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Westway dá palco à criação de Candoso, lugar para “viver e respirar música”

Tiago Mendes Dias
Cultura \ sexta-feira, abril 12, 2024
© Direitos reservados
Num registo acústico e etéreo, Mafalda e Zoe Berman deram o último dos concertos associados às residências artísticas do festival, num processo que pode ser oportunidade de descolagem para músicos.

Zoe Berman e Mafalda encaram-se através da meia luz que paira no café-concerto do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), para 30 minutos onde emergem a guitarra, o ukulele, ligeiros sons de ambiente e eletrónicos, mas sobretudo a harmonia das suas vozes, condutoras das letras e da música criadas ao longo da última semana e meia.

O que se viu na quinta-feira à noite foi uma apresentação ao vivo “de duas sensibilidades” das para as quais “não foi difícil encontrar um meio-termo”, realça Zoe Berman. “As nossas criações são parecidas. O que apresentámos é a combinação dos nossos estilos. Não escrevo música pesada. É leve e etérea, dentro do registo de um cantautor acústico e de um registo que procura a harmonia”, realça a cantora e compositora norte-americana, radicada em Denver, Colorado.

De regresso à música, após se ter lançado com o projeto Matilda, entre 2017 e 2019, a vimaranense Mafalda completa: “Escrevemos canções de forma diferente, mas gostamos de escrever sobre as mesmas coisas. Ambas nos focamos nos sentidos. Eu baseio-me muito na cor. Juntas, escrevemos canções que mencionam cheiros, sabores, sensações visuais”.

Estes perfis consubstanciaram em meia hora de nova música durante a residência artística no Centro de Criação de Candoso, uma das marcas do Westway LAB. Na 11.ª edição, coube a Zoe e Mafalda encerrarem o ciclo das residências artísticas, após os concertos de Phaser + debdepan e de Metamito + SMYAH, na quarta-feira, e de Vile Karimi + Haizea Huegun, essa na quinta-feira.

Todos os músicos se encontraram na antiga escola primária de São Martinho de Candoso, circunstância que moldou o processo de criação. Ligada à música desde criança – aprendeu piano clássico a partir dos nove anos e guitarra desde os 13, começando a compor desde então – Zoe participou pela primeira vez numa residência artística de “24 horas por dia e sete dias por semana”, uma “experiência muito diferente”. “Como não podíamos ir a mais lado nenhum, permitiu-nos viver e respirar a música e a sua composição. Se não estivéssemos a escrever, podíamos estar a conversar e a apreciar a companhia uns dos outros”, salienta ao Jornal de Guimarães.

O testemunho de Mafalda vai no mesmo sentido. Ligada à música desde tenra idade, com formação clássica num conservatório entre os 10 e os 16 anos e também uma experiência na Escola do Rock, de Paredes de Coura, a artista de Guimarães vinca as diferenças entre compor música isoladamente e num espaço onde coabitam várias pessoas nesse sentido. “Podemos sentir a companhia das pessoas. Isso molda a experiência: toda a gente trabalha para o mesmo objetivo, o de fazer música. Todos fomos agradáveis e respeitosos uns com os outros. Estávamos no espaço uns dos outros a toda a hora”, conta.

A própria sala influenciou as composições apresentadas no Vila Flor. Como dava “muito eco” e tinha “pouco mobiliário”, o ensaio com microfones foi tardio, por exemplo. “Só começámos a ensaiar ontem [quarta-feira]. Antes, estávamos apenas a usar o som da sala”, constata. Essa música a dois que se ouviu no café-concerto emergiu de forma orgânica, sem planos ao pormenor, mas Zoe e Mafalda pensam gravá-la após um tempo para o material respirar. “Sinto que preciso de conhecer uma canção por alguns meses antes de a gravar, porque a minha relação com ela pode mudar. Ao tocá-la ao vivo, algumas palavras parecem diferentes”, explica Zoe.

A residência artística é um modelo que Mafalda gostaria de voltar a testar. “Gostaria de explorar mais este registo com a Zoe e com outras pessoas”, assume.

 

Vimaranense Mafalda regressou à música com residência em Candoso © Pedro C. Esteves

Vimaranense Mafalda regressou à música com residência em Candoso © Pedro C. Esteves

 

“Um descolar para oportunidades”

Com “uma vibração” na senda das edições anteriores, o ciclo de residências artísticas do Westway LAB congrega “uma parte emocional muito bonita”, “uma parte artística que se vê em palco” e também “a questão da diversidade”, com “projetos muito distintos em palco”. “No cruzamento e no emparelhamento dos artistas, resulta algo sempre inesperado”, sublinha Rui Torrinha, diretor artístico do festival.

No fundo, o Centro de Criação de Candoso é parte de “um ecossistema em ebulição da música”, no qual se conhecem músicos, se criam relações e nascem projetos, daí o mote we lift off [descolamos, em língua portuguesa]. “Há um descolar para oportunidades a partir do Westway para muitos artistas. É uma mistura entre Guimarães receber uma vibração internacional e exportar os artistas nacionais para outros circuitos de música ao vivo”, frisa.

O responsável lembra o caso de dois duetos trabalhados nas residências de Candoso que atuaram no Future Echoes, festival sueco, e adianta que, nas residências deste ano, floresceram “projetos promissores” ao ponto de haver artistas que vão gravar e editar juntos. “Há uma química para seguir caminho. A semana em Candoso foi incrível para todos os músicos envolvidos. Esse lastro depois do Westway vai continuar, como outros projetos anteriores das residências”, vaticina.

 

Residência como a do Westway LAB foi novidade para Zoe Berman © Pedro C. Esteves

Residência como a do Westway LAB foi novidade para Zoe Berman © Pedro C. Esteves

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