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Manuel Ferreira: "Se não fosse o Seminário seria carpinteiro provavelmente”

Redação
Política \ sexta-feira, maio 12, 2023
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O antigo presidente da Junta de Freguesia de Fermentões e da Câmara Municipal de Guimarães lembra o movimento associativo e lança um olhar atento à realidade, sem esquecer as gerações mais jovens.

Manuel Ferreira, 78 anos, antigo Presidente da Câmara Municipal de Guimarães, sempre teve um papel muito ativo no movimento associativo, em Fermentões, freguesia onde nasceu e onde sempre viveu, mas também a nível concelhio. Essa intensa participação acabaria por conduzi-lo à intervenção política, primeiro na Junta de Freguesia de Fermentões, no início da década de 1970, e mais tarde como deputado eleito na primeira Assembleia Municipal da democracia, seguindo-se a presidência da Câmara Municipal de Guimarães, cargo que desempenhou entre 1983 e 1985.

Fizemos uma viagem pelas memórias de uma vida plena de atividade, desde muito novo, no Seminário de Braga, até à atualidade, mantendo um olhar atento sobre a realidade enquanto vai partilhando experiência e saber com as gerações mais jovens.

 

Enquanto responsável político, a sua ação também ficou assinalada pela criação de régies cooperativas; a que se deve essa opção?

Uma boa parte da minha vida, sete anos, foi passada no Seminário de Braga. Aí aprendi a preocupar-me com tudo, com a comunidade. Quando fui presidente da Câmara de Guimarães tivemos a oportunidade de fazer na vila das Taipas a apresentação do respetivo “Plano Estratégico”, preparado por uma empresa de arquitetura e num tempo em que o arquiteto Nuno Portas era consultor da Câmara. Foi a primeira vez que se fez uma reunião da Câmara Municipal de Guimarães fora da sede do município.

Nessa apresentação, um dia à noite, apareceram mais de 100 pessoas! Houve intervenções do público sobre questões relacionadas com viabilidade de construção, mas as mais frequentes foram sobre as razões por que as termas estavam fechadas. Nessa altura senti a obrigação de responder e a resposta foi simples: as termas estão fechadas por razões que não são de agora!

Percebi que havia uma preocupação pela reabertura das termas e prometi que não descansaria enquanto não encontrasse uma solução para a reabertura. Fizemos alguns contactos com empresários, mas sem sucesso. Assim, impunha-se encontrar uma solução. Por essa altura o Governo publicou um diploma que previa a criação de régies cooperativas. Eu sabia o que eram cooperativas, mas não sabia o que era essa nova figura. Procurei informar-me, olhando também para o que já se fazia em França e Inglaterra. Assim, devidamente esclarecido, propus à Câmara a criação de uma régie cooperativa aberta também a utentes de bens e serviços. Juntaram-se igualmente várias pessoas da vila das Taipas também interessadas em que fosse encontrada uma solução e avançámos. Foi assim que surgiu a primeira régie cooperativa, a Taipas Turitermas. Como deu certo, avançou-se para a criação de outras: Oficina, Tempo Livre, Fraterna.

Foi uma solução que correu muito bem. Por volta de 1986, o primeiro projeto aprovado pela União Europeia através do FEDER antigo, foi para a recuperação do edifício das termas, seguindo-se outras intervenções.

 

Fez os estudos no Seminário; porquê? Era a saída natural para um adolescente de então?

O meu pai era carpinteiro, o meu irmão era carpinteiro; se eu não fosse para o Seminário seria carpinteiro, provavelmente. Acho que a ida para o Seminário foi combinada entre o meu pai e o padre Machado, então pároco de Fermentões. Já há muitos anos reconheço que a maior riqueza que os meus pais me puderam dar foi porem-me a estudar no Seminário. Foram sete anos de estudo e de boas amizades que se mantêm.

 

Uma das marcas da sua atividade cívica está no trabalho com as associações.

Saí do Seminário em 1962 e regressado à paróquia peguei no grupo coral e no grupo de teatro. Em meados da década de 60 começava a anunciar-se a “Primavera Marcelista”, verificando-se um desabrochar da juventude. Alguns já iam para a Escola Industrial, um ou outro ia para o Liceu.

Através do grupo de teatro, iniciámos em Fermentões um movimento mais forte. Contudo, a ida de alguns de nós para a tropa abrandou esse movimento, que seria reanimado com o regresso do serviço militar.

 

É nesse tempo de abertura marcelista que chegou a Presidente da Junta de Fermentões; como foi o processo?

Nessa altura eu era funcionário da Câmara e já ajudava o então Presidente da Junta, Adelino Castro Costa, que não queria recandidatar-se. Um dia convenceu-me a ser candidato. Falei com algumas pessoas e acabei por ser Presidente da Junta.

Em 1974, na sequência da revolução, acabei por ser saneado. Curiosamente, no primeiro governo constitucional, foi Maria de Lourdes Pintassilgo Ministra dos Assuntos Sociais que, atendendo ao facto de eu estar ligado às preocupações das Casas do Povo, me nomeou para trabalhar no distrito de Braga no processo de saneamento dessas mesmas Casas do Povo.

 

Depois dessa experiência na Junta de Freguesia, acaba por fazer política de forma ainda mais ativa.

Nessa altura Fermentões era o modelo. Um dia, recebi em minha casa a visita do Dr. Fernando Alberto que já conhecia da Unidade Vimaranense, de que eu também fazia parte, propondo-me que integrasse a lista do PSD à Assembleia Municipal. Pedi um tempo para pensar, porque na altura já tinha duas filhas, uma delas pequena, mas aceitei. Contudo, ao mesmo tempo era delegado do Sindicato dos Bancários do Norte e a maioria dos meus colegas era ligada ao Partido Socialista ou independentes próximos. Eu não me sentia bem estando no sindicato, próximo do Partido Socialista, e na Assembleia Municipal ligado ao PSD. Refleti e escrevi uma carta ao PSD. Até hoje estou à espera que me respondam!

Algum tempo mais tarde fui convidado para ser candidato pelo Partido Socialista à Câmara. Houve conversações e acabei por aceitar. Passados alguns dias, no jornal “O Povo de Guimarães”, Raul Rocha anunciava que “Manuel Ferreira provavelmente será candidato a Presidente da Câmara pelo Partido Socialista”.

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