Vitória SC: quando a viagem parecia controlada, eis o desnorte total
O minuto 72 é talvez aquele que melhor resume o encontro entre Vitória e Portimonense, para a quinta jornada da Liga Portugal Betclic: na sequência de mais um erro algarvio a sair a jogar – foram dezenas -, a equipa de Guimarães recupera a bola junto à área contrária e cria uma, duas, três oportunidades no mesmo lance até ao desfecho com um remate por cima com a baliza deserta. Esse minuto reúne a falta de concentração e a displicência vitorianas ao longo de um jogo em que os comandados de Paulo Turra dominaram amplamente, frente a um adversário raramente capaz de incomodar. Ainda assim, o conjunto de Portimão soube aproveitar o desnorte que gradualmente se apoderou do Vitória para operar a reviravolta e triunfar pela primeira vez no campeonato. O bis de Carlinhos selou o 2-1 final.
Depois das novidades táticas apresentadas frente ao Tondela, jogo de má memória para o universo vitoriano, a equipa de Paulo Turra regressou este domingo a um desenho mais familiar: Bruno Gaspar e Afonso Freitas assumiram os seus lugares nas alas de uma linha intermédia com cinco elementos e João Mendes voltou à posição mais adiantada do meio-campo.
As mudanças surtiram efeito… em parte: os homens de preto e branco privilegiaram mais vezes o passe vertical do médio para André ou Jota Silva, mas as decisões nas imediações da área algarvia raramente foram as melhores; remates em áreas demasiado povoadas por elementos trajados de amarelo e passes transviados com tempo e espaço que permitiam melhores decisões são alguns desses exemplos.
O Portimonense foi uma equipa frágil a defender e a atacar, mas não completamente inofensiva: os seus lances perigosos têm precisamente origem nesses frequentes erros de cálculo na manobra vitoriana, possibilitando o espaço com que Hélio Varela ameaçou as redes à guarda de Bruno Varela ao minuto 12, na recarga a uma saída do guarda-redes, e ao minuto 24, numa arrancada da esquerda para o meio até ao remate que rasou o poste esquerdo.
Quando a ligação entre os setores funcionou, o Vitória dominou claramente o jogo, mas as recorrentes hesitações, expressas na linguagem corporal de vários jogadores, manteve a baliza algarvia a salvo de mais perigo. Assim foi na primeira metade, quando houve tempo para Jota Silva rematar ao poste, aos 40 minutos, e na segunda, por Tomás Händel, aos 58, por Tiago Silva, aos 65, e por Nélson da Luz, aos 72, com o remate por cima com a baliza completamente deserta a constituir cereja no topo do bolo quanto ao que desperdício diz respeito.
O Portimonense apresentaria a fatura dessa displicência no derradeiro quarto de hora: a caixa de Pandora abriu-se com o penálti escusado de Manu Silva sobre Gonçalo Costa. Carlinhos fez o empate e teria tempo para impor a quarta derrota da época ao Vitória em jogos oficiais. Num tempo de compensação de puro desnorte – de ambas as partes, diga-se, com erros atrás de erros e posicionamentos deficientes em campo -, o Portimonense aproveitou melhor a circunstância, num remate em arco do médio, indefensável para Bruno Varela.