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Teatro Jordão abraçou vários mundos num festival para partilhar… e pensar

Tiago Mendes Dias
Cultura \ segunda-feira, setembro 25, 2023
© Direitos reservados
Vários nomes dos blogues de viagens passaram pelo anfiteatro no fim de semana para falarem de culturas diversas ou sustentabilidade no turismo. Presidente da ABVP fala em expetativas superadas.

A manhã de domingo estava ainda a raiar quando Arturo López Illana subia ao palco do Teatro Jordão para falar de culturas várias a partir dos retratos captados pela sua objetiva; o fotógrafo de viagens espanhol mostrou a comunidade de Tana Toraja, na Indonésia, onde os mortos são parte do dia a dia dos vivos – fisicamente -, a limpeza de latrinas na Índia pelas pessoas consideradas párias ou intocáveis, a categoria mais desfavorecida do sistema de castas que vigora naquela cultura há séculos, ou um ritual do povo fulani, no Chade (África Central).

A diversidade cultural em imagens foi uma das protagonistas da terceira edição do ABVP Travel Fest, decorrida em Guimarães, no sábado e no domingo. Além de querer inspirar os participantes “a fazerem coisas, a serem melhores pessoas, a irem atrás dos seus sonhos e também a se divertirem”, o evento foi “um momento de partilha” que procurou lançar a reflexão sobre o futuro do turismo, adianta ao Jornal de Guimarães o presidente da Associação de Bloggers de Viagens Portugueses (ABVP).

“Vimos o “The last tourist”, que põe o dedo na ferida nas questões do excesso de turismo e nos casos de voluntariado que, na realidade, não são voluntariado. Gostaria que as pessoas saíssem daqui a pensar. O filme não tinha por objetivo dar respostas, mas levantar questões. Se calhar todos nós podemos fazer um pouco mais nas nossas viagens em prol da sustentabilidade socioambiental do nosso planeta”, vincou Filipe Morato Gomes.

Quem viaja deve ponderar se quer “ser parte da solução ou parte do problema na questão da sustentabilidade ambiental”, acrescenta o responsável de uma associação que se norteia por três princípios: a “valorização do trabalho dos produtores de conteúdos”, a aplicação da “ética do jornalismo ao ecossistema dos bloggers de viagens” e “a partilha de conhecimento e de informação” para gerar “melhores contadores de histórias”, escritas, em vídeo ou em fotografia.

Agradado com a hospitalidade e gastronomia de Guimarães, Filipe Morato Gomes realça que os participantes aproveitaram para conhecer a cidade – muitos dos estrangeiros no painel ainda não a conheciam –, num fim de semana de expetativas superadas. “Está a superar muito as expetativas. Vejo isso na cara dos oradores, na cara de todo o staff, na cara dos participantes. Não é só o que se passa dentro do Teatro Jordão. As palestras têm sido muito inspiradoras”, realçou.

 

Uma rua de Hargeisa, capital da autodenominada República da Somalilândia, onde esteve Guilherme Canever

Uma rua de Hargeisa, capital da autodenominada República da Somalilândia, onde esteve Guilherme Canever

 

A Somalilândia tem presidente e moeda, mas é um país que não existe

Depois de um sábado com os canadianos Dave & Deb, do blogue The Planet D, com o angolano José Pinto Silva, protagonista de uma “palestra completamente diferente”, relativa às tribos do sul de Angola, e com o chego Janek Rubes, autor do canal de YouTube The Anti-Touristic, o domingo começou com Arturo López Illana e prosseguiu com Guilherme Canever, perante um auditório quase cheio.

Autor do blogue Saí por aí, o viajante brasileiro contou as experiências vividas em 16 regiões do mundo que se veem como países, mas não são reconhecidos pela comunidade internacional. Esse trabalho deu, aliás, origem ao livro “Países que não existem”.

Guilherme Canever esteve, por exemplo, na Abecásia, uma região separatista da Geórgia que se vê como uma república, na Transnístria, região entre a Moldávia e a Ucrânia, ou na Somalilândia, o território correspondente à antiga colónia do Reino Unido no Corno de África, a região mais oriental do continente, sem reconhecimento internacional de qualquer país; a comunidade internacional vê aquela área como parte da República da Somália.

“A Somalilândia surpreendeu-me muito, porque funciona totalmente como um país, com as suas instituições, mas não é reconhecida por nenhum outro país. Tem uma moeda própria, um presidente e controla as fronteiras. Isso fascinou-me. Quis descobrir um pouco mais sobre esses lugares com esse sistema”, descreve ao Jornal de Guimarães.

Apesar desse limbo afetar o dia a dia das pessoas que aí vivem, até por serem territórios normalmente associados a guerras e alvo de bloqueios comerciais, Guilherme Canever também vislumbrou muitos hábitos que poderia encontrar noutros países quaisquer, amplamente reconhecidos pela comunidade internacional.

“Economicamente, há dificuldades, mas, por outro lado, as pessoas são muito ligadas às terras. Independentemente dos governos, a vida era normal. A andar na rua, vi casamentos, vi crianças a comer um sorvete e a brincar”, realça. “Às vezes, fantasiamos que esses lugares são completamente diferentes, mas as pessoas têm as mesmas necessidades de toda a gente, apesar de conflitos muito vivos”.

O segundo e último dia do ABVP Travel Fest contou ainda com David Freitas, do projeto "Ambulance for hearts", JoAnna Haugen, viajante e responsável por um site com recomendações para a escrita de viagens, o escritor José Luís Peixoto, sobre literatura de viagens, e Torbjorn Pedersen - Thor -, a primeira pessoa no mundo a conhecer os 203 países do mundo sem recurso ao avião.

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