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Maria José Fernandes: “Um país mais qualificado tem menos disparidades”

Redação
Sociedade \ quarta-feira, janeiro 25, 2023
© Direitos reservados
Vimaranense Maria José Fernandes é presidente do IPCA e defende que o ensino superior deve ser feito em proximidade. Só com maior qualificação é possível desenvolver o país.

A vimaranense Maria José Fernandes, defendendo um ensino superior de proximidade, entende que só com maior qualificação e com uma contínua aprendizagem podemos melhorar e aumentar o desenvolvimento económico do País. Presidente do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA) e presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores, Maria José Fernandes, num perseverante registo institucional, evita celeumas, explica as vantagens do ensino politécnico e garante que Guimarães acolhe bem os docentes e os alunos deslocados.

ENTREVISTA: Esser Jorge Silva e José Luís Ribeiro

Que vantagens pode ter um aluno ao escolher o ensino Politécnico em vez do ensino Universitário?

O ensino superior politécnico tem uma orientação para a criação, transmissão e difusão do saber de natureza profissional com uma investigação orientada e experimental. Pese embora esta distinção, gostaria de salientar que o mais importante é que o estudante ingresse no ensino superior, e que existem instituições com maior aplicação e investigação aplicada e mais direcionada para o exercício da profissão do que outras.

Em termos de estatuto, pode-se dizer que a existência de doutoramentos nos politécnicos – como advoga – nivelará, definitivamente, os dois sistemas de ensino?

A outorga dos doutoramentos pelos politécnicos permite a concretização plena da missão do ensino superior em Portugal, em que os estudantes podem ter a possibilidade de obter o grau de doutor nas instituições que melhor estão preparadas, quer em termos de docentes e investigadores, quer pela investigação desenvolvida, para atribuir o grau de doutor. Dito de outra forma: não deve ser a lei formal a permitir que uma instituição de ensino superior atribua um determinado grau, no caso o grau de doutor, deve ser antes a competência e a qualidade do ensino e da investigação realizada, devidamente avaliada e acreditada pela A3ES, a permitir que a instituição de ensino superior possa atribuir esse grau.

Apesar da confessada boa oferta do ensino superior, Portugal não consegue “dar o salto” nas estatísticas, muito pelo contrário: estamos a ser economicamente ultrapassados pelos países ao antigo bloco leste. O que explica tal paradoxo?

O ensino superior tem desempenhado muito bem o seu papel de motor do desenvolvimento económico, tendo, nestes últimos anos, um papel determinante no significativo aumento das pessoas que frequentam o ensino superior. Importante enaltecer que pela primeira vez Portugal atingiu o indicador de 50% de jovens com mais de 20 anos inscritos no ensino superior...a meta para 2030 é de 60%, pelo que ainda há um longo caminho a percorrer. A taxa de diplomados entre os 30 e 34 anos cresceu 4% em 2021 face a 2020 para 44% e 20% numa década, promovendo 1,65 milhões de diplomados na população ativa. Relembro que a obrigatoriedade do ensino secundário tem poucos anos e que a aprendizagem ao longo da vida é um objetivo muito recente. Só com maior qualificação superior e com uma contínua aprendizagem podemos melhorar e aumentar o desenvolvimento económico do País.

A produtividade parece nada querer com Portugal, mas a qualidade do trabalho português é revelada na sua produtividade quando emigrante. Outro paradoxo! A que se deve?

Para melhorar a produtividade não é suficiente a qualidade excelente dos trabalhadores portugueses, sendo fundamental a inovação e a diferenciação do produto, em que a investigação é essencial para esse desiderato. Desde sempre assumimos que a investigação deve estar ao serviço do desenvolvimento do tecido económico e social e é em conjunto (instituições de ensino superior, empresas, associações profissionais e empresariais) que devemos fazer.

Qual a melhor receita para alavancar a economia: aproximar as empresas às exigências do ensino superior ou adequar o ensino superior ao nível das empresas?

Como disse e está reconhecido, a investigação e desenvolvimento são muito importantes para que as empresas e para que os serviços públicos possam aumentar a sua produtividade e, assim, aumentar o desenvolvimento económico de Portugal. A interação e a constante cooperação entre as empresas e as instituições de ensino superior são o motor para aumentar o crescimento económico. Mas para isso é importante aumentar a qualificação das pessoas, continuando a dar todas as condições para que todos possam concluir os seus estudos superiores. Acredito também que o aumento do número de estudantes com competências práticas, ao nível dos cursos secundários profissionais, cumprindo a meta dos 55% de estudantes do enino secundário no ensino profissional estabelecida para 2030, poderá melhorar o índice de produtividade, e o ensino superior politécnico está alinhado com o prosseguimento de estudos para estes estudantes, através do concurso especial para estudantes provenientes das vias profissionalizantes e dos cursos técnicos superiores profissionais.

Recentemente o IPCA alargou o seu território: Por via dos Cursos Técnicos Superior Profissionais (CTeSP), além de Barcelos, está em Braga, Guimarães, Famalicão, Esposende e Vila Verde. Depois dos CTeSP, haverá licenciaturas e mestrados nos pólos?

Os CTeSP, enquanto ensino superior, permitiram o aumento significativo de estudantes no ensino superior e a rápida integração nas empresas, resolvendo as necessidades de mão de obra qualificada. Os diplomados com CTeSP detêm uma elevada qualificação profissional fruto da formação prática, laboratorial e ou oficinal. Estes diplomados podem, ainda, continuar os seus estudos para obterem o grau de licenciado. O IPCA, enquanto instituição de ensino superior com o maior número de cursos e estudantes em regime pós-laboral, permite a estes diplomados conciliar o exercício da profissão com a continuidade de estudos.

O IPCA criou uma escola superior que tem como missão ministrar os cursos técnicos superiores profissionais, sendo a única em Portugal. O objetivo principal de todos os polos do IPCA é ministrar a formação dos cursos TeSP, sem prejuízo de, pontualmente, poderem ser ministrados cursos de mestrado, como já acontece no polo em Braga e em Guimarães.

Mas os cursos de licenciatura só estão autorizados para funcionar no campus do IPCA, em Barcelos e em Guimarães, no caso da Escola Superior de Hotelaria e Turismo.

O concurso para a Escola Hotel de Guimarães ficou deserto. Para quando a sua abertura?

A não existência de propostas neste concurso público resulta do aumento generalizado dos preços que tem provocado que vários concursos públicos fiquem desertos. A Câmara Municipal de Guimarães fez a revisão do preço base e brevemente será lançado um novo concurso público para a empreitada de obra pública nos termos do Código dos Contratos Públicos.

Guimarães consegue atrair e acolher plenamente o ensino superior? Esse nível de ensino está devidamente integrado ou ainda existe uma cisão?

O ensino superior de proximidade, que o IPCA oferece no seu polo de Guimarães é muito bem acolhido por toda a comunidade vimaranense, e em particular no AVEPARK onde está plenamente integrado juntamente com o ambiente tecnológico e de inovação que o caracteriza. Este ano iniciamos a oferta do CTeSP em Gestão das Instalações Desportivas e Desporto no, Multiusos de Guimarães, numa colaboração próxima com a cooperativa municipal Tempo Livre, promovendo assim a integração do IPCA na cidade desportiva e no ambiente promotor de bem-estar do Concelho.

Os docentes e os alunos deslocados são bem acolhidos em Guimarães?

Sim, quer docentes quer estudantes deslocados são bem acolhidos em Guimarães, notando-se o forte investimento na oferta de transportes públicos, com vantagens específicas para quem reside em Guimarães. Aguardamos com expectativa a construção da via dedicada de ligação ao AVEPARK, para que possamos aproximar os professores e estudantes deslocados do polo do IPCA em Guimarães.

O concelho adapta-se e converte em “mais-valia” as novas realidades induzidas pela comunidade escolar, em especial do Polo IPCA de Guimarães nas Taipas? Resposta:

Acreditamos que sim, não apenas pela normal atividade económica gerada pela presença de uma comunidade académica de cerca de 500 pessoas (docentes, estudantes e funcionários), mas sobretudo com a realização de estágios curriculares nas empresas, e na melhoria das qualificações dos recursos humanos. Como também por via do envolvimento através da participação em seminários e atividades académicas de capacitação e divulgação que promovemos as quais constituem uma salutar ligação ao território. Saliento ainda que temos parcerias com escolas secundárias e profissionais para promoção dos nossos cursos superiores, sendo, de igual modo, um veículo para aproximar-nos à comunidade onde estamos inseridos.

O Papa considera que a educação é uma “semente da esperança” para a construção duma “civilização da harmonia, da unidade, onde não haja lugar para esta pandemia terrível da cultura do descarte”. O que acrescentaria?

As qualificações obtidas através das ofertas formativas do ensino superior, para além das competências técnico-científicas, promovem a diversidade, o humanismo e a inclusão, da qual nos orgulhamos de trabalhar diariamente com os estudantes. O ensino superior não se afunila apenas na aprendizagem “dos livros” e investigação, há todo um contexto em que se fomentam as relações interpessoais, a cooperação, a entreajuda, o companheirismo. Os estudantes “crescem” e sedimentam a sua personalidade no ensino superior, é sem dúvida uma vivência muito enriquecedora e de evolução pessoal em que se criam condições para o saber-ser e o saber-estar.

Eu acho que um país mais qualificado é um país com menos disparidades sociais e, por isso, mais justo e tolerante.

No Pacto Educativo Global, o Papa defende que uma “educação frutuosa só é possível com a colaboração conjugada de todas as instituições ou associações implicadas na Educação: família, escolas e outras instâncias da Igreja e da sociedade civil”. Na prática, essa articulação é feita?

Como já o mencionei, os nossos princípios passam pelo envolvimento muito próximo com toda a comunidade e com diferentes tipologias de instituições e acreditamos que é na e pela diversidade que conseguiremos almejar o desiderato de chegarmos a mais jovens e adultos e trazê-los para o ensino superior e, desta feita, valorizar a educação, a ciência e a investigação e pô-las ao serviço do desenvolvimento e da criação de uma sociedade mais justa e desenvolvida.

É uma pessoa de fé? Existe alguma figura da Igreja da Católica que mais a tenha marcado e influenciado o seu quotidiano?

Sou uma pessoa de fé.

Como avalia o pontificado do Papa Francisco?

Julgo que tem pautado a sua atuação pela proximidade, pela atenção ao outro e por colocar no centro da sua ação princípios que considero muito importantes e estruturantes como a dignidade humana, a tolerância, o respeito.  

 

5 RESPOSTAS RÁPIDAS
  1. Sugestão gastronómica?
    PICA no chão
  2. Que livro está a ler?
    “A Ilha das Trevas” de José Rodrigues dos Santos
  3. A música que não lhe sai da cabeça?
    Por estes tempos ... “Guerra Nuclear” da Marisa Liz
  4. Um filme de referência?
    “A Lista de Schindler”
  5. Passatempo preferido?
    Caminhar

[Conteúdo produzido pelo Jornal O Conquistador, publicado em parceria com o Jornal de Guimarães. Entrevista da edição de janeiro de 2023 do Jornal O Conquistador.]

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