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Com romance e conspiração, ópera recorda luta pelo voto feminino em 1911

Redação
Cultura \ quinta-feira, novembro 23, 2023
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Subversão da história real de Carolina Beatriz Ângelo, primeira mulher portuguesa a votar, “A conspiração da igualdade” recorda esforço pelo voto feminino e propõe versão alternativa da história.

O segundo capítulo da tetralogia operática sobre quatro constituições portuguesas envolve conspiração e envolve romance entre Carolina Beatriz Ângelo, primeira mulher portuguesa a votar, em 1911, e referência na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, e Luz de Almeida, republicano e fundador da Carbonária, organização secreta e armada ligada à Implantação da República.

Os intérpretes dessas duas personagens, ambas ligadas à maçonaria – Inês Constantino e Ricardo Rebelo da Silva, da Companhia de Ópera de Setúbal – apresentaram uma dessas árias no sábado, na Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense (ASMAV), um dos palcos da apresentação de “A Conspiração da Igualdade”, ópera em torno da Constituição de 1911, com música de António Vitorino d’Almeida, encenação de Jorge Salgueiro e libretto de Francisco Teixeira.

“Esta história é romanesca. Não houve romance entre Carolina Beatriz Ângelo e Luz de Almeida. Não houve conspiração da loja Humanidade [de Carolina Beatriz Ângelo] contra a loja Montanha [de Luz de Almeida], mas eles historicamente fizeram parte dessas lojas. É história contrafactual: como teria sido a história se houvesse um romance entre eles, uma conspiração”, resume o autor do libretto e presidente da ASMAV.

Depois da apresentação de “Mautempo em Portugal”, relativa à Constituição de 1822, o segundo capítulo da tetralogia operática da Associação Setúbal Voz estreia-se na cidade do Sado em 01 de dezembro e sobe ao palco do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) em 22 de dezembro, no âmbito da quinta edição do Festival de Canto Lírico de Guimarães. No coração dessa proposta artística, está a luta pelo voto e pelo sufrágio feminino na sequência da Implantação da República, encarnada por Carolina Beatriz Ângelo.

“Uma das questões em aprovação era se caberia ou não na Constituição o voto para as mulheres. Embora os membros do diretório do PRP tenham prometido às mulheres da Liga Portuguesa das Mulheres Republicanas, a verdade é que, quando a Constituição foi aprovada, as mulheres não apareceram com direito a voto no sentido específico”, explica Francisco Teixeira.

Ao ver, porém, que a lei designava, como condições para o voto, ser-se maior de idade, saber ler e escrever e ser chefe de família, Carolina Beatriz Ângelo foi votar nas eleições de 28 de maio de 1911 para a Assembleia Nacional Constituinte; afinal o marido, Januário Gonçalves Barreto, morrera no ano anterior e, enquanto viúva, era de facto a chefe da família. A comissão recenseadora rejeitou-lhe o direito a votar e o ministro interino da Administração Interna, António de Almeida, indeferiu-lhe o voto, mas o juiz de instrução para quem recorreu posteriormente, João Baptista de Castro, deu-lhe razão.

Médica obstetra, Carolina Beatriz foi então votar “sob o apupo das pessoas presentes, particularmente dos homens”, e o direito ao voto seria interdito às mulheres na lei eleitoral de 1913. Em “A conspiração da igualdade”, dá-se, porém, uma subversão da história factual e emerge uma conspiração da loja Humanidade, feminina, contra a loja Montanha, masculina, e um romance onde Carolina tenta convencer Luz de Almeida a influenciar a aprovação do voto feminino. “Luz de Almeida fica dividido entre o amor por Carolina e o compromisso com a loja maçónica, com os republicanos machistas. Carolina, entretanto, também se apaixona por ele. Há um conflito amoroso e político”, refere o autor do libretto.

Capaz de “mostrar como os homens republicanos enganaram as mulheres na história e como, romanescamente, as mulheres poderiam ter conseguido o voto noutras circunstâncias”, a ópera também se distingue pela música “mais abstrata, contemporânea e vanguardista” face ao primeiro capítulo, apontando “novos modos de relação entre a música e a palavra”, diz Francisco Teixeira.

A tetralogia operática prossegue com “A evolução dos cravos”, espetáculo referente à atual Constituição da República Portuguesa, de 1976, e “2030 – a nova ordem”, ópera de cariz distópico, relativa a uma eventual constituição não democrática, ambos com apresentação prevista em 2024.

 

* Atualização às 11h26: a primeira Constituição portuguesa data de 1822 e não de 1834, como inicialmente escrito. 

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