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Zoo Story: teatro que é “viagem pela comunicação” em língua gestual

Tiago Mendes Dias
Diversidade & Inclusão \ quarta-feira, fevereiro 22, 2023
© Direitos reservados
Peça de Marco Paiva está sexta-feira e sábado no CCVF e dá ao público a hipótese de a seguir por audiodescrição ou apenas pela língua gestual. É uma busca por “lugares de convergência” com o outro.

Escrita em 1958 e estreada em 1959 pelo dramaturgo norte-americano Edward Albee, “The zoo story” explora as possibilidades de comunicação entre dois homens, um rico com estabilidade familiar e outro isolado da sociedade, num banco do Central Park, em Nova Iorque. Mais de 60 anos depois, o ator e encenador Marco Paiva recriou essa obra para explorar o mesmo tema, mas com outras nuances: a partir das 21h30 de sexta-feira e das 16h00 de sábado, Marta Sales e Tony Weaver, dois intérpretes surdos, protagonizam um espetáculo integralmente construído em língua gestual portuguesa no Pequeno Auditório do Centro Cultural Vila Flor. A missão é a de “extravasar” a “relação de comunicação” do palco para a plateia, onde o público se assume como “terceira personagem”, à procura de “um lugar de relação”.

“Sendo um espetáculo em língua gestual portuguesa, ele é legendado em todas as récitas, tem audiodescrição e narração. Maioritariamente, [o público] está habituado a espetáculos em que a palavra aparece a partir da oralidade (…) A Zoo Story é uma grande viagem pela comunicação, para os artistas em cena, mas também para quem assiste a sua proposta”, descreve ao Jornal de Guimarães o diretor artístico da Terra Amarela, entidade que se apresenta como plataforma de criação artística inclusiva, na origem de peças como “Aldebarã”, “Fado aos bichos” ou “Calígula morreu. Eu não”.

Cabe ao espetador a “escolha” de como se relacionar com o espetáculo; assim o é que se estreou em 06 de outubro de 2022, no Teatro Nacional D. Maria II, uma das estruturas coprodutoras da obra, a par da Terra Amarela, da Oficina, do Cine-Teatro Louletano, do Centro de Artes de Águeda e da Culturproject. Mesmo com a audiodescrição ao dispor, há muitos espetadores não surdos que têm optado por usufruir somente da língua gestual de “Zoo Story”, relata Marco Paiva.

“Grande parte das pessoas faz a escolha de não ter audiodescrição. Não segue legendas. Segue a língua gestual enquanto conceito plástico para o espetáculo”, realça. Tais escolhas provêm de um público até agora “variado”, com “muitas pessoas surdas” que nunca tinham tido “oportunidade de assistir a um espetáculo na sua língua”, assim a peça pode ser também “uma experiência extraordinária de transformação de públicos”, observa o encenador natural da Covilhã, que já trabalhou igualmente com pessoas com deficiência intelectual no Crinabel Teatro.

 

“Levar a temática para fora da sala”

Através de uma peça que descreve como “muito visual” – na cenografia, nos figurinos e no desenho de luz, além dos gestos -, Marco Paiva ambiciona um despertar para a “falta de acessibilidade” de “um conjunto grande de pessoas” aos lugares públicos; o encenador diz mesmo que “Zoo Story” é “um encontro com a diversidade comunicativa a partir de um objeto teatral” e, ao mesmo tempo”, um “desafio” a construir um quotidiano com pessoas normalmente afastadas desse processo.

“Que no momento em que saiamos da sala de teatro, estas questões continuem a fazer parte do nosso dia a dia. Este espetáculo deseja levar a temática para fora da sala”, afirma, defendendo uma visão da arte e do mundo que entroniza “a possibilidade de cada um ser feliz com a sua identidade num espaço coletivo”.

Cada bilhete para o espetáculo custa 7,50 euros ou cinco euros, com desconto.

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