Em 2022, o Terra é um ciclo de “ficções”. A primeira é cabo-verdiana
O conceito de “ficções”, central para o programa do Centro Internacional de Artes José de Guimarães neste início da década de 20, vai igualmente nortear a edição do Terra que está para vir. A quarta edição do ciclo de cinema e músicas do mundo vai reforçar o “trabalho de contextualização dos temas coloniais”, abrindo com a atuação de Mário Lúcio, reconhecido músico cabo-verdiano que tem um novo disco, em colaboração com a banda Os Kriols.
O espetáculo está marcado para as 21h30 de 04 de março, na black box do CIAJG e será a primeira etapa de um ano que pretende questionar “a relação entre as músicas tradicionais não europeias, a presença colonial europeia nesses países e a lógica ocidentalizada da indústria musical”.
Descrito no comunicado da Capivara Azul, associação cargo deste ciclo, como um “nome maior das artes em Cabo Verde”, Mario Lúcio é o compositor mais gravado da história da música do seu país, com centenas de canções nos principais estilos de música do país, como a morna, o funaná, o batuque e a coladeira. Foi fundador e líder do grupo musical Simentera, um dos ex-libris da música cabo-verdiana, com os quais gravou nove discos entre Raiz (1995) e Funanight (2017).
Mário Lúcio sobressai ainda como romancista, poeta e dramaturgo. Foi ministro da Cultura do seu país, entre 2011 e 2016, e é também “um dos mais proeminentes pensadores do seu país”, destacando-se o livro recentemente editado “Manifesto A Crioulização”.
Em Guimarães, vai-se apresentar com Os Kriols, banda constituída por músicos portugueses com quem gravou nos últimos meses. Os bilhetes para o concerto já se encontram à venda e têm preços entre os cinco euros, para portadores do Cartão Quadrilátero Cultural, 7,5 euros, para menores de 30 anos e detentores de outros descontos de A Oficina e 10 euros, para o público em geral, dando acesso às exposições do CIAJG no dia do espetáculo e à sessão de cinema do mesmo fim de semana.
Sons do Brasil em maio
Em 2022, o ciclo Terra manterá o diálogo entre o cinema e a música no programa artístico, permitindo aprofundar as reflexões que se pretendem suscitar através do cruzamento das duas disciplinas artísticas. No primeiro fim de semana, a cidade-berço acolhe “Som&Morabeza”, primeira longa metragem da realizadora Cristéle Alves Meira, de 2008, que constitui uma viagem pela música cabo-verdiana.
O segundo concerto do ano está marcado para 21 de maio, com Mateus Aleluia, um dos fundadores da banda de culto baiana Os Tincoãs, ativos nos anos 1960 e 1970. Depois do sucesso, Aleluia mudou-se para Angola em 1983, onde passou a desenvolver um trabalho de pesquisa cultural para o governo angolano.
O ciclo Terra em 2022 vai prolongar-se até outubro e associar-se também à celebração dos dez anos da inauguração do Centro Internacional das Artes José de Guimarães, em junho.