Já há “fumo branco”: Mabera adquire Coelima
Está aprovada a compra da Coelima pela Mabera. Na votação realizada ao fim de mais de duas horas de assembleia de credores, as empresas Vipetrade, que tem um contrato-promessa para a aquisição de um imóvel da têxtil de Pevidém, e Vizelgraf votaram contra, enquanto o Sindicato Têxtil do Minho e de Trás-os-Montes, como já se sabia, e o Instituto de Segurança Social se abstiveram.
O principal credor, a Caixa Geral de Depósitos (tem cerca de 8,5 milhões de créditos face à Coelima), votou favoravelmente após a Mabera ter prometido cumprir os dois requisitos para esse sentido de voto: disponibilizar no imediato 200 mil euros para salários e outros encargos operacionais e pagar no imediato 30% do valor da proposta, como sinal. Assim, os votos a favor totalizaram 89,1% do total, as abstenções 9,8% e os votos contra 1,1%.
Já se sabia que a Mabera era a autora da mais elevada das propostas em “carta fechada”, ao disponibilizar 3,637 milhões de euros. A aquisição da histórica têxtil de Pevidém pela empresa sediada em Mogege era assim o acontecimento mais provável nesta segunda assembleia de credores. Essa expetativa transformou-se em certeza, apesar das indefinições que pautaram a segunda parte da assembleia de credores iniciada há uma semana.
Na altura em que a Mabera foi escolhida, já o consórcio Felpinter/Mundotêxtil se tinha retirado da corrida, por causa da indefinição sobre votar apenas a proposta mais alta ou todas as propostas. “Temos uma proposta claramente melhor em termos de valor. Não faz sentido nenhum. Retiro a proposta de maneira a que a assembleia e a comissão de credores possa tomar uma decisão mais facilmente. A proposta está retirada”, disse o mandatário do consórcio, Gonçalo Gama Lobo.
Após ser confirmado pelo Administrador da Insolvência, Pedro Pidwell, que a Mabera tinha liquidez para adquirir a Coelima no imediato – 3,918 milhões de euros à ordem no Montepio -, o advogado da Mabera, Moreira da Costa, frisou que a empresa estava disponível a cumprir as duas condições pedidas pela Caixa Geral de Depósitos, apesar de considerar que o pedido não fazia sentido. “É preciso dinheiro para pôr a empresa a trabalhar. A Caixa diz que quer que aquilo funcione, mas quer reter x dinheiro. Não faz sentido. É estagnar dinheiro necessário para a atividade da empresa”, disse.
Decidida a aquisição, a juiz Susana Ribeiro esclareceu que a proposta mantém os 255 trabalhadores da Coelima e “paga as despesas operacionais referentes ao mês de julho”. O pagamento vai ser feito “na escritura de compra e venda de ativos”, a decorrer num prazo de 30 dias e a agendar pelo Administrador da Insolvência.
Impasse nas dívidas ao Estado e uma última tentativa de leilão
No decurso da segunda assembleia de credores, levantaram-se, porém, questões que poderiam ter adiado a decisão final quanto ao destino da Coelima, entre pedidos de suspensão da reunião por duas horas ou de uma última licitação para a aquisição da têxtil, com a Mabera e o consórcio Felpinter/Mundotêxtil a terem oportunidade de aumentarem as propostas.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) pediu a interrupção da assembleia por duas horas para reavaliar as propostas em cima da mesa, face à intenção da Mabera “ajustar a proposta”. O advogado Moreira da Costa disse ter tido conhecimento, a 22 de Junho, que as dívidas à Autoridade Tributária e ao Instituto de Segurança Social ascendem a 700 mil euros, ultrapassando os cerca de 327 mil euros inscritos no processo de insolvência.
Tendo em conta esse facto conhecido nesta semana, a Mabera propôs incluir o pagamento integral dessa dívida nos 3,637 milhões, reduzindo o valor da compra do ativo para cerca de 2,93 milhões. Perante essa hipótese, a CGD pediu a suspensão da “realização das diligências por duas horas”, algo que o mandatário da Mabera considerou “incompreensível”, já que continuava a ser o melhor, e o fez restabelecer a proposta inicial.
Pouco depois, o consórcio Felpinter/Mundotêxtil, autor da segunda proposta mais elevada, no valor de 2,615 milhões de euros, pediu à comissão de credores e ao administrador da insolvência a revisão das propostas com vista a valores mais elevados. A forma de o fazer? Uma licitação em 10 minutos, ganhando o valor máximo atingido, sugeriu o mandatário.
A juiz Susana Ribeiro rejeitou a proposta, e a votação avançou. Mais tarde, Pedro Pidwell assinalou que a “massa insolvente declina qualquer responsabilidade sobre os pagamentos a fazer pela Mabera aos credores do Estado”, ficando esse encargo à mercê da “inteira responsabilidade da proponente”.
Na resposta, o mandatário da Mabera disse que, a “partir do momento em que assuma a gestão da empresa”, a Mabera “vai perguntar à Autoridade Tributária e à Segurança Social o ponto da situação e o que é preciso fazer”, deixando entender que a posição do administrador da insolvência é uma mera consideração e não uma imposição legal.