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Toural acolhe Rede 8 de março por “um segundo turno” mais igual

Tiago Mendes Dias
Sociedade \ terça-feira, março 08, 2022
© Direitos reservados
A equidade na divisão das tarefas domésticas, para anular a sobrecarga de trabalho que, por norma, recai sobre as mulheres, foi uma das reivindicações na concentração decorrida nesta terça-feira.

Se no começo do século XX, a luta pelo reconhecimento social da mulher se travava pelo direito ao voto, mais de 100 anos depois essa ânsia do género feminino pela igualdade expressa-se em outros campos – apesar das mulheres não poderem votar ainda no Níger, na Nigéria, no Quénia, no Uganda, no Egito, na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes Unidos, em Omã, no Paquistão, no Qatar e na Papua-Nova Guiné.

As reivindicações contemporâneas passaram pelo Toural nesta terça-feira, inscritas em cartazes: “Somos herdeiras das lutas feministas”, “saia não é convite” ou “nem a terra, nem as mulheres são território de conquistas” eram algumas das mensagens exibidas pelas cerca de 50 pessoas que se concentraram por iniciativa da Rede 8 de Março, espalhada por todo o país.

Apesar das “conquistas” alcançadas desde o início do século XX, Isabel Lisboa declarou ao Jornal de Guimarães que “a total equidade entre ambos os géneros” está ainda longe de ser alcançada. Um dos campos em que nota mais desigualdade é naquilo que, no mundo anglo-saxónico, se designa de second shift – a desigualdade no cumprimento das tarefas domésticas obriga muitas mulheres a “um segundo turno” de trabalho após terem cumprido o dever profissional.

“Há alguns anos, o homem era o ganha-pão e a mulher ficava em casa com as tarefas domésticas. Hoje temos o segundo turno. A mulher vai para o seu trabalho habitual, chega a casa e vai fazer o seu segundo turno de trabalho. As mulheres continuam a ser responsáveis pela maior parte do trabalho doméstico”, descreve a manifestante de 36 anos.

Para Isabel, a resolução de problemas como o acesso desigual a “cargos de coordenação e de chefia” ou a recusa de oferta de empregos a “mulheres que engravidam” exige ação política. Dá até uma sugestão para mitigar essa disparidade: o “alargamento do período de parentalidade para os dois géneros”, até para cimentar a busca por “direitos iguais” que também pode vir a beneficiar os homens.

“Os direitos iguais beneficiam todos”, reitera. “Os homens veem-se muitas vezes presos numa sociedade que lhe concede uma masculinidade tóxica, sem liberdade para se expressar emocionalmente. Parece que tem de ser sempre forte e responsável por tomar decisões. E isso não faz sentido para muitos homens”.

A desigualdade salarial é outra questão que merece atenção, considera Isabel. Ao lado, Juliana Serra, também de 36 anos, concorda. “É preciso começar a pagar o mesmo às mulheres e aos homens pelas mesmas funções”, defende.

A violência doméstica e a sobrecarga de trabalho doméstico nos ombros das mulheres são outras realidades que, a seu ver, merecem discussão. A seu ver, a “educação” é o caminho para acabar com as disparidades. “É preciso sensibilizar as camadas mais jovens para uma igualdade na divisão das tarefas”, vinca. “Atividades como lavar a roupa, fazer a cama, limpar a casa não têm de ser tarefas típicas da mulher. Elas não têm género, na verdade. Pertencem a ambos”.

 

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