Também se lê "Os Lusíadas” no português de hoje, com ilustração no feminino
Obra que “não só faz parte do cânone português, como mundial”, Os Lusíadas vão aparecer em breve nas livrarias com uma roupagem diferente da norma, concebida a partir da Bienal de Ilustração de Guimarães (BIG), já na terceira edição. Em parceria com a Câmara Municipal de Guimarães, com a Universidade do Minho e com a editora Kalandraka, a BIG apresentou nesta segunda-feira de manhã uma versão da obra de Luís Vaz de Camões com um texto adaptado ao “português corrente” e um trabalho gráfico integralmente feminino, algo inédito no que se refere à literatura.
“Posso dizer com orgulho que Portugal, um país de que gosto e no qual trabalho, é o primeiro a fazer um trabalho ilustrado inteiramente concertado por mulheres, para uma obra que não só faz parte do cânone português, como mundial. Na ilustração, Portugal é dos países com mais representação. Temos artistas a trabalhar para o mundo inteiro”, realçou um dos diretores artísticos da BIG, Tiago Manuel, durante a sessão decorrida no Palácio Vila Flor.
Com ilustrações das artistas Carolina Celas, Joana Rego, Joana Estrela, Madalena Matoso, Amanda Baeza, Inês Machado, Mariana Rio, Catarina Gomes, Marta Madureira e Marta Monteiro e um ‘design’ elaborado por Joana Pires, a obra vai estar nas livrarias a partir de 21 de outubro.
A opção pelo feminino não foi um acaso; é uma tentativa de ir além da “igualdade” prevista “na lei e na Constituição” e da “retórica” que lhe está associada”, contendo a “força simbólica” de ser o primeiro trabalho de ilustração de uma “obra canónica” integralmente elaborado por mulheres, frisou o responsável.
O elenco, escolhido pelo júri dos vários prémios da BIG a partir de uma lista de ilustradoras mais vasta, dá uma “visão muito diferente” da epopeia face àquela que seria dada pelos homens.
Além das ilustrações, a edição apresenta ainda um texto adaptado à contemporaneidade, graças ao trabalho da professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, conhecedora da obra camoniana, Rita Marnoto.
“Uma obra destas implica cuidados e subtilezas. A pessoa mais indicada para adaptar o texto era a professora Rita Marnoto, com uma obra extensíssima em Camões”, explicou Tiago Manuel.
Lançada pela Kalandraka, editora especializada na publicação de obras ilustradas, a versão ilustrada de “Os Lusíadas” vai ter 1.200 exemplares, com 600 disponíveis no mercado livreiro, a um preço unitário de 35 euros.
A responsável Margarida Noronha disse sentir um “orgulho imenso” por ter no catálogo da editora uma obra com uma “modernidade gráfica” que pode levar o poema épico de Luís Vaz de Camões a “públicos-alvo” diferentes dos habituais.
200 exemplares para as escolas vimaranenses
Já Adelina Paula Pinto, vereadora com o pelouro da Cultura na Câmara Municipal, entidade que vai distribuir 200 exemplares pelas escolas do concelho, realçou que o trabalho das 10 ilustradoras convocam os leitores a “reinterpretarem” o trabalho de Camões e a “olharem o mundo com novas janelas”.
Outros 300 vão ser distribuídos pela Universidade do Minho. Para o reitor, Rui Vieira de Castro, esta é uma forma das instituições de ensino superior são mais do que os lugares onde se providencia “educação superior às pessoas” e se procura o “alargamento das fronteiras do conhecimento”.
“[A Universidade do Minho] também quer ser uma instituição que intervém no desenvolvimento cultural, social e económico. (…) A partir da própria reitoria da universidade, já temos editado obras fundamentais da literatura portuguesa, como Os Lusíadas por comemoração dos 30 anos da Universidade do Minho [em 2003]”, recorda.
Rui Vieira de Castro vincou ainda que a adaptação do texto de Camões para o “português corrente” visa “permitir um acesso mais generalizado a uma obra que nem sempre os jovens e a população em geral alcançam”.