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No Cano, os acordes e os intérpretes mudam, mas a tradição de Reis persiste

Tiago Mendes Dias
Cultura \ terça-feira, janeiro 23, 2024
© Direitos reservados
Cantar as Janeiras é uma das âncoras dos Trovadores do Cano. Embora seja difícil atrair membros, o coletivo altera o reportório à medida que o tempo passa, num início de ano com agenda sempre repleta.

Acostumado aos sons dos Trovadores do Cano desde que se lembra de ser gente, Francisco Freitas Peixoto prepara o cavaquinho para mais uma atuação. Habitante da rua da Fontela, contígua à Arcela, em Azurém, o intérprete leva cerca de uma década ao serviço de uma coletividade em que reavivou o hábito das Janeiras – ou dos Reis -, nutrido por muitos anos noutro agrupamento da paróquia de São Dâmaso.

“Andei a cantar com os escuteiros cerca de 35 anos. Depois parei. Já estava cansado. Depois vim ajudar os Trovadores, pois estavam a ficar sem elementos. Perguntaram-me se eu queria cantar os Reis com eles, e aceitei”, recorda o instrumentista de 69 anos, ostentando o traje de sempre: camisa com o símbolo do grupo bordado e cachecol verde e branco.

Ao lado, o homem da concertina admite que é “cada vez mais difícil arranjar pessoas” para um grupo que promove os Cantares de Reis e os cantares minhotos. “Os Trovadores sempre foram um grupo de muita gente. Consoante o tempo foi passando, as pessoas foram envelhecendo”, descreve Nuno Cunha, membro da coletividade há cinco anos.

Apesar da imperiosa necessidade de renovação, os Trovadores continuam a fazer das Janeiras um dos períodos mais ativos do seu calendário; a média anual de atuações em encontros e festivais de Reis oscila entre as 15 e as 18, num périplo por Guimarães e por concelhos vizinhos como o de Vizela que termina sempre em casa, bem perto do Castelo e do Campo de São Mamede.

“Neste ano, temos o nosso 23.º encontro de Reis em 04 de fevereiro. Vamos a muitos encontros e fechamos com o nosso. Costuma ter entre sete e oito grupos”, descreve o responsável, assinalando a homenagem a Fernando Pereira Ribeiro, antigo intéprete, sócio e benfeitor dos Trovadores do Cano, que morreu em 30 de novembro. A atual sede, revestida a granito, foi, aliás, erguida com dinheiro angariado em encontros de Reis.

 

“Todos os anos temos músicas diferentes”

Uma das paragens habituais no itinerário de Reis é a Câmara Municipal de Guimarães. Neste ano, os 11 intérpretes daquele coletivo protagonizaram uma atuação de 30 a 40 minutos perante o presidente, Domingos Bragança, e os vereadores Paulo Lopes Silva, Nelson Felgueiras e Ana Cotter, em 05 de janeiro.

O reportório mantém-se fiel à tradição, mas altera-se todos os anos, confirma Nuno Cunha. “Temos os Reis Antigos que se mantêm. Agora, as nossas entradas, os nossos Reis Novos, as nossas despedidas são alteradas todos os anos. E os nossos Reis são baseados numa música tradicional conhecida, mas as letras são escritas por nós”, descreve.

Há, todavia, algo que se perpetua num grupo com mais de 60 anos de história: o seu hino é interpretado em todos os espetáculos.

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