 euros – e pelo Fundo Social Europeu – 146.483 euros -, o Portas Abertas proporcionou serviços e atividades várias às pessoas sinalizadas: refeições, higiene e cuidados com a autoimagem na cantina social da Câmara, sessões de inclusão digital, através da CVP, artesanato, torneios de jogos de mesa – dominó, por exemplo -, ou artes performativas, graças à Associação de Narrativa e Teatro de Intervenção (ANTI); a sessão no CCVF contou, aliás, com a interpretação de Abrigo 4835, um monólogo interpretado por Diogo Lemos, do coletivo que trabalha problemas sociais através das artes performativas.

O desporto foi outro dos serviços prestados, graças à ação de Nuno Sampaio, professor de Educação Física ao serviço da Tempo Livre. A partir de vários estudos sobre atividade física e efeitos na autoestima, o Portas Abertas disponibilizou uma sessão desportiva semanal, à quarta-feira, verificando-se alguns benefícios nesse sentido. “O desporto estimulou o reconhecimento de se ser importante, a perceção sobre o próprio valor, o aumento da esperança em relação ao futuro e também o reconhecimento de que é preciso lutar para conseguir objetivos””, realçou Elisabete Mendes.

Essa evolução verifica-se, por exemplo, na transferência de sete pessoas para um apartamento partilhado, com algumas delas a disporem já de rendimentos.

 

Vereadora pede protocolos com Segurança Social para manter projetos

Apesar de a realidade dos cidadãos sem-abrigo em Guimarães não se equiparar a “realidades como são o Porto e Lisboa”, não se “pode ficar indiferente” ao fenómeno, defendeu a vereadora da Câmara Municipal de Guimarães para a ação social. “Temos periferias na nossa sociedade. Estão dentro da cidade, dentro das freguesias, nas famílias. Não podemos fazer de conta que não fazem parte do nosso mundo. Queremos um território justo, coeso e integral”, defendeu Paula Oliveira, numa sessão em que intervieram também Carla Gomes, da CIM do Ave, e João Ferreira, do Centro Distrital de Braga do Instituto de Segurança Social.

Em consonância com uma proposta já aprovada em reunião do executivo municipal, a autarquia vai continuar o projeto depois de concluído o financiamento, em junho passado. Esse compromisso exige, todavia, protocolos com a Instituto da Segurança Social para se materializar na plenitude.  “Pedimos atenção e envolvimento da Segurança Social para quem está nos apartamentos de autonomização. Sem protocolos, não é possível darmos resposta com equipas de segunda-feira a domingo”, esclareceu.

A Câmara, acrescentou a vereadora, está atenta a projetos housing first, para realojamento e autonomização de cidadãos sem-abrigo. A criação de uma comunidade de inserção para os cidadãos sem-abrigo em Guimarães é, aliás, objetivo do município.

Grata às equipas que atuam junto dos cidadãos em condição de sem-abrigo, pelo “trabalho desafiante e gratificante, mas muito exigente”, Paula Oliveira prometeu que Guimarães vai “continuar a ser abrigo para os que mais precisam”, para fazer valer o ideal de que “cada um tem direito a um teto, a uma vida digna”.

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