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Barroso da Fonte: “Eu sou o pai da ideia da Biblioteca Raul Brandão”

Redação
Sociedade \ sexta-feira, abril 14, 2023
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João Barroso da Fonte, um transmontano que se apaixonou pela cidade berço, numa conversa que vai da infância e juventude por terras de Barroso

João Barroso da Fonte, um transmontano que se apaixonou pela cidade berço, numa conversa que vai da infância e juventude por terras de Barroso, até à fixação em Guimarães, tendo sido vereador da Câmara Municipal entre 1986 e 1990. Não guarda desses tempos particulares motivos de satisfação, procurando antes salientar a intervenção no jornalismo ou o estudo de algumas das mais marcantes figuras da História local.

 

Tem um extenso currículo na área das letras, seja no jornalismo, na poesia, no romance, ou nos estudos históricos. Ao longo dos anos, parece que nunca parou.

Fui toda a vida aprendiz. Ainda hoje sou. A minha vida é muito cheia, mas cheia de quase nada. Quanto mais se sabe, mais sabemos o pouco que se sabe, como dizia o filósofo.

 

Vive em Guimarães há muitos anos, mas regressa frequentemente à aldeia de origem, às terras de Barroso; sente essa necessidade de manter a ligação?

Sim, gosto muito daquela aldeia. Tem gente doente como tem todas as terras, mas, por exemplo, a minha avó materna morreu com 107 anos! Aqueles ares e aquelas águas dão vida.

Foi aí que fiz a escola primária. Curiosamente entrei na escola primária no ano em que abriu. Escola da própria aldeia porque era o povo que fazia a escola, não era o Salazar. O povo teve necessidade de abrir a escola! Eram muito poucas as escolas primárias e nem todos iam à escola. Os rapazes tinham prioridade. As mulheres eram as sacrificadas.

 

Foi militar tendo sido mobilizado para Angola, na época uma colónia portuguesa.

Fui com 24 anos para a tropa, tendo sido oficial “ranger” e mobilizado para o norte de Angola, para Nambuangongo, do célebre poema de Manuel Alegre. Fui condecorado com o prémio “Governador-geral de Angola” e a “Medalha de Mérito Militar”. Acabei também por fundar o monumento aos combatentes do Ultramar, em Lisboa.

Em Angola continuei a escrever, nunca deixando de ser jornalista, colaborando na altura nos jornais “Voz de Chaves” e “Notícias de Chaves”. 

 

Conta já com 70 anos de jornalismo, numa colaboração que o levou a escrever em diferentes jornais e revistas e sobre temas muito diversos. Além disso também interveio associativamente; porquê?

Em 1976.. foi fundado o Gabinete de Imprensa. Eu tinha sido correspondente de jornais em Chaves, mas esses correspondentes não tinham cartão que os identificasse como tal. Quando vim para Guimarães trazia essa experiência de jornalismo e sabia que só podia ser jornalista quem tivesse uma carteira de sindicato. Eu não era sindicalizado, não podia ter carteira profissional pelo que criei o Gabinete de Imprensa. Falei com o Simão Freitas, o Tavares e o Borges e os quatro fundámos aquilo com o objetivo de pressionar o Governo, acabando por o Secretário de Estado Sousa Brito conceder o “cartão de acreditação”.

O Gabinete de Imprensa foi um sucesso, sendo a primeira associação de imprensa regional, a nível nacional. Por aqui passaram personalidades importantes como Arons de Carvalho ou Marques Mendes, ambos membros honorários.  Organizámos cursos de formação e “ressuscitámos” a revista “Gil Vicente”, depois de o senhor Alves de Oliveira a deixar.

 

Em paralelo com o jornalismo vai escrevendo livros sobre diversas temáticas, tanto em prosa como em verso, contando com várias dezenas de títulos publicados. A que se deve tão extensa produção?

Tenho 64 títulos registados na APEL (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros), livros de várias modalidades. Só não escrevo contos; não são a minha especialidade. Estou a preparar várias publicações e só não publico mais porque não tenho dinheiro.

 

Essa paixão pelos livros manifesta-se de diferentes modos.

Eu sou o pai da ideia da Biblioteca Raul Brandão. Foi no mandato de António Xavier, em 1986, que fizemos um protocolo com a associação do Governo que estava com as bibliotecas de leitura pública. Eu queria antes montar um projeto que já vinha do partido anterior e que era a Casa da Cultura. Não me deixaram. Tinha tudo preparado, mas na Assembleia Municipal votaram contra.

Acabei por falar com a Secretária de Estado da Cultura, Teresa Patrício Gouveia, que prometeu arranjar forma de criar a biblioteca. Falei com Fernando Trigo, Chefe de Divisão da Câmara, e com Capela Miguel, e em 1987 apresentámos a candidatura que foi aceite. Recebemos à volta de 300 mil contos, mas precisávamos de gastar outro tanto numa casa no Centro Histórico. Selecionámos três hipóteses: a Casa de Sarmento, o edifício onde está atualmente o Tribunal da Relação e uma outra, a chamada “serração dos Helenos”. Por diversas razões as duas primeiras foram postas de lado.

 

Interveio na atividade política, mas parece que é algo que não o seduz.

Estive na política e saí de lá desconsolado. Estive no PSD porque é a minha área, a minha família política. Fui militante proposto por Domingos Ribeiro, que me provocou para entrar. Contudo, pelo que vi e pelo que ouvi, fiquei desiludido com a política.

António Magalhães

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