
"Um projeto com tudo para ficar na gaveta ganhou asas"
Entre o Hospital da Senhora da Oliveira e o GuimarãeShopping, quase invisível a quem passa, ergue-se o “Colosso de Pedralva” — uma escultura monumental que, durante décadas, permaneceu esquecida. Agora, graças à iniciativa dos alunos do 7.ºD da Escola EB 2/3 D. Afonso Henriques, o monumento ganhou nova vida, uma placa informativa e destaque nacional, ao vencer o concurso “Vamos Fazer um Plano”, promovido pelo jornal PÚBLICO e pelo Plano Nacional das Artes.
A história começou há dois anos, quando o professor de Educação Visual, Sérgio Silva, decidiu incluir o património local nas aulas do 6.º ano. “Este monumento ficava muito próximo da escola e alguém perguntou o que seria. Eu próprio não sabia. Então, organizámos uma aula de campo para desenhar, fotografar e investigar. Foi assim que tudo começou”, recorda.
O arqueólogo Gonçalo Cruz ajudou a desvendar o enigma: a estátua foi identificada no final do século XIX por Martins Sarmento, desmontada em três fragmentos e reconstruída no Museu Martins Sarmento, em 1929. “Chamam-lhe ‘Colosso’ pela dimensão, mas também era conhecido como Homem de Pedra. A sua origem é incerta — pode ser mitológica, como um Neptuno, ou até uma arte sacra, como São João. É improvável que seja romana, mas continua a intrigar-nos”, explica.
Para os alunos, o impacto foi imediato. “Quando vi o tamanho, percebi porque logo que se tratava de um colosso. Representar a escola num projeto conhecido foi um orgulho para nós e para as nossas famílias”, diz um dos participantes. A professora Eugénia Almeida sublinha o mérito coletivo: “Os alunos mantiveram o entusiasmo durante dois anos, envolveram professores e comunidade. É um verdadeiro exercício de cidadania.”
Alunos 7.ºD da Escola EB 2/3 D. Afonso Henriques
A artista residente Ana Caldas reforça o papel de apoio: “A minha função é dar força a projetos que poderiam ficar à deriva. Aqui, incentivei alunos e professores a concretizarem a ideia.” Já a professora de História, Ana Isabel Gonçalves, salienta que “foi preciso um professor levá-los até lá. Muitos são de Guimarães e nunca tinham visto o Colosso. Um projeto com tudo para ficar na gaveta tornou-se parte da história do concelho.”
O resultado é uma placa bilingue, com texto de Gonçalo Cruz e tradução de Eugénia Almeida. E no olhar atento destes alunos, o professor Sérgio Silva viu algo maior: um exemplo de compromisso e de valorizar o que é de todos.