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D. João IV com ciclovia, Cavalinho a evocar Vímara Peres e centro nivelado

Tiago Mendes Dias
Política \ domingo, novembro 12, 2023
© Direitos reservados
O estudo prévio para a avenida aconselha faixa de rodagem dividida entre cubo de granito e alcatrão. Monte Cavalinho terá a suposta estátua e rua de Santo António pode ser zona de coexistência.

A Avenida D. João IV pode estar preparada para mais usos no futuro, consoante o estudo prévio apresentado no sábado, no Centro Internacional das Artes José de Guimarães, diante de uma sala repleta de cidadãos, inclusive o de ciclovia.

O projeto até agora concebido pela Divisão de Estudos e Projetos da Câmara Municipal prevê o estreitamento da faixa da rodagem de sete para 6,5 metros (3,25 metros em cada via), repartindo a extensão num troço com cubo de granito, mais a norte, na confluência com o Largo da República do Brasil (Campo da Feira) e com Couros, e num troço em alcatrão mais a sul – esse alcatrão inclui, no entanto, inertes de borracha para diminuir o ruído do tráfego automóvel.

Apresentado pela arquiteta Susana Pereira, o projeto inclui também faixa para estacionamento e cargas e descargas, áreas como Zona 30 – passadeiras sobrelevadas ao nível dos passeios onde os veículos não podem ultrapassar os 30 quilómetros por hora -, passeios em microcubo de granito para aumentar a superfície permeável da rua, mais áreas verdes e uma ciclovia através de um dos passeios, o do lado descendente da avenida.

Também se mencionou as complicações para os peões no espaço em frente à Igreja de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos, onde circulam automóveis, e sugeriu duas hipóteses de alteração: uma em que o trânsito passa apenas a circular por detrás da igreja, deixando aquela área para usufruto dos peões, e outra em que a área é sinalizada de forma diferente apesar de permitir o trânsito.

Junto ao topo da Avenida D. João IV, na urbanização prevista para as traseiras da estação ferroviária, prevê-se a instalação da estátua de Vímara Peres, chefe militar galego do século IX comummente associado à fundação de Guimarães devido ao seu nome, numa rua com o mesmo nome.

Na primeira intervenção da tarde, António Mota Prego referiu que Guimarães “merece ter peças de arte na rua e não apenas estátuas de homenagem a vultos e acontecimentos” e levantou dúvidas quanto ao uso de microcubo de granito nos passeios, sugerindo que as irregularidades “prejudicam a circulação não no sentido de passear, mas de quem quiser fazer exercício, caminhando mais rapidamente ou correndo”. André Almeida, por seu turno, disse ter dúvidas quanto à conjugação de todos os usos na avenida.

Já Torcato Ribeiro considerou a sinalização em frente à Igreja dos Santos Passos sem a retirada do trânsito uma “melhor solução”, tal como Frederico Händel de Oliveira, que disse ter reservas quanto à circulação exclusiva do trânsito por detrás da igreja.

Em resposta, o presidente da Câmara, Domingos Bragança, considerou que o projeto tenta tirar o máximo partido do espaço disponível na avenida, que não é ilimitado, e defendeu a retirada do trânsito em frente à Igreja dos Santos Passos, apesar de ser preciso estudar como passar exclusivamente o trânsito para a área atrás da igreja sem o congestionar mais. Considerou também que a maioria dos espaços hoje para estacionamento deve ser para cargas e descargas e que é preciso melhor policiamento quando os cidadãos incumprem no uso do espaço público, com delitos como o de estacionar em cima de um passeio.

 

 

“Ampliar as vivências” entre Alameda e Santo António. Falta povo, avisa o público

Em vez de um projeto específico, o estudo prévio para a versão futura do eixo entre a parte norte da Alameda de São Dâmaso, o lado nascente do Toural e a rua de Santo António incluiu uma série de linhas de ação em que sobressaírem duas ideias: nivelar à mesma cota os passeios e as vias para veículo e criar zonas de coexistência, onde carros, bicicletas, transportes públicos e peões têm idêntica prioridade. O objetivo, explicou o arquiteto Ricardo Rodrigues, é o de “ampliar a cidade ao nível das vivências”, reforçando o caráter pedonal da cidade, mas também os seus espaços de jogo ou de convívio. Uma das áreas onde se pode aumentar esses espaços de estar é a da confluência entre a Alameda de São Dâmaso e o Campo da Feira, acrescentou.

As intervenções sobre o tema sucederam-se. António Mota Prego questionou se não seria possível nivelar também algumas das ruas do centro histórico intramuros, como a rua da Rainha, enquanto Torcato Ribeiro lamentou o facto de não se ter discutido mais a fundo a intervenção nesse eixo há uma década, para a Capital Europeia da Cultura, e a possibilidade de uma nova intervenção num prazo tão curto. “Esta questão de subir os passeios passados 10 anos faz parecer que somos um país rico. Mas não somos um país rico. É preciso pensar muito bem no que se faz. Concordo com a obra. Só lamento que não tenha sido feita como deveria ter sido feita na altura”, realçou.

Já Roriz Mendes foi mais crítico de uma intervenção que catalogou de “pouco ambiciosa” e de embelezamento, tendo defendido que a prioridade é a de ter “uma cidade com vida e pessoas”. “A cidade não tem povo. É confrangedor ver as portas e as janelas fechadas em manifestações de rua como as religiosas”. O juiz da Irmandade da Penha referiu também que “o comércio definha”, tendo apontado o dedo às cadeias de supermercado e lojas multinacionais que “crescem como cogumelos”, e criticou o atual paradigma da Alameda de São Dâmaso, sobretudo o piso. “É preciso transformar aquele bosque de cimento em bosque natural”, referiu. Frederico Händel de Oliveira criticou alguns comerciantes pela escassa inovação na forma como promovem os seus produtos – “as montras estão iguais há anos” – e espera que a intervenção acabe com o que designa de “rua dos espertos” – o uso da via a norte da Alameda por automóveis quando só é permitida a transportes coletivos -, e André Almeida voltou a defender o encerramento do trânsito.

Em resposta, Domingos Bragança frisou que é difícil a qualquer cidade travar “a instalação das grandes médias e superfícies”. “Se não as tivermos em Guimarães, as pessoas vão comprar ao Porto e a Braga. Temos é de perceber como inverter esta concorrência não de política de cidade, mas de política económica deste tempo”, disse.

Quanto ao comércio de rua, é preciso fazer “perceber às pessoas que é confortável ir ao centro da cidade” fazer compras. O presidente da Câmara reavivou a hipótese da cobertura para a rua de Santo António, sem esclarecer os moldes em que iria ser instalada. “Que o nosso grande comércio de rua seja o do centro da cidade”, disse.

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