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"Temos o sonho de ver as obras terminadas, em condições condignas"

Bruno José Ferreira
Sociedade \ quarta-feira, maio 01, 2024
© Direitos reservados
Há quase três décadas, nasceu uma associação para defender os interesses dos moradores do Bairro da Emboladoura. “Mais do que nunca necessária”, ela atua com "proximidade", vinca Elisabete Dourado.

A Associação de Solidariedade Social Moradores da Emboladoura surge em 1996 para defender os interesses dos moradores. Passados quase 30 anos, continua a ser importante na comunidade?

Mais do que nunca. Principalmente nesta fase que estamos em obras. Estes prédios estão quase a fazer 50 anos. Há a questão das obras e continua a ser necessário. Se deixarmos de ter pequenas associações como esta, quem está no poder acaba por não ter um bocado de pressão. Penso que todos os bairros deviam ter uma associação para lutar pelos direitos dos moradores.

 

Como é o funcionamento normal desta associação?

Infelizmente não temos muitos sócios, vivemos essencialmente disso, das quotas, e de iniciativas que vamos fazendo, como torneios de sueca, o São João, essas coisas, para angariar fundos. Temos cerca de 160 sócios, não todos pagantes, mas nunca digo que não a ninguém, mesmo que não seja sócio e venha cá pedir ajuda para resolver alguma coisa. Estamos sempre prontos a ajudar.

A sede está aberta quase todos os dias, da parte da tarde. Mas isto é um bairro, toda a gente me conhece, sabe onde vivo. Mesmo não estando aqui, vão bater à porta. Quase toda a gente tem o meu número e contacta-me. Há pessoas que não vejo muito por cá, mas, quando se faz alguma iniciativa, acabam por colaborar e estar presentes.

 

Que apoio dá no dia a dia, a que ajudas se refere?

Às vezes, é para tratar de papeis para a Segurança Social, para preencher documentos que às vezes não sabem, mesmo para o IHRU (Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana) às vezes é preciso contactar por este ou outro motivo, nessa parte ajudamos.  Aquilo que nos pedem, só não fazemos se não pudermos.

 

A associação é, então, o rosto dos moradores junto de instituições como a Câmara Municipal de Guimarães, a Junta de Freguesia de Gondar e o IHRU?

Sim. Passa quase sempre tudo por aqui. Já me conhecem nas instituições. Acabamos por ter um vínculo mais estreito. A realidade é que não deixamos de colaborar com essas entidades. Já somos mais ouvidos no município. Tivemos uma fase em que não éramos tão ouvidos como somos agora. A associação já tem um bocadinho de peso pelo trabalho desenvolvido ao longo dos anos.

 

Mesmo em relação ao IHRU?

É diferente. Já é mais complicado. Ligo com eles, falamos, temos alguns contactos diretos de engenheiros, porque às vezes é mesmo necessário, mas continuo a achar que continuamos a ser um pouco ignorados. Gondar não fica na cidade. Tudo bem que a Câmara pode queixar-se do mesmo problema, mas, na cidade, parece mal certas coisas e o IHRU vai e faz. Bem vemos a comparação de um bairro para o outro, na questão da sobras, como estava o nosso bairro e o da cidade. É cidade, são mais ouvidos e parece mal.

Temos gente que está em tribunal com o IHRU desde 2014, e em Guimarães também havia. Na altura, foi esta associação que começou com esse processo. Queríamos as obras. Depois vieram associações da cidade, de Guimarães, do Porto, de Lisboa. Há vários bairros neste processo. Se não andássemos com isto para a frente, se calhar o IHRU não vinha fazer as obras.

 

As obras estão a decorrer em todo o bairro?

Não em todo o bairro. Em alguns locais, ainda está algo lento. A batalha continua. Ainda há pouco tempo assinamos um protocolo com o IHRU, a Câmara e outras associações, e eu disse que espero que a obra termine para acreditar, porque ainda temo que a obra não vá até ao fim conforme previsto. Vamos esperar para ver.

 

A própria questão da inclusão e da solidariedade é também uma faceta da associação?

Sim. Tentamos sempre, com outras associações da freguesia, colaborar nas iniciativas que possam surgir. Temos o Grupo Folclórico, que é daqui da associação, que também nos ocupa mais tempo. Mas qualquer que seja a iniciativa tentamos sempre estar presentes, ajudar a que haja integração, por forma a fazer o máximo pela freguesia. Na questão solidária, infelizmente não conseguimos ajudar tanto como queremos. A associação não tem verbas para poder ajudar como gostaria, mas tentamos sempre encaminhar para as instituições ou entidades mais adequadas, como a Fraterna.

 

Que projetos tem para o futuro da associação? O que gostava de ver concretizado?

O que gostava mesmo, não só eu, era de ver as obras terminadas e poder dizer que o bairro está como deve ser para se poder viver, porque há situações que não têm ainda condições dignas. O sonho era esse, ver a obra feita em condições. Quando entrei na associação, para fazer secretariado, que é o curso que tenho, foi precisamente para ajudar os moradores nesse processo das obras. Vivo com isso, com a luta dos moradores e a tentar ajudar o mais possível, seja no que for.

 

“Proximidade”, uma forma de ajudar que “podia ser mais aproveitada”

Habitante do Bairro da Emboladoura, em Gondar, desde 2013, Elisabete Dourado cumpre o segundo mandato de quatro anos como presidente da Associação de Solidariedade Social Moradores da Emboladoura. “Acaba por ser gratificante poder ajudar as pessoas”, diz. De acordo com a sua experiência, a “proximidade” que esta e outras associações acabam por ter é algo que “poderia ser mais aproveitado”.

“No caso do IHRU, quando aumenta as rendas, tudo bem que pede documentos, mas às vezes os documentos que pede não têm lá o fundamental; não perguntam se a pessoa gasta muito dinheiro na farmácia, por exemplo”, destaca Elisabete Dourado, acrescentando que “nem tudo está na declaração de IRS”.

Daí que existam pessoas que passam por momentos de “dificuldades, às vezes na miséria”, e as instituições acabam por demorar a dar resposta. “Há situações em que as pessoas têm vergonha de falar e, quando se tem vergonha de falar, é porque há dificuldades. As pessoas não gostam de dizer”, conclui. Considera que, nesses casos, podia haver “um maior trabalho conjunto para tentar avaliar as situações”.

De qualquer das formas, na Associação de Solidariedade Social Moradores da Emboladoura, “vai-se fazendo o que se pode” com os instrumentos disponíveis. “São situações difíceis de identificar. As instituições não conseguem. Pessoalmente toca-me bastante. Vamos tentando perceber as situações e encaminhar, ou para a Junta de Freguesias, ou para a Câmara ou para a Fraterna”, considera a presidente.

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