
Uma espada em riste para brandir mais forte a cada golpe sofrido
Favorito ou não, o Vitória não se verga: de Ta’Qali a Sevilha, do último golo de Jota Silva com a camisola do rei ao remate pleno de oportunidade de Nélson Oliveira, da estreia europeia de Rui Borges à estreia europeia de Luís Freire, são 13 os jogos consecutivos sem derrotas na Liga Conferência.
O desta quinta-feira revestia-se de especial adversidade – o adversário era o sexto classificado da Liga Espanhola, no seu Benito Villamarín capaz de reunir 60.000 almas –, mas os homens trajados de negro estiveram, de novo, à altura da prometida ambição e da perpétua esperança dos adeptos – os 2.000 que se fizeram ouvir em Sevilha e os muitos milhares que permaneceram em Portugal.
Não é descabido comparar a aparição do Vitória no país vizinho à de uma fénix: tanto foi esplendoroso na sua plumagem mais aveludada, como se desfez em cinzas, antes de renascer, pronto para mais um sopro de vida. Esse apurado bater de asas sentiu-se na primeira parte: o Vitória teve mais posse, jogou com mais requinte, com uma construção que se assemelhava à de um relógio suíço. Como tem sido padrão nesta época, o último passe ficou aquém do restante processo. Quando ele apareceu, sublime do pé direito de João Mendes, Hevertton falhou clamorosamente o golo inaugural.
Estavam decorridos 37 minutos, e a equipa de Luís Freire, técnico estreante nas lides da UEFA, era a melhor em campo: Tomás Händel e Tiago Silva pautavam todos os momentos do jogo, enquanto Umaro Embaló acelerava para sujeitar a defesa verdiblanca a calafrios. Focado, sereno e senhor das suas tarefas, o Vitória também foi equilibrado. Assim teve de ser para conter um adversário que aproveitava cada falha ou hesitação para levar perigo à baliza de Bruno Varela, ainda que desconexo na circulação de bola: aos 22, o guardião vitoriano negou o golo a Bakambu com uma defesa instintiva.
Altiva, a fénix começou a oscilar mal soou o apito para a segunda parte. Mais rápido, mais objetivo, mais criativo, o Betis encostou o Vitória às cordas. Bakambu fez enfim o gosto ao pé, na conclusão de um lance confuso. Todo o esforço vitoriano reduzia-se a cinzas… por breves instantes. Era difícil imaginar renascer tão magnífico quanto o que se viu ao minuto 51. A superior técnica de João Mendes conheceu o espaço necessário para balançar o corpo e atirar para o fundo das redes, num remate tão espetacular quão irrepreensível. Vieites bem se esticou… em vão.
O embate tornava-se cada vez mais difícil; a equipa de Héliopolis mostrava, enfim, algum do brilho que se lhe reconhecera no triunfo de domingo sobre o Real Madrid, com variações de flanco e passes a rasgar no timing certo. A resistência vitoriana durou até ao minuto 75, com a conclusão natural de Isco, um craque, a um contra-ataque superiormente desenhado.
Os comandados de Manuel Pellegrini pareciam ter o ascendente para guardar a vantagem na eliminatória no cofre da Torre del Oro, mas Nélson Oliveira desfez o enredo e, à socapa, descobriu a chave para a roubar: com um movimento à meia-volta, o ponta de lança desferiu um remate rasteiro que seguiu praticamente a única trajetória que poderia dar golo. O caminho era difícil, mas o Vitória combinou bravura e destreza para manter tudo igual na antecâmara da segunda mão dos oitavos de final. A eliminatória resume-se agora a um jogo, no Estádio D. Afonso Henriques. Uma nova ida aos quartos de uma competição europeia está à distância de 90 minutos… 38 anos depois.