Teatro Coelima: há 45 anos, o sol erguia-se na “floresta”. Hoje é no Miral
Rui Pedroso Fernandes é incapaz de esconder o “sentimento de dever cumprido” e o “imenso orgulho”, até, pelos 45 anos do Teatro Coelima enquanto “agente cultural” da vila de Pevidém e do concelho de Guimarães. “Começou oficialmente em 1977 como Grupo de Teatro do Centro Cultural e Desportivo da Coelima. Aliás, ele deriva até de um grupo informal que existia. Como a Coelima tinha uma atividade cultural enorme, absorveu também o grupo de teatro”, diz o encenador ao Jornal de Guimarães, recuando aos primórdios.
Nesse Portugal recém-acordado para a democracia, a peça Sol na floresta foi a estreia de um coletivo com “atividade ininterrupta”. Protagonizadas centenas de representações e dezenas de carnavais, para lá de um par de celebrações do Natal – “Pevidém, Vila Encantada” – e de outros eventos, o Teatro Coelima assinala um aniversário redondo com “Mais 5 depois dos 40”, evento que compreende três peças de teatro.
A abertura estará a cargo da companhia gondomarense Não Cabe Mais Ninguém, com As presidentes. Estreada em 1990, em Viena, a obra do dramaturgo austríaco Werner Schwab, com adaptação dramatúrgica e encenação de Paula Castro, recupera a “tradição austríaca da comédia negra”, com uma linguagem repleta de neologismos, a oscilar entre a paródia e a poesia.
Esse espetáculo, marcado para as 22h00 desta sexta-feira, precede Condenadas, mas pouco!, marcada para sábado, também às 22h00. Produzida pela associação cultural lisboeta Farrapo d’Arte, a encenação de Marisa Carvalho leva ao palco as atrizes Marina Albuquerque e Paloma del Pilar para encarnarem uma mãe e uma filha que são reclusas. No domingo, às 17h00, é a vez da comédia Happy Pandemic, com coreografia de Sara Lobo Rocha e interpretações de Júlio Oliveira, Cristina Briona e Luís Marques, se apresentar. Os três espetáculos vão decorrer no Salão Paroquial de Pevidém, com um preço geral de cinco euros e preços diários de dois.
Para Rui Pedroso Fernandes, esta celebração coroa o trajeto de um grupo que “se foi reinventando”, não denominando o evento de “Mais 5 depois dos 40” por acaso. Depois de quatro décadas sob a tutela do Centro Cultural e Desportivo da Coelima, o Teatro Coelima criou a sua “própria natureza jurídica” com a associação Sol no Miral, precisamente a rua em que trabalha – o grupo utiliza as instalações da antiga Ditel, em frente às instalações da fábrica têxtil, e o pavilhão da Coelima. “Criámos uma nova natureza jurídica, em virtude da situação da empresa a que estávamos ligados. A Coelima estava com problemas financeiros”, lembra.
Centro de criação e produção teatral é ambição
Com a “autonomia jurídica”, o coletivo pevidense abriu “horizontes”, deixando de ser um mero “grupo de teatro”. “Passámos também a ser uma estrutura de criação e de produção de eventos culturais”. Encenador há 20 anos, Rui Pedroso Fernandes enaltece sobretudo o papel da Sol no Miral para a dinamização cultural do território, principalmente na era pandémica: os canais digitais mantiveram à tona as celebrações do Carnaval e do Natal, levando a representação aos utentes de cinco lares no concelho, uma faixa da população particularmente afetada pela covid-19.
“Os utentes dos lares, fortemente fustigados por esta crise, tinham pelo menos um dia à tarde em que assistiam a espetáculos de teatro na televisão. Não nos esquecemos deles. Levámos lá umas performances artísticas, que lhes davam umas horas diferentes à tarde”, detalhou.
O trabalho dos últimos cinco anos acarreta responsabilidades para o futuro. E esse futuro exige “um centro de criação e produção artística”, vocacionado para o teatro, esclarece o agente cultural. Embora longe de formalizado, esse projeto pode vir a instalar-se na fábrica do Alto, tendo em conta o anúncio já proferido pelo presidente da Câmara Municipal, Domingos Bragança – parte da antiga têxtil para a academia de transformação digital e outra parte para as associações da vila.
“Não temos uma infraestrutura”, nota. “Estamos com instalações cedidas há muitos anos. Agradecemos à nova administração da Coelima por nos deixar ocupar o espaço que temos ocupado ao longo destes anos, na antiga Ditel e no pavilhão da Coelima. Aquando da implementação da fábrica do Alto, acreditamos que poderemos ficar lá”, acrescenta.
Essa pretensa infraestrutura pode “envolver” mais o público jovem e o público das escolas, para além de colmatar as “limitações técnicas” do salão paroquial de Pevidém para as artes performativas.
Amador na sua essência, o Teatro Coelima tenciona regressar o quanto antes às digressões por festivais em Portugal e em Espanha, bem como apresentar a sua próxima encenação, baseada na vida de Miguel Oliveira, piloto de motociclismo. “Temos espetáculo preparado com a autorização dele e da editora dele, para descrevermos momentos da vida dele, sobre como é que se faz um campeão. Esperemos ter esse espetáculo preparado até novembro”, adiantou.