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Numa antiga quinta, abrem‐se horizontes com relvados verdes de esperança

Tiago Mendes Dias
Desporto \ domingo, maio 05, 2024
© Direitos reservados
Há cinco anos no terreno, a Vila Desportiva do Moreirense transforma a antiga Quinta da Devesa para expandir as condições do Moreirense FC. Investimento superior a 7 milhões de euros.

De um verde sem mácula, um pouco mais escuro do que o tom da esperança que identifica as camisolas axadrezadas, o relvado sintético é a referência da Vila Desportiva para o departamento de formação do Moreirense FC. Depois dos dois relvados naturais, ao serviço da equipa sénior desde o final de 2020, o recém‐concluído tapete assinala o cumprimento de mais uma etapa num investimento que já ultrapassa os sete milhões de euros. A equipa sub‐19 pisou‐o pela primeira vez em 23 de março e notou a diferença em relação àquele em que costuma treinar e jogar, instalado há cerca de 20 anos na imediação da bancada central do Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas: é “um relvado novo, de última geração” com material almofadado por debaixo para “não se danificar tão depressa”, resume Henrique Abreu ao Jornal de Guimarães.

Aos 26 anos, é treinador dos juniores e analista da equipa sénior num clube que representara como atleta, entre os quatro e os 19. É, por isso, testemunha de uma revolução que garante “mais espaço e tempo de treino” e “um “trabalho mais pormenorizado” num clube que tinha dois sintéticos, um de futebol de 11 e outro de futebol de 7.

Paulo Mendes, de 35 anos, recorda com mais nitidez o quão diferente era a formação ao recuar até 1998, ano em que jogava pelo emblema da vila: o sintético junto ao estádio era pelado, com dois balneários ao dispor. “Não havia muros de suporte e acessos. Era em terra batida. E havia um pelado mais pequeno acima, onde é o parque de estacionamento”, lembra. Paulo é um dos protagonistas da nova Vila Desportiva: não pelo que é capaz de fazer dentro das quatro linhas, mas pela forma como as dimensionou no espaço que correspondia, de grosso modo, à Quinta da Devesa, já na freguesia vizinha de Guardizela, a cerca de 200 metros do estádio.

Sócio do Moreirense, Paulo é também sócio do gabinete 2MS arquitetos, a par de João Sampaio. Ambos projetaram uma infraestrutura em que resta concluir os arranjos exteriores e o edifício de apoio à formação, esses já em marcha, e edificar um miniestádio para 1.500 espetadores, com relvado natural e um edifício de dois mil a 2.500 metros quadrados, com ginásios, auditórios, salas de conferência, balneários e dormitórios capazes de albergar 30 a 60 jogadores da formação.

 

“Não é dimensionar uma habitação, mas aceitámos o desafio”

O envolvimento de Paulo e de João com a Vila Desportiva remonta a 2017, final do verão. Num encontro com o presidente cónego, Vítor Magalhães, e foram confrontados com uma pergunta aparentemente simples: “Sentem capacidade para fazer um projeto de uma academia?”. A resposta foi afirmativa. “Não é como dimensionar uma habitação, mas aceitámos o desafio”, lembra Paulo. Apresentaram o primeiro esboço meio ano depois; receberam luz verde, com algumas alterações.

As primeiras imagens tornaram‐se públicas em 01 de novembro de 2018, data do 80.º aniversário do Moreirense, e as retroescavadoras entraram em cena no início do ano seguinte. O desbaste da vegetação, a extração de pedra do subsolo e a terraplanagem antecederam a instalação dos dois relvados naturais e das luzes de iluminação, essas já em 2021. “Houve operações de desmonte de pedra com 200 metros de comprimento. Foi a parte com maior custo”, refere Paulo. Esse granito foi aproveitado: está agora nos muros de suporte, vedações, guias dos passeios e baías de estacionamento da Vila Desportiva.

Seis anos depois do primeiro esboço, a empreitada adaptou‐se a novas exigências e extravasa os quase 70 mil metros quadrados da Quinta da Devesa, inicialmente adquiridos. Neste momento, o emblema cónego detém agora mais de 100 mil metros quadrados para um projeto em que o edifício de apoio à formação é testemunha do que foi alterado a meio; os quatro balneários previstos serão, afinal, oito, acompanhados de lavandaria, quatro gabinetes, uma sala de reuniões, um auditório e uma zona separada para os técnicos receberem os pais. As valências atuais resumem‐se aos balneários sob o estádio e a duas salas. “O Moreirense vai ter um departamento de formação autossuficiente, sem ter de passar pelo estádio”, vinca o arquiteto.

 

“Treinar a campo inteiro é fundamental”

Certificada com 4 Estrelas pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), a formação do Moreirense reúne 330 jogadores e 14 equipas, dos petizes aos juniores. Os treinos distribuem‐se por três turnos: o dos juniores, a partir das 17h00, o do futebol de base, às 18h30, e o do futebol de 11, entre os sub‐14 e os sub‐17, das 19h30 às 21h00. Com a Vila Desportiva, perspetiva‐se uma mudança de paradigma em plantéis habituados a repartir os campos. “Com o novo espaço, as equipas poderão ter melhores condições de treino. Treinar a campo inteiro é fundamental”, realça Tiago Machado, coordenador do departamento desde 2021.

Ciente da importância de se treinar “num contexto aproximado do jogo”, o responsável crê que o novo relvado sintético estará pronto para acolher competições oficiais ainda em 2024, enquanto aguarda a conclusão dos balneários.  Sem fixar prazos, o sucessor de Emídio Magalhães e antigo treinador dos juvenis admite que o regresso aos principais campeonatos nacionais é um objetivo, frisando que a Vila Desportiva pode atrair mais crianças e jovens e ser catalisador da formação feminina. “Temos o objetivo dos nacionais. Poderá ajudar‐nos a angariar mais miúdos que nos vão permitir plantéis mais equilibrados e competitivos”, realça.

O timoneiro dos juniores corrobora dessa visão, catalogando o eventual regresso a essas lides como “consequência do trabalho do clube”. “O facto de termos mais condições para treinar e melhores processos de treino pode‐nos levar a recrutar ainda mais miúdos. O entusiasmo para o treino ao verem condições tão boas será diferente”, diz Henrique Abreu, em jeito de projeção.

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