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Sem procissões, Nossa Senhora da Oliveira celebra-se ao som do órgão

Tiago Mendes Dias
Cultura \ quinta-feira, agosto 12, 2021
© Direitos reservados
Num programa ainda condicionado pela pandemia, a paróquia com sede no centro histórico recorre ao órgão de tubos do século XIX, exemplar da corrente galaico-portuguesa, para honrar a padroeira.

Concertos, momentos de meditação e acompanhamento na missa solene: todas estas performances cabem no órgão de tubos da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira até 15 de agosto, o último dia da festa em honra da padroeira da paróquia e do restante território vimaranense – a imagem figura precisamente no brasão do concelho.

“Como temos a festa da padroeira, procuramos utilizar a menina dos olhos desta Colegiada, que é o órgão. Apesar da pandemia, que não nos permite fazer a festa como habitualmente, com o órgão é possível”, diz ao Jornal de Guimarães o pároco de Nossa Senhora da Oliveira e prior da Colegiada de Guimarães, Paulino Carvalho.

À exceção das novenas, que começaram a 06 de agosto e se prolongam até sábado, sempre às 18h30, com terço, eucaristia e pregação do padre José Miguel Fraga, o programa da celebração católica decorre entre quinta-feira e domingo, sem abdicar do instrumento de 1831, criado pelo organeiro vimaranense Luís António de Carvalho.

O músico Nuno Mimoso vai estará a cargo de todos os instantes em que aquele órgão com 2.229 tubos, o “segundo maior do Norte de Portugal, a seguir ao conjunto da Sé de Braga”, entra em ação, a começar pelos 20 minutos de meditação musical agendados para as 12h00 desta quinta-feira. O momento sonoro repete-se na sexta-feira e no sábado, à mesma hora. Os concertos do organista, em colaboração com o coro Anima Populi, realizam-se a partir das 21h30 de sábado e das 17h00 de domingo. Antes, haverá missa solene, às 12h00 de domingo, na companhia do órgão e do Grupo Coral de Nossa Senhora da Oliveira.

Para contornar a impossibilidade da procissão de velas de sábado à noite e da procissão matinal de domingo, devido às normas sanitárias em vigor no âmbito da pandemia, a paróquia amplifica o som de um órgão que, segundo um artigo de Manuela Alcântara no quinzenário O Conquistador, datado de 20 de dezembro de 2013, constitui provavelmente a “derradeira expressão da corrente galaico-portuguesa da organaria ibérica”, difundida em Guimarães pelo galego Francisco António Solha.

“Há um desconhecimento em Guimarães sobre o órgão. Foi restaurado entre 2011 e 2013, mas, depois disso, nunca houve um trabalho estruturado para que fosse utilizado regularmente”, lamenta o padre, responsável pela paróquia desde 22 de setembro de 2019. Depois do restauro levado a cabo por Pedro Guimarãee e Beate von Rohden, da Oficina e Escola de Organaria, sediada em Esmoriz, o mecanismo tem protagonizado “concertos pontuais”, mas precisa ainda de ser devolvido à cidade, diz Paulino Carvalho. Assim tem de ser não só para valorizar o seu potencial cultural, mas também para impedir futuros danos.

“Se não for utilizado, também se estraga. No fundo, juntamos o útil ao agradável. A tónica da festa da padroeira tem também a possibilidade de, quer nas celebrações litúrgicas, quer numa proposta mais cultural, dar destaque ao histórico órgão de tubos que aqui temos”, realça.

 

 

Uma imagem por renovar

No interior das paredes medievais do templo, a imagem de Nossa Senhora da Oliveira carece de restauro e de conservação, admite Paulino Carvalho. E também é preciso um novo andor para carregar essa imagem quando ela sair de novo em procissão. “A proposta da Irmandade de Nossa Senhora da Oliveira é a de termos um andor mais adequado e moderno quando voltarmos a sair à rua, no sentido até do peso, e de cuidarmos da imagem”, esclarece.

Perante tais necessidades, a paróquia vai iniciar uma angariação de fundos que confia sobretudo nas esmolas dos devotos e em doações particulares, acrescenta o padre. Sem orçamento ainda definido para os trabalhos, a instituição espera que a imagem de devoção mariana passeie pelas ruas da cidade com “nova cara”, sobre um novo andor, daqui a precisamente um ano. “Se a pandemia permitir celebrar as festas saindo-se à rua, teremos condições para termos renovado o andor e também a imagem cuidada”, sublinha.

Para Paulino Carvalho, tais obras são essenciais para valorizar um culto “arreigado” na cidade e no concelho, que, na Idade Média, acolhia católicos de outras paragens, em peregrinação, e também a memória construída ao longo de séculos. “No fundo, é sermos fiéis ao património que nos legam os nossos antepassados, cuidar dele e deixar para os vindouros”, conclui.

 

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