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Do improviso à “institucionalização”: jazz marca ritmo da cidade há 30 anos

Tiago Mendes Dias
Cultura \ quarta-feira, novembro 16, 2022
© Direitos reservados
Um concerto no Paço dos Duques desencadeou uma comissão entre Convívio e Câmara Municipal para se organizar o primeiro Guimarães Jazz. A associação queria “animar” uma cidade que à noite era “deserto"

20 de novembro de 1992. A big band do Hot Clube de Portugal, âncora do jazz luso desde 1950, desvendava os primeiros timbres do festival que ainda pontua o outono vimaranense 30 anos depois. O palco onde o sonho se fez música foi o Paço dos Duques, o mesmo que, um ano antes, acendera uma ideia no seio do Convívio. “Foi um concerto no inverno. Lembro-me de estar frio e de virmos lá de cima empolgados com a ideia de organizar um festival de jazz”, conta Rosa Maria Vaz da Costa, presidente do Convívio em 1992.

À época, a estrutura cultural da Câmara Municipal era “muito débil”, mas a urbe acolhia “exposições, concerto ou colóquios” todas as semanas, fruto dos “públicos e dos hábitos” cultivados pelas associações, lembra Jorge Correia, antecessor de Rosa Maria Vaz da Costa. Dinheiro e equipamentos também escasseavam: foi num dos mandatos de Jorge, o de 1990 ou o de 1991, que Guimarães adquiriu o seu primeiro piano, um Yamaha, num investimento repartido pelo Convívio e pela Câmara.

Um outro concerto no Paço, de Maria Ana Adão e de José Sarmento, pianista vimaranense, foi a mola decisiva para se formar a comissão organizadora do Guimarães Jazz, com aval do município, prossegue Rosa Maria Vaz da Costa. Faltava então um diretor artístico: perante a indisponibilidade de José Sarmento, a organização avançou para António Ferro, músico e diretor do Coliseu do Porto à época. “A gente tinha uma lata de primeira”, ri-se a antiga dirigente associativa. “Não conhecia o António Ferro de lado nenhum e liguei-lhe. Veio cá para uma reunião entre março e abril. Vestiu a camisola a 100%”.

Estavam reunidas as peças para se verter o projeto em programa: o primeiro, com nove concertos e um filme – Bird, de Clint Eastwood -, era sobretudo português. Terminava onde começava, com o Maria João Trio, depois de atravessar o Convívio, o Hotel Fundador, o Milenário e o Jetts, na rua Abade de Tagilde. O propósito era “animar” uma cidade que, à semana, era um “deserto” noturno. “Esses lugares tinham interesse nos concertos para chamarem público”, frisa Rosa Maria. “No concerto dos Dixie Gang, toda a gente saiu do Milenário para o Toural, a cantar e a dançar, à chuva”, sorri.

 

“Correr discotecas” do Porto para “entregar cartazes”

Mas a tensão entre a “animação da cidade” e a “qualidade dos concertos” expunha o festival a mudanças “sempre muito discutidas”, vinca Jorge Correia. A edição de 1993 concentra-se no Teatro Jordão e abre-se aos músicos de Nova Iorque – Art Farmer, Mal Waldron, Conrad Herwig. Atua também o brasileiro Hermeto Pascoal, riscado da edição inaugural por falta de orçamento: “Já trabalhava na Câmara e António Magalhães disse-me que só poderia dar metade do valor previsto. Cortei logo o nome maior”, conta Rosa Maria Vaz da Costa.

O cartaz feminino de 1994, com a saxofonista Jane Ira Bloom e a reconhecida baterista Cindy Blackman, dá vida ao recém-construído auditório da Universidade do Minho. E, em 2005, inicia-se o capítulo Vila Flor. “O projeto foi-se institucionalizando”, admite Jorge Correia.

Do que está para trás, ficam as memórias dos concertos no Milenário, de andar com as “aparelhagens às costas”, das grelhas de viagens, alojamento e refeição organizadas por Rosa Maria e do bater às portas de Jorge Correia. “Íamos pedir dinheiro aos industriais. E era quase certo eu e a Belita [Isabel Machado] irmos uma noite para o Porto correr discotecas para entregar cartazes”.

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