A coleção integral do CIAJG estará à vista a partir de outubro
No piso mais acima do Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), abre-se uma sala com 38 máscaras que encaram o visitante; elas provêm de diferentes culturas africanas, maioritariamente subsarianas, e foram adquiridas por José de Guimarães na década de 80. “É o ex-libris do museu”, reconhece ao Jornal de Guimarães a coordenadora artística, Marta Mestre.
A partir de outubro, porém, os cavaletes que as suportam serão virados para a parede, obrigando o público a deslocar-se até ao fundo da sala para as ver. “Será feito assim para obrigar as pessoas a uma nova perceção do espaço. São experiências que fazemos ao longo do tempo para não mantermos o museu imóvel. Ele não pode imobilizar-se”, acrescenta.
Essa é uma das novidades alinhavadas para o próximo ciclo expositivo, a inaugurar a 08 de outubro. A outra é o esvaziamento das reservas: o que se vê das coleções de arte africana, arte antiga chinesa e arte pré-colombiana é apenas uma parte do que o centro de arte contemporânea alberga. O acervo de 1.128 objetos vai-se espalhar pelo museu, segundo intervenção arquitetónica de André Tavares e de Ivo Poças Martins.
A acompanhar o assalto às reservas, o CIAJG vai apresentar uma exposição de Sara Ramo, artista hispano-brasileira que, entre 2019 e 2020, apresentou no Museu Reina Sofia, de Madrid, lindalocaviejabruja, um trabalho em que reformula o significado de objetos com cada vez menos espaço no quotidiano das pessoas.
Estas são marcas de um ciclo que se vai designar Heteróclitos, revela Marta Mestre: “Tem precisamente a ver com esse caráter polifónico. É uma espécie de continuação da ideia de Voz Multiplicada. Os heteróclitos têm a ver com aquilo que é estranho, distinto entre si”.
Em associação à dimensão expositiva, o dia inaugural terá ainda música e cinema, num programa com atividades das 11h00 às 23h59, “se tudo correr bem”, adianta Marta Mestre. A programação musical estará a cargo da Revolve, editora e promotora vimaranense, responsável pelo festival Mucho Flow, por exemplo. Já a sessão de cinema, reservada para a black box, assinala o encerramento da quarta edição do Terra; na véspera, o mesmo espaço acolhe o quarto e último concerto desse ciclo de músicas e cinema do mundo.
Museu tem de mudar. Na coleção de arte antiga chinesa, fá-lo-á em definitivo
Ainda no piso superior, são dezenas as peças que se acumulam ao longo de uma sala escura e esguia: figuras humanas, animais, recipientes para vinho ou alimentos, bacias ou modelos de fogão em jade, bronze ou terracota.
A configuração da coleção de arte antiga chinesa, com artefactos referentes a períodos como o da cultura Hongshan (3400 – 2300 a.C.), o dos Estados Combatentes (475 – 221 a.C.) ou à dinastia Han (202 a.C. – 220 d.C.), está prestes a mudar… definitivamente.
“A arquitetura não nos convida a descobrir as peças. Temos o lado A e o lado B. É uma estrutura demasiado volumétrica para a leveza que queremos dar. Vamos ter uma nova expografia. A sala será intervencionada de forma permanente”, revela Marta Mestre.
Para a coordenadora artística, essa é uma atitude em consonância com a de um museu “sempre em mudança”, como, a seu ver, deve ser o CIAJG. “Nada está igual ao que estava na inauguração. Por vezes, as pessoas dizem que já foram ver uma vez e não precisam de ver mais. Mas temos sempre exposições renovadas”, conclui.