Um “ser-vivo” que encontra uma comunidade para partilhar (bons) “devaneios”
Mesmo quando o n.º25 da Praça de São Tiago toldou para enfrentar a pandemia, “o carinho das pessoas” que se habituaram a passar pelo Oub’Lá não parou de chegar. Sem a habitual atividade cultural, traço indissociável do espaço “aberto ao que vem de fora”, choveram donativos. “Mais do que a parte monetária foi o carinho e o sentimento à nossa volta”, explica Jorge Lopes.
O episódio é sintomático da comunidade que se construiu à volta de um espaço que é mais do que um bar com programa cultural. “Achamos que é especial toda a atmosfera que se vive por cá. E isso deve-se à tal abertura: vemos uma comunidade que se vai juntando, vai participando. E nós beneficiamos disso”. Jorge Lopes está no meio há muitos anos.
Fundou o espaço – “extensão da minha sensibilidade e gostos”, pontua – há quatro anos. “Sentíamos que fazia falta haver uma coisa fora do plano institucional”, acrescenta. Atravessou “dois anos normais” e outros tantos atípicos. Antes da pandemia nublar os dias de opacidade, a luz ligada noite dentro. Por ali passaram “meia centena de concertos” de bandas emergentes – nacionais e de latitudes como Angola ou Japão.
Aqui há cunho de Diogo Coelho, com mais pendor na programação cultural. “Quando abri o espaço foi logo a primeira pessoa com quem falei. O Oub’Lá não seria o Oub’Lá sem o trabalho dele”, frisa o “faz-tudo” do espaço. Além dos concertos – o próximo é o dos portuenses DON PIE PIE –, há lugar para DJ sets. “O mais certo acontecer no Oub’Lá é teres uma experiência diferente todos os fins de semana”, resume Jorge.
E nem as paredes escapam: os muros interiores são espaço para exposições de artistas que entram em contacto. E é esta proximidade que se vai fomentando. “O Oub’Lá é quase um ser-vivo, conhecemos novas pessoas, surgem oportunidades. É essa a ideia do bar, a essência do bar, e é inegociável”.
Com a pandemia, o “cardápio” de propostas engordou. Surgiram as noites de quizz para mitigar a saudade de dançar – e as noites de trivia vão continuar. A comunidade aderiu. “Temos a sorte de termos por perto gente que partilhe dos nossos devaneios”.