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Ao terceiro ano, o Terra alimenta-se dos sons e das imagens do Brasil

Tiago Mendes Dias
Cultura \ quinta-feira, abril 22, 2021
© Direitos reservados
A cultura do país irmão invade o ciclo de músicas do mundo, que, neste ano, é também um ciclo de cinema documental no feminino. Selma Uamusse dá o primeiro concerto, a 21 de maio.

Após vaguear por latitudes europeias e africanas nas duas primeiras edições, o Terra decidiu, no terceiro ano, rasgar o Oceano Atlântico para se encontrar com a cultura brasileira. Este ciclo de músicas do mundo tanto percorreu a vizinha Galiza (Baiuca) e a ilha de Maiorca (Zulu Zulu), como voou até Angola (Aline Frazão), Cabo Verde (Julinho da Concertina), Níger (Kel Assouf) e Uganda (Otim Alpha). E o primeiro concerto do ciclo de 2021, apresentado nesta quinta-feira pela associação Capivara Azul, pisa as geografias já conhecidas, abrindo rotas para aquelas ainda por desbravar.

Selma Uamusse sobe ao palco da black box do Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) a 21 de maio. A viver em Portugal desde 1988, a autora tem explorado sobretudo os ritmos e as línguas nativas do país onde nasceu em 1981, Moçambique. Lançou, em 2018, o primeiro álbum, Mati (significa “água” em Changana, uma das três línguas mais faladas no país do Índico), e, no ano passado, o segundo, Liwoningo (significa “luz” em Chope, outra língua do país). Esse segundo trabalho explora o folclore moçambicano, coloca-o na mesma sala do rock, da eletrónica e da afrobeat, mas também se abre ao Brasil, já que o produtor é Guilherme Kastrup, reconhecido com um Grammy face aos álbuns que produziu para Elza Soares, cantora que a BBC definiu como a “rainha do samba”.

A porta entreaberta por Guilherme Kastrup é escancarada em dois dos três concertos que se seguem. A 16 de julho, Ayom exibe uma proposta assente na música popular brasileira, com influências afro-latinas, afro-portuguesas e mediterrânicas. As canções, aliás, estão escritas em português e espanhol, para serem interpretadas pela voz da brasileira Jabu Morales. A acompanhá-la, estão Alberto Becucci no acordeão, Timóteo Grignani e Walter Martins na percussão, Ricardo Quinteiro, no contrabaixo, e Olmo Marin, nas cordas.

O ciclo musical encerra com Luedji Luna, artista de Salvador (nordeste brasileiro), que traduz a cultura afro-brasileira, mas também questões sociais contemporâneas co,mo o racismo e o feminismo num som que congrega a música popular brasileira, o jazz e o rhythm & blues. O seu segundo disco Bom mesmo é estar debaixo d’água recebeu o prémio de melhor disco de 2020 nos Women’s Music Events Awards, no Brasil.

Pelo meio, a Capivara Azul coloca um pé na Ásia, mais propriamente na cultura chinesa, com Liu Fang. Residente no Canadá, a artista é uma virtuosa da pipa, instrumento tradicional chinês. Reconhecida pelos projetos Silk and Steel, em colaboração com vários músicos, e autora de nove álbuns, entre os quais Silk and Sound, que lhe valeu o prémio Academie Charles Cros (equivalente francês do Grammy), Liu Fang tanto já fez recitais a solo, como atuou com quartetos de cordas e orquestras.

A instrumentista atua em Guimarães a 01 de outubro, altura em que será inaugurado o segundo ciclo expositivo do ano no CIAJG, equipamento que inclui a coleção de arte antiga chinesa de José de Guimarães. O concerto inicia às 19:00, à semelhança dos outros três. Os bilhetes custam 10 euros e, além do concerto, dão acesso gratuito às exposições do CIAJG e também ao ciclo de cinema documental, a principal novidade deste Terra.

 

O cinema feminino do Brasil mostra-se no berço

As quatro sessões de cinema documental vão decorrer nos mesmos fins de semana dos concertos, às 17:00, também no CIAJG. A primeira proposta é A Febre, de Maia Da-Rin, a 22 de maio. Seguem-se Chão, de Camila Freitas, a 17 de julho, As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, a 02 de outubro, e Baronesa, de Juliana Antunes, a 30 de outubro.

O Brasil impera entre as propostas cinematográficas por ser um “país irmão”, com quem Portugal partilha “a língua, a história e a cultura”, mas também por ser um palco onde discursos “antirracistas, pós-colonialistas e feministas” estão em discussão, explicou a presidente da Capivara Azul, Luísa Alvão. “Há aqui ideias vanguardistas. E achámos interessante focarmo-nos em cinema feito por jovens realizadoras, todas mulheres”, acrescentou a responsável pela associação cultural.

O Terra expande assim horizontes, depois de, em 2020, o foco ter sido o de “cumprir o programa e o compromisso com o público”, algo que se verificou, mesmo com as limitações impostas pela pandemia. Ciente de que a iniciativa só se realizou no ano passado devido à colaboração da equipa da Oficina, entidade parceira no Terra, Luísa Alvão frisou que o Terra é uma forma de “manifestação política”, mas também de “criação de comunidade”, pela natureza coletiva dos espetáculos ao vivo, e até de dinamismo económico.

“Acreditamos que o nosso programa tem efeito económico. O Terra tem capacidade de atrair espetadores de fora da cidade e até de fora do pais, como aconteceu com o Baiuca [no ano passado]”, disse.

Ao lado, a diretora artística da Oficina, Fátima Alçada, considerou a edição de 2021 do Terra “mais ambiciosa e interessante” face às anteriores, até pelo diálogo que procura estabelecer com o local onde decorre. “Ela pensa e dialoga em proximidade com a coleção de José de Guimarães. Estamos a falar de um trabalho em conjunto, coletivo”, disse. Referiu ainda que o trabalho de associações como a Capivara Azul incentiva a Oficina a atingir “outro patamar de exigência, de esforço e de interesse”.

Também a vereadora para a Cultura em Guimarães, Adelina Paula Pinto, enalteceu o programa deste ciclo de músicas do mundo, financiado em 13 mil euros pela autarquia, ao abrigo do IMPACTA, por causa do “inconformismo” e da capacidade em oferecer uma “lente de observação do mundo”, algo que, a seu ver, corresponde ao papel da arte.

A ligação entre Guimarães e o Brasil não se resume ao programa elaborado pela Capivara Azul, salientou ainda Adelina Paula Pinto. No âmbito da comemoração do dia mundial da Língua Portuguesa, a 05 de maio, o município está a elaborar um protocolo com o Museu da Língua Portuguesa, de São Paulo, e também a elaborar uma parceria com a Funarte, entidade brasileira equivalente à portuguesa Direção-Geral das Artes, para uma interface entre arte portuguesa e arte brasileira a partir deste território.

 

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