Shortcutz Guimarães: “reaprender” com casa cheia no regresso do cinema
Nervoso miudinho, limpar o pó das cadeiras, da maquinaria e baixar a tela. Esta quarta-feira o cinema voltou a ser motivo de reunião no Largo da Misericórdia, no coração de Guimarães, para mais uma sessão do Shortcutz, a mostra de curtas-metragens do Cineclube de Guimarães que vai na sexta temporada.
A pandemia fez das suas nesta área, desde dezembro que este evento não se realizava, mas as tréguas levam a que se pudesse sair da trama Covid-19 para outras peliculas, outros registos. Um regresso “bonito para todos”, segundo Samuel Silva, coorganizador desta iniciativa, juntamente com Luísa Alvão.
“Estávamos há quatro meses sem fazer sessões, sem nos encontrarmos, parecia que, de repente, estávamos a reaprender a fazer algumas coisas”, desabafa Samuel Silva ao Jornal de Guimarães, transmitindo o “momento de felicidade poder estar naquela sala”.
Pode dizer-se que foi um regresso de sucesso, com lotação esgotada, mesmo tendo em conta as normais restrições nesta fase, com necessidade de pedir a algumas pessoas para voltar para trás.
“Sabe pela vida ver as imagens projetadas”
Pelo feedback que teve, Samuel Silva não tem dúvidas que este foi um momento positivo para todos os envolvidos. “Percebemos que as pessoas estavam com a mesma vontade que nós tínhamos de voltar a uma sessão, a ver curtas-metragens e voltar a conversar sobre cinema. A sessão podia até ter sido mais longa se não tivéssemos o constrangimento do horário de encerramento. As conversas estenderam-se, e estávamos todos com vontade de conversar sobre o tema. Foi uma noite muito importante e marcante, para nós, para os realizadores, para o público, para todos”, reconhece.
Esta é, de resto, uma ideia corroborada por Eduardo Brito, vimaranense que viu duas das suas curtas-metragens participar na edição 63 do Shortcutz. Úrsula e La Ermita, de Eduardo Brito, juntaram-se a Filomena (Pedro Cabeleira) e Balada de um Batráquio (Leonor Teles) nas curtas exibidas.
“É ótimo, muito bom poder estar nas salas com o público em interações, neste caso não numa sala de cinema propriamente dita, mas aproximado. É muito bom este espaço de partilha, ter cinema de novo após o confinamento é realmente bom. É claro que estamos todos contentes por ver de novo a imagem projetada, sabe pela vida”, aponta Eduardo Brito.
Streaming, horários e receio geram desconfiança
Uma visão um pouco diferente da defendida por Carlos Mesquita, presidente do Cineclube de Guimarães, que olhando para o fenómeno de forma mais abrangente mostra preocupações referentes aos efeitos que a pandemia pode ter nesta arte. O receio das pessoas, os horários e o streaming geram desconfiança.
“O Cineclube retomou a sua atividade na semana passada. Claro que ficamos satisfeitos por isso, mas há fatores a ter em conta. Tivemos muito menos público do que o habitual, o Cineclube é conhecido como qualquer outro Cinceclue, embora não se dedique só a essa atividade, tem mais atividades como a fotografia ou a música”, começa por reportar.
Depois do enquadramento, Carlos Mesquita aponta aquilo que se alterou: “Desde a pandemia as pessoas têm receio. Temos tido gente, números que se calhar até são bons dado o panorama, mas para o que estávamos habituados não. Outra questão são os horários. Estamos a fazer as sessões às 19horas, mas Guimarães não tem essa tradição. Depois Filmes produzidos para ser reproduzidos em sala transitaram para as plataformas streaming, essencialmente a Netflix. São fatores a ter em conta quando se olha para este movimento ou, neste caso a falta dele”, sublinha.
Um filme galardoado nos óscares, Nomadland, servirá de teste em maio, possivelmente já com a permissão para adotar outro horário. A ideia é que a retoma seja efetiva também neste setor.
Fotografia: Sara Sofia Gonçalves