Gratidão, exaltação e pedido de desculpas na homenagem Albano Coelho Lima
Quando o extenso pano azul que cobria a escultura de Albano Martins Coelho Lima se levantou, as palmas irromperam pelas mais de 100 pessoas reunidas no novo largo do Pelourinho, em Pevidém: entre elas, contavam-se familiares, dirigentes associativos, trabalhadores passados e presentes da Coelima, a têxtil que foi referência económica e social de Guimarães na segunda metade do século XX, antes da crise que sobre ela se abateu, em 1991, com repercussões até hoje.
Um dos presentes foi o único filho ainda vivo, Adelino Coelho Lima. Aos 88 anos, o seu discurso visitou as inúmeras memórias que guarda da Coelima, boas e más. Em primeiro lugar, mostrou-se grato pela “determinação” da Junta de Freguesia de São Jorge de Selho e pela ajuda da Câmara Municipal de Guimarães no processo de trasladação da escultura, dificultado pela administração do grupo Moretextile. "Lamento a trapalhada a que a administração submeteu a Junta", disse.
Outro dos agradecimentos foi dirigido à comissão de trabalhadores liderada pelo malogrado Acácio Brochado, que, em 1989, decidiram homenagear o seu pai com o busto e a escultura oficialmente entregues ao espaço público neste sábado. “Sem isso não estaria aqui", disse.
Guardou ainda dois obrigados para familiares: destinou um deles ao seu filho Alexandre, arquiteto da câmara municipal que desenhou o projeto de requalificação daquele largo. No outro, lembrou a sua mãe, Belém de Abreu Leite, que também “trabalhou muito” para o sucesso da empresa, constituindo uma “ajuda formidável” ao pai.
A gratidão foi o prelúdio para o ato de contrição face ao que considera a “incapacidade” sua e dos seus irmãos em assegurar a “gestão do legado” do pai. "A propósito de 1991, tenho de pedir desculpas pelo mal que vos causámos, ao não termos garantido a continuidade da empresa como devíamos e por apenas termos lutado para manter a Coelima com as armas que tínhamos", lamentou.
Essa “tristeza” coabita assim com o “orgulho” de ver alguns colegas de trabalho presentes na cerimónia e de confirmar como esses colegas se referem ao seu pai. Reconheceu ainda ter tido um crescimento afortunado, já que pôde estudar como interno num liceu do Porto entre os 12 e os 18 anos, vivendo a “felicidade na formação académica”, ao contrário dos irmãos mais velhos, que tiveram “desde cedo” de ajudar o pai. Além de Adelino, outro membro da família Coelho Lima, o jovem José Manuel, também interveio na cerimónia.
Num ato solene preenchido com as atuações do Orfeão Coelima e com a leitura do poema em memória do fundador da empresa, escrito por Maria Perpétua Campos pouco após a sua morte, falaram ainda o presidente da Junta de São Jorge de Selho e o presidente da Câmara.
Angelino Salazar realçou que a inauguração deste sábado só foi possível graças aos “recursos” disponibilizados pela autarquia, na pessoa de Domingos Bragança, e também ao esforço de André Coelho Lima, bisneto do fundador e deputado na Assembleia da República, para desbloquear o impasse em redor da trasladação da escultura para o espaço público.
“Num dia, tínhamos tudo acordado para iniciar às 14h00 a obra de trasladação. Às 13:00, o acordo ruiu. Pessoalmente, pensei que não seria possível concretizar a trasladação. Às 13:00, o André foi para o Porto para falar com o advogado da Coelima, Marco Ferraz. Às 14:00, ele chegou à Coelima, tendo-se assinado o documento que viabilizou a trasladação", lembrou.
Ainda grato para com o executivo da Junta de Freguesia, Angelino Salazar vincou que era mais do que hora de homenagear devidamente a figura de Albano Martins Coelho Lima. “A comunidade nunca lhe tinha prestado a devida homenagem pública. O senhor Albano é porventura a maior figura da nossa comunidade", realçou.
O autarca usou até o exemplo dos sogros, que tiveram naquela fábrica o único local de trabalho da vida e se conheceram lá, casando depois, para pedir aos “decisores de hoje” que se inspirem no legado construído pela Coelima. “Teve um impacto social, cultural, económico e desportivo muito forte”, descreveu.
Homenagem de Pevidém, mas também dos vimaranenses
"Hoje é um dia muito lindo para Pevidém e para Guimarães. O tempo está a ajudar, mas sê-lo-ia à mesma se não estivesse”, começou por referir Domingos Bragança, na sua intervenção. Ao cumprimentar as várias entidades envolvidas na homenagem, o autarca deixou também uma palavra a “todos os que trabalharam numa empresa que foi um emblema nacional da indústria".
A propósito da celebração do 24 de Junho de 1128 e do legado deixado por D. Afonso Henriques, o presidente da Câmara vincou que, naquela fábrica contígua ao largo, também se construiu “grandiosa obra”, fruto da “humildade”, do “trabalho” e da “visão” de quem a liderava.
Grato pelo empenho de Angelino Salazar na concretização da trasladação do busto e da requalificação do largo, Domingos Bragança frisou que a homenagem é em especial de Pevidém, mas também dos vimaranenses. A Coelima, reiterou, “está no coração” de quem lá trabalhou ou de quem com ela contactou.