Um “novo rumo” para o cesto: Vitória quer formar para as equipas principais
Coordenadora da formação desde o início da época, Analen González defende as duas equipas por escalão ou os torneios internacionais para estimular o desenvolvimento competitivo de quem ali dribla e lança.
Entre o ruído da borracha na madeira, as ordens do treinador e os dribles das colegas, Mariana Fernandes faz uma pausa. Entrou para o minibasquete do Vitória SC em 2017 e viveu, desde então, “anos bastante diferentes”, com três treinadores. Na temporada em curso, a sua equipa venceu todos os jogos do campeonato sub-14 feminino da Associação de Basquetebol de Braga, selando o título a 18 de dezembro. “A maior parte das jogadoras está junta desde o minibasquete. Esta época está a ser uma das melhores. Tínhamos mudado de treinador no primeiro ano de sub-14 e tornámos a mudar no segundo ano. Adaptámo-nos bem. A equipa continuou muito unida”, resume a jogadora de 14 anos.
Pedro Ribeiro é o timoneiro do grupo. Antigo jogador das camadas jovens e da primeira equipa vitoriana, o treinador regressou ao Vitória na época 2021/22 para treinar o escalão sub-16 masculino e assumiu, neste ano, o sub-14 feminino. “Tive muita sorte. É um grupo muito equilibrado, bem treinado. Só precisei de juntar as peças e de motivar as jogadoras. Ganhámos o distrital. Era o nosso principal objetivo”, admite.
A única equipa campeã na formação vitoriana é parte de uma estrutura que reúne 170 atletas, masculinos e femininos; o número está em linha com os que o Vitória, único clube de Guimarães federado na modalidade, apresentou nos últimos cinco anos: segundo dados do Centro de Estudos do Desporto de Guimarães, acolheu 150 praticantes na época 2017/18 e 206 em 2021/22, incluindo seniores masculinos e femininos.
Outras coisas mudaram, porém. Enquanto jogador da formação, Pedro Ribeiro habituou-se a um clube “sempre lá em cima” nas competições distritais, antes de ser “um bocadinho ultrapassado”. Espera, por isso, que a “restruturação muito grande a nível diretivo” na época em curso seja o impulso para um futuro em “patamares mais elevados”. “O basquetebol tomou um novo rumo. Espero que seja o certo. Este é um ano zero”, vinca.
Para já, o técnico pensa no campeonato nacional sub-14, oportunidade para “tentar tirar o melhor de cada atleta” diante de “equipas muito mais fortes”. “O foco está na melhoria das atletas a nível individual, mantendo o coletivo e ganhando o máximo de jogos possível, sempre com aquele sonho um bocado irreal de sermos campeãs nacionais. As miúdas merecem-no pelo esforço, mas é muito difícil”, projeta.
“Se detetar um talento nos sub-12, há um trabalho a fazer para chegar aos seniores”
Cara nova na estrutura vitoriana, Analen González começou a jogar basquetebol aos 10 anos, a treinar aos 14 e decidiu, aos 18, fazer da “paixão” a sua “profissão”. Passou os últimos cinco anos a coordenar o Club Basquet Ferreries, de Menorca, antes de se reaproximar da sua cidade natal, a galega Ourense, na presente época desportiva; depois do contacto de Fernando Monteiro, diretor do basquetebol vitoriano, assumiu, em agosto, funções semelhantes às que desempenhara nas Ilhas Baleares. “Um treinador trabalha na quadra. Um coordenador coloca em sintonia todo o staff dos vários escalões de formação. No fundo, tem de criar uma linha de trabalho para os miúdos”, explica.
Aos 33 anos, Analen encontrou em Guimarães um clube “bom”, com “muita vontade” de se afirmar, mas avisa que é preciso “mudar mentalidades”, algo que requer “muito trabalho”. O desporto, salienta, tem de ser “um pilar fundamental” no dia a dia dos jovens basquetebolistas. E o Vitória deve-se preocupar, acima de tudo, em projetar a formação para a equipa principal. “Se detetar um talento nos sub-12, há um trabalho a fazer para chegar aos seniores”, diz. “Como coordenadora, o meu maior êxito seria, dentro de cinco anos, ter jogadores nas equipas principais. Ainda estamos bem a tempo”.
A responsável gostaria até de ver o clube preto e branco como “referência” da formação no Norte, mas esse desígnio exige estímulos competitivos. Um deles é a divisão de cada escalão em duas equipas: uma “mais forte” e outra “menos evoluída”; até agora o método tem sido adotado nas equipas masculinas, mas não nas femininas, perante o insuficiente número de atletas. Já os torneios internacionais no final da época, para os atletas conviverem com “outras formas de jogar”, estão em equação.
Analen González assiste ao treino no Pavilhão da Universidade do Minho, em Azurém, mas os treinos da formação distribuem-se por outras infraestruturas. Mesmo sem novidades quanto ao pavilhão anunciado pela Câmara Municipal para a escola EB 2 e 3 João de Meira, a coordenadora vê utilidade num espaço vizinho ao Pavilhão Desportivo Unidade Vimaranense. “A esta mesma hora, os sub-12 estão a treinar noutro local. Isso não ajuda a que as equipas se mantenham em contacto, a criar essa família”, observa.
Ricardo tem um “sonho”
Capitão da equipa sub-16 masculina aos 14 anos, Ricardo Costa treina quatro vezes por semana e também crê que um novo pavilhão na João de Meira “ajudaria” o Vitória. “Há aqui três escalões a treinarem e apenas dois campos”, constata, enquanto se afasta, por instantes, de mais um treino orientado por Orlando Postiga Simão.
Agradado com os treinadores que tem encontrado, com a “vontade de jogar” dos colegas e com a sua “evolução”, o jovem basquetebolista enaltece a temporada até agora protagonizada pela equipa, terceira classificada na fase final distrital, em janeiro. “Conseguimos o principal objetivo, o de chegar à final four. Conseguimos o terceiro lugar, roubando-o a uma equipa [BC Barcelos] que era apontada ao segundo lugar”, analisa.
Ligado ao basquetebol desde os seis anos, Ricardo habituou-se a jogar em escalões acima da idade e pede, por vezes, aos colegas de turma para jogarem com ele no recreio da EB 2 e 3 Egas Moniz. Quanto ao futuro, sonha alto. “Gostava de ter uma carreira no basquetebol. Gostava de um dia chegar à NBA. Era um sonho”.