(Re)pensar o sistema e a narrativa do “soldadinho de chumbo”
Viver num sistema capitalista significa, ciclicamente, experienciar períodos de crise. O ano era 2020, a pandemia de Covid-19 parava o mundo e, consequentemente, os meios de produção. À semelhança do que aconteceu diversas vezes no passado, o capitalismo enfrentava, novamente, uma crise. Evidentemente que esta crise afetou a classe trabalhadora, e não os grandes detentores das grandes riquezas. De acordo com o relatório publicado pela Oxfam, publicado dois anos após a pandemia, enquanto se gerava uma crise no setor alimentar, entre outros setores, surgiram mais 62 novos multimilionários, como os Walton, detentores da cadeia alimentar norte-americana Walmart. Mas então como é que o sistema daria a volta a esta situação? A solução passou pelo forte investimento do dinheiro público na industrialização - apostar na indústria do armamento como meio de reinvenção da economia.
É curioso pensarmos no contexto dos últimos cinco anos: uma pandemia, a inflação dos preços dos bens essenciais, o degradar das condições de vida de um modo geral. O contexto de crise - e a falha no apoio por parte dos Governos -, traz consigo a velha história do inimigo, o crescimento da mentalidade do “nós e o outro”, aquele que é o culpado pelo problema, e cuja segregação é encarada, na história criada pela extrema-direita, como a solução. Afinal, é mais fácil culpar os emigrantes, as pessoas LGBT ou, pensando numa perspetiva internacional, a guerra na Ucrânia - ao invés de pensar e repensar o sistema.
A este contexto, e pensando no crescente investimento na indústria do armamento, acresce o aumento das tensões e dos conflitos à escala mundial. A máquina da guerra é fomentada pela crise, e pelos países que mais lucros geram com o escalar dos conflitos. Com o conflito crescem os investimentos no armamento, sendo esperado que os estados invistam mais dinheiro com a defesa, nomeadamente com a NATO. Simultaneamente, vai crescendo no seio social o medo da guerra e a defesa da corrida ao armamento. Hoje, somos progressivamente confrontados com anúncios acerca do quão bom é pertencer à força aérea ou ao exército - tendo servido de estímulo a esta narrativa da defesa e do “soldadinho de chumbo”, que apoia este belicismo.
O que todos os “soldadinhos de chumbo” ignoram é que esta narrativa é fruto do sistema, o sistema que os influencia a pensar que o caminho da guerra e o encontro de culpados é mais importante do que a promessa por paz e por infraestruturas eficazes para resolução dos problemas. A luta contra as ameaças e contra os “senhores da guerra” deve ser feita, assim como o combate social sobre o militarismo. Esta é, do mesmo modo, uma questão de bem-estar ambiental - vivemos dias cada vez mais quentes e instáveis, também consequência desta nova industrialização. A prioridade deveria ser a procura de soluções para a paz, e não o incremento da guerra.