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Na Oliveira e em Santiago, o toque do Pinheiro foi aperitivo para o jantar

Tiago Mendes Dias
Cultura \ segunda-feira, novembro 29, 2021
© Direitos reservados
A cidade encheu-se de bombos e caixas antes dos rojões e do vinho, quando se prevê a limitação de barulho a partir das 22:00. Presentes defendem evocação da "tradição" com respeito pela segurança.

Em tempos normais, pré-covid, havia quem fizesse da batida das caixas e do troar dos bombos entre as fachadas da Oliveira e de Santiago o aperitivo para os jantares regados a vinho de cada 29 de novembro e quem só vivesse aquele som ensurdecedor no cortejo do Pinheiro propriamente dito.

Em 2021, com o Pinheiro erguido de manhã e o cortejo sem autorização do serviço de Proteção Civil da Câmara Municipal, centenas de pessoas reuniram-se no coração de Guimarães antes dos inúmeros jantares, de gorro sobre a cabeça, caixa a tiracolo e mãos firmes para marcar o ritmo. Era debaixo dos antigos paços do concelho que, por volta das 19:15, o ribombar dos bombos mais alto soava, com uma multidão ali concentrada. O volume ia diminuindo à medida que se caminhava até ao Padrão, onde Vítor Pereira se preparava para juntar ao barulho.

“É um ato de louvar por parte da comissão deste ano. Olhando às indicações das entidades competentes que tutelam as questões da saúde, tiveram a preocupação de tentar evitar a aglomeração das pessoas”, descreve o vimaranense de 28 anos, de lenço tabaqueiro ao pescoço.  “Tentaram, de acordo com as regras emanadas, dar continuidade à tradição, contribuindo, no entanto, para que esse aglomerado de pessoas não aconteça em alturas do dia em que se prevê que as pessoas mais se aproximem”.

Com o número de abertura das Nicolinas ainda condicionado pela pandemia, o antigo aluno da Escola Secundária Martins Sarmento defende que a celebração nem deve ser o “oito”, lamentando que a Câmara não tenha “feito mais para garantir o distanciamento social numa noite ao ar livre”, nem “o 80”. A seu ver, as restrições ao ruído no espaço público a partir das 22h00 devem ser respeitadas. “A partir das 22h00, não temos autorização por parte da Câmara e da Proteção Civil para fazer a festa como é habitual”, diz.

Até lá, Vítor Pereira conta “fazer a festa”, dentro do que a “liberdade lhe permite”. Como os jantares não estão proibidos, vai cumprir a tradição de se reunir com “os amigos do liceu”.

Um pouco ao lado, Carlos André também diz que vai jantar com o grupo habitual de 15 pessoas. Sentado junto à oliveira plantada no largo, com o gorro verde e vermelho que marca este tempo, o antigo estudante de 38 anos afirma que reunir as pessoas no centro histórico antes dos jantares foi “uma boa ideia”, face às restrições em curso. Para o nicolino, a “tradição” deve-se cumprir, ainda que com “as devidas cautelas e o uso de máscara”.

“Acho que as pessoas se estão a portar muito bem, estando relativamente distanciadas. A maioria está com máscara. Deve-se cumprir a tradição de ir jantar, com os devidos cuidados. No final do jantar, se se proporcionar uma situação de segurança para os envolvidos, acho que se deve seguir a tradição, tocar de forma organizada, civilizada e com respeito”, salienta.

 

“É impossível as pessoas não saírem à rua”

Ana Abreu faz uma pausa na sua caixa para umas breves palavras sobre o Pinheiro deste ano. Frequentadora do cortejo desde 1997, quando tinha 14 anos, a antiga estudante já está acostumada a passar pela Oliveira antes do jantar e vincou que um “nicolino vai sempre sair à rua”. “As pessoas vão-se juntar antes e depois do Pinheiro. Temos de estar conscientes que têm de tomar as medidas de precaução. Isto é impossível de não haver. Vai haver sempre. Espontaneamente as pessoas vão-se juntar”, diz.

Face à crença de que é impossível evitar os aglomerados de pessoas na noite de 29 de novembro, Ana Abreu critica a Câmara por não ter preparado um esquema de “policiamento” para supervisionar o cortejo. “Se a Câmara tivesse apoiado a situação, com policiamento, sentir-nos-íamos muito mais seguros. Isto só faz com que seja tudo caótico, o que provoca muitas mais complicações. São milhares e milhares de pessoas que não vão ficar em casa. A Câmara não quis proteger os vimaranenses”, reitera, antes de voltar a pousar as baquetas sobre a pele da caixa.

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