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Em ano de títulos e recordes, manas Jorge acham que podiam “ter feito mais”

Bruno José Ferreira
Desporto \ quarta-feira, janeiro 04, 2023
© Direitos reservados
Francisca Jorge, a melhor tenista portuguesa da atualidade, voltou a sagrar-se campeã nacional, batendo a irmã na final. Com a sensação de que podiam ter feito melhor. Em 2023 querem Grand Slams.

O ano 2022 voltou a ser de sucesso para as tenistas vimaranenses Francisca Jorge e Matilde Jorge. Campeãs nacionais de pares desde 2016, as duas irmãs voltaram a arrecadar o título nacional – o sexto consecutivo –, sendo que na variante de singulares Francisca Jorge sagrou-se Campeã Nacional pelo sexto ano consecutivo, voltando a vencer a irmã mais nova pelo terceiro ano consecutivo. A juntar a isto, Francisca Jorge atingiu a melhor marca de sempre de uma portuguesa em pares ao conseguir dez títulos – oito deles com a irmã –, sendo a tenista com mais títulos de pares no circuito ITF em 2022.

Acabada de chegar do Rio de Janeiro, onde venceu o Torneio ITF de 60 mil dólares, Francisca Jorge, de 22 anos, reconhece que “foi uma boa temporada”, mas fica com a sensação de que, “sem dúvida, por dia ter feito mais”, começa por dizer a tenista. Um balanço em tudo idêntico ao de Matilde. “Acho que podia ter feito melhor”, aponta a jovem de 18 anos, sustentando que subiu no ranking, e conseguiu alguns resultados positivos. “Nas semanas em que estive bem deveria ter estado melhor e tirar o meu máximo”, reconhece. Esta intermitência “é normal no ténis”, crê Francisca, que em nome das duas assume que o objetivo deve passar por “ganhar consistência, mantendo um bom nível ao esbater a diferença entre momentos bons e menos bons”, de forma a igualar os “tenistas de topo, que se destacam por ter poucas descaídas”.

No caso de Francisca, uma recaída de lesão logo na fase inicial da temporada serve de explicação para esta perceção menos positiva da época. Uma época que teve no W25 de Cantanhede o ponto alto a nível de resultados. Matilde admite também que houve um período em que esteve “menos focada” e acabou por sair prejudicada, apontando “a semana no Funchal” como aquela em que conseguiu o seu “melhor ténis” e “estava mais confiante”. Nessa semana, no Funchal, Matilde venceu pela primeira vez a irmã no ITF World Tennis Tour no Madeira Ladies Open.

Pares ou estrangeiro “não é o foco neste momento”

Como exemplo a seguir para o futuro as irmãs que começaram a desenvolver a sua carreira no Clube de Ténis de Guimarães apontam aquilo que conseguiram fazer na variante de pares, ainda que esse não seja o “foco”. Ainda assim, querem transportar para a prática individual. “Os resultados que tivemos em pares mostram o nível a que conseguimos jogar; não deixa de ser muito bom, mas não é o foco neste momento”, assume Francisca Jorge. O “compromisso e a paixão conjunta” estarão na base deste sucesso. Acreditam que, por vezes, sozinhas no court, torna-se mais difícil “controlar as emoções”.

Se pares não é o objetivo, o estrangeiro também não se afigura – pelo menos para já – no horizonte das tenistas vimaranenses. Radicadas em Lisboa, onde integram o Centro de Alto Rendimento (CAR) da Federação Portuguesa de Ténis, acreditam que têm ainda margem de progressão sem sair do país. “Estamos no melhor local em Portugal, com boas condições. Não pensamos em ir para o estrangeiro, acho que temos margem para crescer e progredir cá”, defende Matilde, vice-campeã nacional pelo terceiro ano consecutivo com apenas 18 anos. Os últimos seis títulos nacionais foram vencidos pela irmã mais velha que, de certa forma, concorda que há falta de competitividade em Portugal na vertente feminina.

“Somos poucas meninas a competir e a apostar no ténis. Por alto, de forma arredondada, seremos umas dez, não sei porquê, talvez por falta de ídolos”, aponta Francisca, que dá o seu exemplo: “Ter mais competitividade ajudaria, senti isso em miúda, porque senti-me muito mais competitiva quando comecei a jogar torneios lá fora”.

Por isso, o título nacional deste ano foi “mais um título”. “Não desvalorizando”, ressalva. Com seis títulos consecutivos, Francisca está ainda distante do recorde nacional de treze títulos, alcançados por Leonor Peralta entre 1967 e 1982. “Ainda faltam sete” sorri Francisca, acrescentando que “é exequível”, mas “não é para isso” que trabalha. “Se continuar a participar quererei ganhar, mas não é um objetivo”, complementa, até porque no nível em que já se encontra o Campeonato Nacional não ajuda a subir no ranking WTA.    

“Grand Slams” e “subir no ranking”: os objetivos que se seguem

Fazendo a ponte para o futuro, as tenistas vimaranenses têm já em mente os objetivos para a próxima temporada competitiva. Essencialmente são dois os objetivos: trilhar o caminho que permita participar em Grand Slams – que se consegue através da meta primordial que passa por subir no ranking internacional. A nível individual Matilde ocupa o 639º lugar do ranking e aponta a uma descida de mais de duzentos lugares em 2023. “Penso que chegar ao top 400 no próximo ano já era bom; é ambicioso, mas penso que trabalhando para isso é possível”, crê.

O discurso de Francisca é semelhante. “O objetivo é, sem dúvida, jogar torneios de categoria mais elevada, que consequentemente dão mais pontos e ajudam a subir no ranking. Quero jogar os qualifyings dos Grand Slams”, frisa a irmã mais velha, que admite estar num limbo que exige gestão cuidada da carreira. 296ª no ranking, assume que “podia ser um bocadinho melhor”. “Estou numa corda bamba em que posso jogar alguns torneios um nível acima, mas não me garante quadros principais como os de 25 mil. é uma questão de gestão de carreira, que nem sempre é fácil”, sustenta.

Aqui, a questão de pares – que não é prioritária, como foi referido anteriormente – até pode ter um papel significativo. “Se continuarmos num bom nível, quem sabe seja possível jogar um Grand Slam, talvez até mais rapidamente do que em singulares. Teríamos de jogar torneios mais fortes”, conclui Matilde, deixando essa porta aberta, tal como Francisca. “Ganhámos oito torneios de 25 mil este ano, juntas, já mostrámos que somos competitivas mais acima. Estamos com um bom ranking, eventualmente podemos jogar Grand Slams”, atira. Em pares ou singulares, e sendo porta-voz das duas, Kika acredita que “será possível fazer um bom ano na próxima época: a ideia chave será aproveitar melhor as oportunidades”.

“Rivalidade que puxa pelas duas”, mas que divide lá em casa

Coloquemos de lado a vertente profissional, a realidade é que em court estão muitas vezes no lado oposto da rede duas irmãs com proximidade e cumplicidade visível. Como se gere estas emoções? Como se reage? Vão deixando escapar um sorriso ou outro, mas não ultrapassam a barreira diplomática. “As coisas atacam muito mais no peito quando estou a jogar com ela”, abre as hostilidades Francisca: “Estamos a um nível em que se uma de nós não estiver bem, no seu melhor, a outra consegue vencer”.

E numa final, como a que se registou mais uma vez este ano no Campeonato Nacional? Tarefa difícil a dos pais. “Acho que eles lá no fundo estão pela Kika”, diz Matilde com sorrisos. “Querem que as duas cheguem à final, mas que ganhe a Kika, para manter”, bate Matilde para o fundo do court. Francisca consegue uma defesa limpa, se esticar muito: “Acredito que são neutros; de alguma forma, para me proteger, não se importam quem ganha”. É interrompida por Matilde com uma espécie de subida à rede que diz que já é “normal” ser a mana mais velha a sair por cima.

Nesta discussão aceita-se o empate, que é selado por Francisca Jorge. “Querem que seja enfrentada e, no fundo, não se importam desta rivalidade que puxa pelas duas e ajuda a haver mais competitividade”.

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