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“Nunca escondi o amor e orgulho que tenho na minha cidade e raízes”

Redação
Cultura \ domingo, janeiro 23, 2022
© Direitos reservados
Não desistiu quando lhe barraram a entrada numa escola em Portugal. Com garra de conquistadora, partiu em busca do sonho e entrou numa das mais conceituadas escolas de música e teatro do mundo.

A vimaranense Sofia Escobar, 37 anos, ascendeu ao estrelato e coleciona prémios e distinções. Foi jurada no programa “Got Talent Portugal”, está prestes a editar o seu primeiro disco e não esconde o orgulho nas suas raízes.

ENTREVISTA: José Luís Ribeiro e Esser Jorge Silva
FOTOS: Paco Navarro

 

Nasceu e cresceu em Guimarães mas o apelido “Escobar” não é característico da região. Qual a origem ?

O apelido Escobar vem do lado da família do meu pai que nasceu em Angola. Na verdade, as suas origens e antepassados são do navegante português Pêro Escobar que descobriu as ilhas de São Tomé, Ano-Bom e Príncipe. Há muito quem associe o meu nome ao Pablo Escobar mas a realidade está bem longe disso.

 

Divide a sua vida entre Londres, Madrid e Lisboa. Como é ver Guimarães "de longe" ou do lado de "fora" ?

Confesso que dei muito mais valor a tudo o que a nossa belíssima cidade tem para nos oferecer quando saí do País. Hoje - sempre que tenho oportunidade de ir a Guimarães seja por trabalho ou descanso e visitar a minha família - sinto-me inundada de orgulho, das minhas origens, da forma como cuidamos da cidade, da simpatia das pessoas. Tenho sempre saudades.

 

Qual é a perceção que os seus colegas estrangeiros têm de Guimarães ?

Cada vez mais Guimarães está no radar dos estrangeiros. As pessoas que gostam de conhecer sítios diferentes e cheios de magia e tradições conhecem ou já tem muita vontade de conhecer a nossa cidade. E sei, por muitas pessoas, que as que cá vem tem tendência a querer voltar.

 

Em 1956, Joaquim Novais Teixeira disse “Não, não sou português, sou mais do que isso, sou de Guimarães! Sou de uma pátria pequenina e sólida chamada Guimarães (…) A minha Pátria, a Pátria que me fez vibrar, a minha Pátria autêntica e forte é a Pátria da minha infância, é Guimarães!”. Revê-se na afirmação ?

Sem dúvida, nunca escondi o amor e orgulho que tenho na minha cidade e nas minhas raízes.

 

Consegue transmitir o sentido do que é ser vimaranense ao marido, o ator espanhol Gonzalo Ramos, e ao filho Gabriel ?

O Gonzalo, desde a primeira vez que visitou Guimarães, apaixonou-se pela cidade, pela comida, pelas pessoas. Tanto que nos casamos no Mosteiro de Santa Marinha da Costa.

Quanto ao Gabriel, fiz sempre questão que ele saiba das minhas origens, sempre lhe comprei livros com história da nossa cidade, os seus monumentos e tradições. E desde pequenino que visita regularmente a cidade.

 

Chegou a manifestar-se "desiludida e, acima de tudo, triste" por não ter sido convidada para integrar o programa de Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012. Como diz a cultura popular, Guimarães é mesmo má mãe e boa madrasta?

Na altura fiquei triste, sim, mas são águas passadas. Já passaram muitos anos e não só tudo se resolveu e tive oportunidade de cantar em dois concertos, como também já regressei várias vezes.

 

 

Como foi o percurso artístico, quais os principais obstáculos que encontrou e qual foi o momento decisivo na construção da carreira ?

Poderia contar imensa coisa com esta pergunta, vou tentar ser sucinta. Tudo começa com uma grande paixão pela música e pela representação e, a partir daí, há todo um caminho, de entrega, de sacrifícios, de investimento, de estudo. Um momento decisivo na construção da minha carreira foi quando não consegui entrar na ESMAE [NR: Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo] entre cerca de 20 candidatos e, com o coração destroçado, decidi tentar Londres. Aí entrei com bolsa de estudos entre cerca de 3000 candidatos. Desde então, sempre que se fecha uma porta ou oportunidade penso sempre que algo diferente estará reservado. Uma situação que me pareceu na altura o "fim do mundo" acabou por se revelar das melhores coisas que me podiam ter acontecido.

 

A arte nasce connosco ou é possível “forçar” para ser artista?

A arte, talento e sensibilidade nascem connosco, mas não basta para se ser artista. Com essa base, depois, é necessária a formação, o investimento, a entrega e a resiliência.

 

Como se descobre que se é um eleito para determinada arte?

Há pessoas que o sentem desde sempre, outras que o descobrem por acaso, na minha opinião há muitos artistas perdidos por dogmas da sociedade, por medo. Para tudo é preciso coragem, e o caminho da arte não é um caminho fácil, é incerto e volátil, mas, na minha opinião, vale a pena.

 

Ter frequentado a mesma escola que Ewan McGregor e Sarah Lancashire (Guildhall School of Music and Drama) é chave para todas as portas da arte?

A Guildhall é uma escola excecional onde são postas à nossa disposição as ferramentas necessárias para construir uma carreira, mas nem toda a gente que lá entra tem depois as portas abertas. Mesmo frequentando uma destas escolas, o caminho depois é complicado para conseguir trabalho. Há muita competição.

 

Sair de Guimarães e “estrelar” em Inglaterra quer dizer que há bom ensino de música em Guimarães?

Sem dúvida! Eu comecei a minha formação no Círculo de Arte e Recreio, na Academia de Música Valentim Moreira de Sá e no Teatro Oficina. Guardarei sempre memórias incríveis e fiz amigos para a vida além de ter conseguido uma excelente base para prosseguir mais tarde no Conservatório de Música do Porto e na Guildhall.

 

O seu exemplo de afirmação no estrangeiro não tem sido replicado por outros vimaranenses. A que se deve?

Deve ser por não quererem sair da nossa cidade porque talento não falta!

 

Música ou arte dramática, qual a “praia” da Sofia?

As duas!

 

Em que projetos está atualmente a participar ?

Neste momento estou - quase, quase - a lançar o meu primeiro disco e espero poder vir apresentá-lo a Guimarães!

 

Para quem já interpretou o “Fantasma da Ópera” e ganhou importantes prémios internacionais, como encarou a proposta para participar numa novela?  

São coisas totalmente diferentes e encarei o convite como um maravilhoso desafio e oportunidade de aprender. Adorei a experiência.

 

Quais as maiores dificuldades para um júri que vota algo tão discutível como o “talento”?

Sofre-se muito naquelas cadeiras e sabemos perfeitamente que nunca poderemos agradar a todos com as nossas escolhas e decisões. O mais difícil é ver potencial que ainda não está preparado e escolher entre duas formas de arte totalmente diferentes.

 

O que é mais desejável na vida de uma artista como a Sofia: fazer de Maria no West Side Story ou interpretar Julieta na forma clássica?

No meu caso diria a Maria porque no fundo é a história de Romeu e Julieta, mas com música soberba.

 

Música e religião andam de mãos dadas. Imagina um concerto seu na Igreja da Oliveira, por altura do Natal…

Imagino sim!! Para o ano vou tentar concretizar essa excelente ideia.

 

5 RESPOSTAS RÁPIDAS
  1. Sugestão gastronómica? Arroz de Pato da minha mãe.
  2. Que livro está a ler? The Journey Home de Radhanath Swami.
  3. A música que não lhe sai da cabeça? Sinfonia Mare Nostrum de Jorge Salgueiro.
  4. Um filme de referência? La Grande Bellezza.
  5. Passatempo preferido? Montar legos com o meu filhote, Yoga e meditação.

Nota editorial: Por questões de natureza pessoal, Sofia Escobar optou por não comentar assuntos relacionados com a religião, política e futebol.

[Conteúdo produzido pelo Jornal O Conquistador, publicado em parceria com o Jornal de Guimarães. Entrevista da edição de janeiro de 2022 do Jornal O Conquistador.]

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