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Guimarães bebeu da ciência que luta contra o cancro e ampara os mais velhos

Tiago Mendes Dias
Ciência & Tecnologia \ quinta-feira, maio 12, 2022
© Direitos reservados
A engenharia para implantes nas ancas ou para travar as quedas de idosos concluiu três noites de “casa cheia” no Pint of Science, em pleno centro histórico, onde também se falou sobre cancro.

Mal Nuno Ribeiro terminou a apresentação sobre dispositivos robóticos para prevenção de quedas em idosos, tema do doutoramento na Escola de Engenharia da Universidade do Minho, ao abrigo do programa MIT Portugal, a organização examinou os três dias em que a ciência entrou centro histórico dentro, classificando-os como “melhores do que o que esperavam”.

“Tivemos casa cheia nos três dias, o que é bastante agradável. Dá vontade de organizar outra vez para o ano”, frisa Cátia Carvalho, a propósito da terceira edição do Pint of Science Guimarães, a primeira nos bares da cidade – a pandemia resguardou as duas primeiras aos ecrãs dos computadores.

O roteiro começou segunda-feira na Medieval, Praça da Oliveira, com as intervenções de Nelson Gomes (Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto), sobre o “potencial antibiótico” dos fungos marinhos, e de Elisabete Coutinho (Centro de Física da Universidade do Minho), sobre o uso das “nanopartículas no tratamento do cancro”, antes de seguir para a Praça de S. Tiago, na terça-feira.

No Oub’Lá, falou-se da biologia molecular que origina os cancros, por Carla Abreu (Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, no Porto), e dos seus “potenciais terapêuticos, por Fátima Baltazar (Instituto de Ciências da Vida e da Saúde, da UMinho), antes da conclusão reservada para quarta-feira, no Pholus, com a engenharia ao serviço da locomoção humana.

 

Eletricidade para a anca

Mais de duas dezenas de pessoas acomodaram-se nas mesas, com copo de cerveja à mão, para ouvirem Flávio Bartolomeu e Nuno Ribeiro. Forçado pela covid-19 a mostrar a sua investigação por videoconferência, Flávio discorreu sobre como o homem se pode inspirar no que a natureza faz para criar engenharia “sustentável” e, ao mesmo tempo, “eficiente”, com “soluções inovadoras”.

No seu caso concreto, o investigador do polo de Azurém da UMinho, no CMEMS – acrónimo, em inglês, para Center for Microelectromechanical Systems – abordou os problemas na anca de que padecem, sobretudo, os mais velhos, para apresentar um implante que lhes facilite a mobilidade. O dispositivo em questão tem “estímulos elétricos para manutenção óssea e eliminação de bactérias, a partir de “um sistema nervoso central à base de fios de prata”.

Avisado para o facto de mais de um milhão de pessoas por ano, em todo o mundo, precisar de uma cirurgia para a anca, operação com “tendência para se retardar ao máximo” entre a comunidade médica, Flávio Bartolomeu disse que a tecnologia nunca será implementada em menos de 15 anos, entre testes em “pequenos animais”, “grandes animais” e a concordância dos médicos ortopedistas.

“Um ortopedista, por normal, acha excelente, mas refere sempre que há tempo e que pode não ser boa ideia implantar nos pacientes, porque se resulta e houver outro problema, torna-se difícil remover o implante. Mas é possível puxar para fora este implante”, disse.

 

Dados e mais dados à procura da bengala ideal

Na segunda intervenção da noite, essa sim ao vivo, Nuno Ribeiro falou dos dispositivos robóticos que visam a prevenção das quedas entre os mais velhos, a faixa etária onde as consequências tendem a ser mais graves.

Entre os dispositivos robóticos, encontra-se uma cinta, um andarilho, um relógio a indicar “a percentagem do risco de queda” ou uma bengala, esta última desenvolvida pelo investigador da UMinho. Para se afinarem esses recursos, é preciso recolherem-se dados: o processo vai da simples medição dos batimentos cardíacos até à simulação de trajetórias de queda com recurso à inteligência artificial. Essa simulação é necessária, porque assistir a uma queda é muito improvável.

“Um idoso cai, em média, uma a duas vezes por ano. Mas quando cai é grave. Há muitos custos, muitas lesões”, adiantou, a propósito de ocorrências com maior incidência na Europa Central e do Norte.

O investigador reconheceu ainda que os idosos são, por norma, “relutantes nas experiências” e esclareceu dois dos princípios necessários para uma bengala mais fácil de manusear, embora ainda não experimentada”: “Manter o cano no centro de massa e reduzir a largura para o braço da pessoa não estar sempre esticado”, afirmou.

 

“Mais fácil atrair” público para ouvir falar de engenharia

Alguma da informação prestada surgiu da troca de impressões entre o investigador e o público, facto enaltecido por Ana Costa, também parte da equipa organizadora.  “Foi tudo bastante participativo e houve sempre interação, de forma natural. Há mais pessoas a virem ao Pint of Science”, diz um dos elementos de um grupo formado ainda por Tiago Macedo, Bruno Guimarães e Sara Chaves, coordenado por Ângela Magalhães.

Tiago Macedo vincou igualmente que Guimarães foi capaz de “uma grande afluência”, algo que nem sempre aconteceu em todas as cidades aderentes ao Pint of Science em anos anteriores, como Bragança. E crê que a quarta-feira das engenharias exerceu mais alguma atração sobre um público de fora da universidade em relação aos dois primeiros dias.  

“Guimarães acaba por estar mais ligada às engenharias, por causa do polo que temos aqui. Não há tanto o hábito em Guimarães de receber as áreas da saúde. É mais fácil atrair estudantes e os pais para as engenharias, e mesmo a população em geral”, sugeriu.

O festival decorreu em outras seis cidades portuguesas – Lisboa, Porto, Braga, Coimbra, Aveiro e Guarda -, entre as 800 em todo o mundo, repartidas por 25 países. Nascido em 2012, no Reino Unido, o Pint of Science regressa no próximo ano, a 22, 23 e 24 de maio. Esperam-se mais três dias a brindar à ciência.

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