Alunos "desapontados" com condições do Jordão — falta cantina, wi-fi e água
Há um ajuntamento perto do Campus de Azurém da Universidade do Minho (UMinho). Há cartazes em riste, outros guardados debaixo do braço. Os pedaços de cartão com mensagens escritas em letras garrafais estão nas mãos de alunos dos cursos de Artes Visuais e Artes Performativas, que serpentearam as ruas da cidade rumo ao Teatro Jordão. Porquê? O manifesto lido antes da partida deixava tudo explicado: “Hoje, dia 20 de abril de 2022, nós, alunos do ensino artístico da UMinho, reunimo-nos para demonstrar o descontentamento para com todas as situações que têm vindo a aparecer neste espaço, [o Teatro Jordão], que habitamos há dois meses”.
Entre os cerca de 40 manifestantes está Helena Figueiredo, representante dos estudantes. A aluna resume a razão do “descontentamento”: “Estávamos todos à espera há quatro anos, toda a gente estava entusiasmadíssima para ir para o edifício novo e ficamos extremamente desapontados". Ambos os cursos reúnem cerca de 140 alunos, que são “inquilinos” do Teatro Jordão e Garagem Avenida há dois meses.
No entanto, apesar da mudança ser recente, os alunos dizem haver "falta de planeamento" num espaço “pouco acolhedor” e, como se lê no manifesto, “mal equipado, mal planeado e altamente disfuncional”. “Nem sequer wi-fi temos e nos dois últimos pisos não há água”, adensa a estudante.
Nos cartazes empunhados pelos alunos espalhavam-se menções aos “problemas”: “Cinco anos de falsas promessas”; “Nem água nem pão” – Helena Figueiredo adianta que o espaço não dispõe de uma cantina, apenas de dois micro-ondas “e algumas mesas”; ou a tarja na vanguarda da manifestação, que encapsulava o motivo do ajuntamento: “Artes e Teatro exigem melhores condições de ensino”.
E as exigências dos alunos integram o "Manifesto por Condições Dignas de Aprendizagem Artística" redigido pela organização da manifestação. Entre as 13 questões urgentes está a instalação de internet sem fios em todo o edifício; o funcionamento de serviços de secretaria, receção, bar e cantina; o aumento do horário de funcionamento do edifício – atualmente funciona das 08h00 às 20h00; ou privacidade nas salas de ensaio. Helena Figueiredo explica que a sala destinada a ensaios deixa que transeuntes “espreitem o que se passa no interior”. “É uma zona onde passam vários alunos, existe desconforto, até porque estamos a falar de aulas que são muitas vezes íntimas”.
A inexistência de casas de banho mistas – uma promessa que não se cumpriu, reiteram os estudantes – e a falta de acesso à galeria da Garagem Avenida e o palco do Teatro Jordão também são elencadas no documento lido e disponibilizado ao Jornal de Guimarães. “Nós, os estudantes, só podemos utilizar diversas partes do edifício, nomeadamente o seu exterior e até mesmo as entradas na parte superior ou na fachada principal, com permissão prévia. Isto significa que mostras de trabalhos, eventos dos alunos e simples circulação é impedida incessantemente”, lê-se.
Não vemos forma de andar para a frente
Helena Figueiredo lamenta que não haja celeridade nem respostas por parte da reitoria da Universidade do Minho nem da Câmara Municipal de Guimarães para resolver os problemas. “Nós falamos com os nossos professores, mas efetivamente não vemos forma de andar para a frente”, sublinha.
A obra de requalificação Teatro Jordão e da Garagem Avenida foi inaugurada no dia 12 de fevereiro. A regeneração do Teatro Jordão e Garagem Avenida, em plena Avenida D. Afonso Henriques, representou um investimento superior a 11,5 milhões de euros. Dois anos depois de ter começado a obra, que foi apoiada por fundos da União Europeia em cerca de 10 milhões de euros, a a inauguração contou com discursos do reitor da UMinho, Rui Vieira de Castro e do presidente da Câmara Municipal de Guimarães Domingos Bragança. O autarca dizia, na altura, que com o renovado Teatro Jordão Guimarães estava mais perto de ser mais do que “um centro de consumo cultural”.
O presidente da CCDR-N, António Cunha, falou de “um projeto notável, multidimensional, de educação e investigação, que vem permitir interseções entra arte e tecnologia.”. “Este é um excelente exemplo da boa aplicação de fundos comunitários que possibilitará um abrir de portas para o que virá a seguir na zona da Caldeiroa. É por aqui que passa a qualidade de vida das pessoas. É por aqui que passa a atratividade das cidades. É um projeto de cultura e criação.” , vincou.